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Sobre preservar a vida e construir a paz consigo

Quando se utiliza o mecanismo de construção da realidade fundamentado no trio: vítima-vilão-herói, a causa e o feito podem servir como entorpecentes. Mas é plenamente possível viver sem ele!

Há também o que chamo de suicídio programado. São exemplos: pessoas que mantêm comportamentos agressivos para motivar brigas ou aquelas que sustentam vícios com a expectativa de descobrir o limite até a última dose. Trago duas perguntas que procuro fazer: O que lhe move até esta situação? O que há de tão prazeroso por lá que lhe faz querer voltar? As respostas trazem os padrões: “Naquele momento consigo um contato comigo”; “Fico sem os controles que me obrigo a ter”; “Quando tudo passa a confusão retorna”.

Como compreender, aceitar e perdoar aquilo que não gostamos dentro de nós? Acredito que esta resposta é lapidada durante toda uma vida. Aos poucos, é possível identificar e tornar nítido o que nos maltrata e o que provoca o efeito de autoabandono. A linguagem é um meio para verbalizar e caminhar na direção da cura e do querer preservar a vida. Construir e manter a paz consigo torna-se um exercício permanente.

Com menor complexidade junto ao presente tema e não menos importante: existem outras demandas que nos distanciam da paz pretendida. Há pessoas que procrastinam a vida e mantêm-se avessas a qualquer planejamento. Quando o problema torna-se urgente, por exemplo, mostram-se como vítimas à procura de um herói ou agem no limite e acabam por alcançar as soluções pedidas. Algo como: acreditar em falsas dietas para emagrecer; estudar em cima da hora, não alcançar a pontuação necessária e ir até o professor e ou aos pais para falar sobre o ocorrido; entregar um relatório no prazo correto ao líder, porém, feito poucas horas antes. Respectivamente, seguem respostas a serem exploradas: “Ainda me deixo levar e acabo comprando esses remédios que dizem ser para perda de peso”; “Sei que sou capaz de ser aprovado, mas aguardo a bronca… Sei também que depois dela vem o carinho”; “Deixo para a última hora, pois mostro a mim mesmo que consigo resolver há qualquer momento. Acabo me conhecendo, mas isso vem pelo lado ruim”.

Quando se utiliza o mecanismo de construção da realidade fundamentado no trio: vítima-vilão-herói, a causa e o feito podem servir como entorpecentes. É plenamente possível viver sem ele, para tanto, há necessidade de treino e perseverança. Afirmo que a prontidão a si mesmo é o maior resultado a ser alcançado. Com o distanciamento do trio: a paz consigo possibilita um viver de escolhas equilibradas entre o certo e o constante aprendizado. Entendendo que os autoenganos muitas vezes ocorrem porque guardam-se e utilizam-se caminhos já percorridos e que nada mais agregam ao presente.

A vida pode nos parecer tirana. Nela há perdas que nos marcam profundamente. Perdemos entes queridos. Perdemos grandes amores. Perdemos empregos duramente conquistados. Perdemos papéis e um pouco de nós a cada momento que está no passado. Lembrar e recordar com gratidão e aprendizado possibilitam novos recursos para novas escolhas. Ficar preso no passado causa o não-viver no presente. Há momentos que temos que ir para frente e deixar no passado aquilo que queríamos no agora. Aprendi que a dor vai chegar com mais ou menos tempo e que isso faz parte da vida. Aprendi também que sofrer por ela é uma escolha.

A vida pode nos parecer bela. Ela possibilita ganhos que nos marcam a alma. Vivenciamos momentos que duram segundos e que nos parecem horas; esses capazes de fazer valer toda uma existência. Ao comemorá-los: determinamos em nossos corações a importância das emoções sentidas e estas circulam por todo nosso o corpo. Somos capazes de lembrar cheiros, olhares, lugares que nos enviam diretamente àquilo que nos cativou: assim, o espaço-tempo recebe outra interpretação e alcançamos a sensação de tempo parar.

Aceitar a vida como ela é não é uma tarefa fácil. Simplesmente acabar com ela também não. Vivê-la deixando levar-se pode causar o distanciamento do equilíbrio daquilo que somos e parecemos ser. Assim, o que fazer? Deixo uma frase vinda da sabedoria popular para ajudar na construção da resposta: “Cada um sabe onde o calo lhe aperta”. Quando o perigo e o medo chegarem: mantenha-se agrupado e protegido; perceba que a natureza age com esta organização. Busque abrigo e aconchegue-se junto aos que lhe amam: certamente aparecerá – no formato adequado – aquilo que necessita para sentir, entender e fazer consigo.

Leandro Alves da Silva é Gerente de Desenvolvimento Humano Organizacional na First Peopleware e atua desde 2011 em Coaching-Mentoring-Counseling, palestras e treinamentos customizados. Doutor em Educação pela FEUSP e Master Coach pelo BCI.
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