
Se Tudo Der Errado, Viro CLT:
Os Desafios e Percepções do Trabalho com Carteira Assinada na Nova Geração
Olá,
Estamos em meio a uma crise dos modelos de trabalho. Nos últimos dias, o debate sobre empregos CLT ou a vida empreendedora se intensificou. Parte desse movimento foi motivada pelo podcast “o Assunto” e pelo programa documental da Globo News “Viração”. Ambos mostram o dia a dia de pequenos empreendedores que optaram por trabalhar assim em vez do modelo carteira assinada.
A verdade é que vemos hoje um anseio por novos modelos. Ao mesmo tempo, o sustento do dia a dia é extremamente desafiador. Temos hoje no Brasil, 39 milhões de profissionais com carteira assinada. Não podemos esquecer que essa condição foi conquistada pelo trabalhador com a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) criada em 1943. Ela regula as relações trabalhistas e os benefícios legais de férias remuneradas, 13° salário, FGTS, licenças remuneradas, seguro-desemprego, licença maternidade e paternidade e outros benefícios atrelados à posição.
Em meio a essa discussão, está em cartaz o interessante filme “Entre Mundos”. Nele, uma escritora, personagem da atriz Juliette Binoche, se faz passar por uma profissional da classe operária francesa. Ela passa a ter seu dia como funcionária de uma equipe de limpeza para que possa escrever seu próximo livro. O dia a dia desses trabalhadores é extenuante, com jornadas longas, dificuldades de transporte e um suado retorno financeiro que mal cobre as despesas. Essa é a realidade do trabalho operário.
Muitos dos jovens têm rejeitado esse modelo.
Para eles, a “CLT” representaria falta de liberdade, longos deslocamentos, horários e chefes exigentes em contrapartida ao sonho postado nas redes sociais onde é possível empreender e ganhar dinheiro na internet. Será?
No podcast, Wagner Guilherme Alves da Silva, antropólogo e pesquisador do DeepLab da Universidade de Dublin, explica a rejeição ao emprego formal. Ele relata que cresce, na Irlanda, a rejeição de parte dos trabalhadores à CLT tem crescido ao longo dos anos. E, para muitos jovens e crianças, ter um emprego fixo virou um fracasso e sinônimo de perrengue.
Muitos adolescentes têm adotado a fala “Vou estudar para não virar um CLT”. Isso tem assustado muitas famílias que se sustentam e educam seus filhos justamente por terem empregos fixos. Há assim, entre os jovens, a ideia de que ser CLT é algo ruim e que ser CLT é ser fracassado. Já o trabalho sem vínculos empregatícios, traz mais flexibilidade e livra o trabalhador de trânsito, broncas e outras mazelas da vida cotidiana.
Infelizmente, a ideia de que os empregos pagam mal e estão ligados à exploração das classes menos favorecidas é arraigada na sociedade.
Essa percepção remete à cultura da escravidão, como explica a antropóloga Rosana Pinheiro-Machado, pesquisadora das transformações no mundo do trabalho. Essa realidade também é mostrada no filme “Entre Mundos”: o sacrifício, a má remuneração e a falta de alternativas.
Para quem está chegando agora a essa realidade, pode parecer o pior dos mundos. Mas a verdade é que o mundo do trabalho, apesar de ter muito a evoluir, já conquistou muitos direitos.
“Se tudo der errado, viro CLT: o que está por trás da aversão dos jovens ao trabalho com carteira assinada?” traz contextos como o de Erick Chaves, de 19 anos, conhecido como “Kinho” no TikTok. Ele se se lançou na Internet e diz que cresceu vendo os pais querendo apenas descansar no fim de semana porque estavam cansados da semana de trabalho. Quem nunca?
Diante disso, muitos adolescentes e jovens adultos têm desistido da vida escolar e acadêmica em busca de sucesso fácil – uma ideia vendida por influenciadores digitais.
Paulo Fontes, professor do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), destaca que a busca por mais autonomia e flexibilidade é legítima. No entanto, não é atacando a CLT que esses direitos serão conquistados, e sim, pelo caminho oposto.
Há uma tendência crescente a rejeitar o modelo e a busca por novas modalidades, como autônomos, freelancers ou contratados como Pessoa Jurídica (PJ). Porém, não podemos esquecer que a informalidade traz precariedade das condições de trabalho e redução dos direitos assegurados por lei.
O “movimento sem CLT” (ou o movimento contra a Consolidação das Leis do Trabalho) reflete uma tendência crescente de rejeição à contratação formal, com carteira assinada, e um aumento de trabalhadores no Brasil optando por diferentes modalidades de trabalho.
Essa tendência é impulsionada por vários fatores, como a busca por maior flexibilidade, maior autonomia e, em alguns casos, a percepção de que o trabalho formal não garante uma qualidade de vida satisfatória. Soma-se a isso ambientes de trabalho tóxicos e cheios de exigências.
As alternativas, como “pejotização”, ou seja, a contratação através de uma pessoa jurídica pode ser uma forma comum de evitar a formalização da relação de trabalho. No entanto, nem sempre a prática beneficia o colaborador, que muitas vezes mantém a mesma rotina sem os benefícios.
Vários fatores influenciam esse movimento. Há um anseio por resultados imediatos, uma certa aversão a tudo que exige adaptação e sacrifício. Além disso, a influência das redes sociais que exibe uma vida aparentemente mais fácil para empreendedores e freelancers. Soma-se ainda a ideia de que a cultura de trabalho tradicional é burocrática, limitante e pouco inovadora, vista por muitos como exploradora.
Esse cenário pode ser um desafio para a economia com o aumento da informalidade e redução de impostos e, por outro lado, trabalhadores com pouca experiência formal e falta de desenvolvimento profissional.
É preciso adaptar a educação e a formação, tornando-as mais atrativas para os jovens. Também é fundamental inovar nas políticas de trabalho e na cultura empresarial para lidar com essa crise de confiança no emprego formal.
Esse talvez seja o maior desafio do mundo do trabalho atual: conciliar os anseios das cinco gerações inseridas nesse contexto. E implementar inovações para os que estão entrando no mercado.
Como fazer isso? Ainda está em discussão, mas é urgente.
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Quer saber mais sobre como a visão dos jovens sobre a CLT revela mudanças culturais nas relações de trabalho — e quais os riscos e oportunidades do “se tudo der errado, viro CLT”? Entre em contato comigo. Terei o maior prazer em ajudar!
Mônica Barg
https://www.monicabarg.com.br
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