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Reinventar o Trabalho: Como Honrar Direitos em Tempos de Liberdade

O modelo tradicional de trabalho está em xeque. Descubra como reinventar o trabalho e transformar as relações de trabalho, unindo direitos, liberdade e flexibilidade, com foco em home office, autonomia, bem-estar e novas culturas organizacionais.

Reinventar o Trabalho: Como Honrar Direitos em Tempos de Liberdade

Reinventar o Trabalho: Como Honrar Direitos em Tempos de Liberdade

Um emprego com carteira assinada já foi o segundo maior sonho de uma mãe brasileira para o filho. O primeiro era uma vaga no funcionalismo público. Desse tempo (não tão distante) para cá, muita coisa mudou no mercado de trabalho. “Ser CLT” já não é mais visto como vantagem tão pouco como sonho, pela maioria dos brasileiros. Aliás, os números até impressionam, já que pesquisas recentes indicam que, entre os mais jovens, há mais gente querendo abrir seu próprio negócio do que ter a carteira assinada.

As críticas são antigas, desde a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), criada em 1º de maio de 1943, durante o governo de Getúlio Vargas. Se de um lado foi considerada uma conquista histórica dos trabalhadores brasileiros, representando a formalização de direitos fundamentais, como jornada máxima de trabalho, férias, décimo terceiro salário e proteção contra demissões arbitrárias, por outro foi vista como uma ferramenta de engenharia social e política, reforçando o poder e a popularidade de Vargas, criando um formato que ainda hoje influencia a forma como o trabalho é percebido no Brasil.

É sempre necessário — e talvez agora seja urgente — revisitar os modelos que nos trouxeram até aqui e repensar os arranjos que queremos levar adiante. Especialmente em um momento de transformação acelerada nas relações de trabalho.

O regime CLT, na forma como está estruturado e praticado por muitas organizações, tem se mostrado cada vez mais desalinhado com os valores emergentes.

Rígido, hierárquico e muitas vezes opressor, ele tem sido visto não como um espaço de proteção, mas como um sistema que limita a autonomia e impõe formas ultrapassadas de controle. A crítica, portanto, não é sobre os direitos conquistados — que são valiosos — mas à cultura organizacional que frequentemente os acorrenta a práticas autoritárias e à falta de liberdade.

Diante disso, muitas pessoas têm feito uma escolha ousada: abrir mão da “segurança” formal em busca de algo que consideram ainda mais valioso — liberdade. Empreender, para esse grupo crescente, não é só sobre abrir um negócio ou inovar. É sobre ter domínio sobre a própria vida, tomar decisões com autonomia, criar novos ritmos e não ter um chefe dizendo como e quando viver.

É um movimento que, ainda que cheio de riscos e incertezas, nasce de um desejo legítimo por protagonismo e coerência entre trabalho e existência. Não se trata de idealizar o caminho, mas de reconhecer que ele representa uma resposta real a um modelo que já não serve para todos.

Isso vem em um momento em que as mudanças acabaram atropelando qualquer planejamento, como foi o caso do trabalho remoto, intensificado pela pandemia de COVID-19. De forma geral, ele se revelou não apenas viável, mas, em muitos casos, mais produtivo. Um levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP) apontou que a produtividade de profissionais em home office cresceu até 13% durante os anos de 2020 e 2021. Outro estudo, da Global Workplace Analytics, indica que empresas que adotaram modelos híbridos ou remotos registraram redução de custos operacionais e aumento de satisfação dos funcionários.

A experiência do home office desfez o mito de que liberdade compromete a produtividade.

Pelo contrário: a liberdade permite que o trabalhador administre seu próprio tempo, organize melhor sua rotina e concilie trabalho com vida pessoal — como participar de uma reunião escolar ou cuidar da saúde física e mental.

Isso não significa ausência de compromisso, mas uma mudança que pode ser muito positiva para todos. Uma mudança em que o foco deixa de ser o controle do tempo de permanência e passa a ser o resultado gerado. E, dessa forma, integrar o aprender, o viver e o trabalhar.

