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Um papel em branco… Sem assunto

Escrever sobre não ter sobre o que escrever. A que ponto chegamos. A que ponto a nossa rotina nos fez estar a todo momento sendo bombardeados de informações, mas ainda assim não ter assunto para escrever.

Levanta, faz um chá, acaricia o gato e lava o rosto. Sem assunto.

Liga a televisão. Muitos assuntos. Assunto ou noticia (ponto de interrogação).

Escrever sobre: não ter sobre o que escrever. A que ponto chegamos. A que ponto a nossa rotina nos fez estarmos todo momento sendo bombardeados de informações e notícias, mas não ter assunto para escrever.

Podem dizer: “escreve sobre a greve dos caminhoneiros, o preço do diesel. Ou sobre a alta do dólar.” Não. Não só porque não é o estilo de texto ou lugar, mas sim porque não precisa de mais um falando sobre isso. Me parece que escrever sobre esses temas quando estão em alta se iguala aos fatídicos diálogos de elevador: “frio hoje né” (ponto de interrogação), “tempo maluco esse de são Paulo”.

Mas também não posso me colocar o peso de trazer segredos e reflexões da humanidade como temas todos os meses. Caso contrário caímos no velho clichê.

Solução (ponto de interrogação). Ou seja, sobre o que escrever então, já que todos os possíveis temas ou são conversas de elevador ou clichês (ponto de interrogação). Escrever para quem (ponto de interrogação). Não sei. Não sei se essas perguntas têm respostas. Aqui não tenho a pretensão de respondê-las, aliás, não tenho a pretensão de dar nenhuma resposta de nenhuma natureza. Quando questionada em uma entrevista sobre o porquê escrever, Clarisse Lispector responde: “e eu sei (ponto de interrogação)”. Se ela não sabe, o que dizer de mim.

Causada pela atual circunstância em que me encontro, perceptível até no meu vocabulário, me vejo inclinada a escrever sobre temas colocados como nobres. Sejam eles: política, filosofia, literatura. Moldando-se ao enquadramento da coluna, ou seja, a universidade, mas mesmo assim escrever sobre temas datados como nobres. Porém a rotina me mostra que esses temas nobres não se fazem tão relevantes assim, já que todas as mesas de restaurantes na hora do almoço discutem sobre quantas horas ficaram em uma fila de um posto de gasolina. Por isso, esse texto, é em homenagem a ela, rotina.

A rotina de um universitário que trabalha de manhã e estuda de noite é formada por dezesseis horas de produtividade, mesmo que aparente e que satisfaça a expectativa social. Isso de segunda à sexta. Sábado e domingo, estudos para prova, namoro, família, amigos. Talvez nem todos no mesmo final de semana, ou até no mesmo mês. Mas sempre em mente como objetivos e compromissos.

Com isso o papel de quem escreve um texto no mínimo interessante e digno de cinco minutos de qualquer um é achar as pequenas brechas dos comportamentos rotineiros que nos fazem questionar a nós próprios e a realidade que estamos inseridos.

O papel em branco tudo aceita, pacientemente. Até o escritor cansado de encontrar um tema digno, nobre, clichê ou noticiado nos jornais para escrever um texto mensal, se rende ao mais verdadeiro diálogo ou monólogo sobre a rotina (dependendo do ponto de vista). Esta, que parece sempre a vilã de tudo e de todos, é homenageada e presenteia o escritor com uma massagem no ego e o texto que tanto estava apreensivo por escrever.

Beatriz Alves Ensinas é Estudante de Direito na PUC-SP, estagiando na área e em São Caetano do Sul, São Paulo. Depois de três anos contribuindo na coluna “De adolescente para adolescente”, iniciada por ela e depois tendo a parceria de Bruno Sales, a partir de agora ela é responsável pela coluna “De Universitário para Universitário”.
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