Apesar disso, muitas empresas ainda insistem em retornar integralmente ao modelo presencial. Justificam sua decisão com argumentos como a perda da cultura organizacional ou a queda de engajamento. Sim, há pesquisas que sustentam essa narrativa — sempre há. Mas é preciso nomear o que está por trás de muitas dessas escolhas: uma miopia gerencial disfarçada de estratégia.

Em boa parte dos casos, o que move essas decisões não é evidência sólida, mas o desconforto das lideranças em lidar com um modelo no qual não conseguem mais controlar tudo. É um retrocesso mascarado de gestão, sustentado por crenças ultrapassadas e medo do novo. Quando o mundo clama por disrupção e coragem para redesenhar o trabalho, muitos executivos ainda escolhem a rota da familiaridade — e, com isso, sacrificam inovação, autonomia e bem-estar.

Os números variam, mas existe uma projeção de que cerca de 30% das ocupações no Brasil poderiam ser exercidas remotamente. Isso representa não só uma possibilidade de flexibilização, como uma chance de descentralizar empregos, reduzindo desigualdades regionais e pressões sobre grandes centros urbanos.

Dados do Ministério do Trabalho apontam para outro fenômeno que vem crescendo: os pedidos de demissão voluntária. Só em 2024, cerca de 8,5 milhões de brasileiros fizeram essa opção. Para muitos, o fim do home office foi justamente um dos fatores decisivos para isso.

A rejeição ao modelo 100% presencial não acontece só no Brasil, é uma tendência mundial.

Boa parte de executivos, em vários países, consideraram pedir demissão ao se verem obrigados a voltar ao escritório. Esses provavelmente são os que não têm opção. Para aqueles que têm, seja partindo para outro emprego que favoreça o home office ou para abrir sua própria empresa, esses não pensaram duas vezes.

Muitas coisas têm pesado nessa balança. Aqui no Brasil, além do tempo perdido no trânsito, os profissionais relatam medo de assaltos, assédio sexual, dificuldade para cuidar da saúde e da família, e o sentimento de viver mais para o trabalho do que para si mesmos. São questões que levam muitos trabalhadores a optar por empregos que oferecem autonomia e bem-estar. Mesmo que isso signifique redução de renda ou mudança de carreira.

As empresas que insistem em ignorar esses sinais correm o risco de perder talentos e enfrentar uma rotatividade crescente. Em vez de combater o home office como se fosse inimigo da produtividade, talvez seja hora de redesenhar as relações de trabalho com foco em resultados, confiança e respeito à vida fora do expediente.

Talvez o grande desafio não esteja no fim da CLT ou na glorificação do empreendedorismo. Mas sim em repensar a forma como aplicamos a CLT, adaptando-a a novos tempos, sem renunciar às suas garantias. Seria possível manter alguns dos direitos da “velha CLT” e ao mesmo tempo repensar carga horária de trabalho, lideranças mais horizontais e práticas mais humanas de gestão? Da busca por essa resposta, pode vir a grande definição do futuro de empresas e trabalhadores, que tenho certeza será muito diferente da atual.


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Quer saber como sua empresa pode reinventar o trabalho e transformar suas relações de trabalho para se alinhar aos novos valores dos profissionais, como autonomia, flexibilidade e bem-estar? Então, entre em contato comigo. Terei o maior prazer em responder.

Marco Ornellas
https://www.ornellas.com.br/

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Marco Ornellas é Psicólogo, Master of Science in Behavior pela California American University e Mestre em Biologia-Cultural pela Universidad Mayor do Chile e Escuela Matrizstica. Pós em Neurociência e o Futuro Sustentado de Pessoas e Organizações.Consultor, Coach, Designer Organizacional, Palestrante e Facilitador de Grupos e Workshops em temas como Liderança, Complexidade, Gestão, Desenvolvimento de Equipes, Inovação e Consultor em Design da Cultura Organizacional.Autor dos Livros: DesigneRHs para um Novo Mundo, Uma nova (des)ordem organizacional e Ensaios por uma Organização Consciente.CEO da Ornellas Consulting e Ornellas Academy.
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