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Público e Privado – Empatia, Respeito e Vulnerabilidade

A Covid piorou muito a situação dos vulneráveis. É urgente a necessidade de ensinarmos a empatia, o respeito e a proteção dos vulneráveis.

Público e Privado – Empatia, Respeito e Vulnerabilidade

Público e Privado – Empatia, Respeito e Vulnerabilidade

Escrito em 1948, o clássico 1984, de George Orwell, previu que os governos iriam monitorar excessivamente a vida dos cidadãos – esta é uma premissa do livro. No romance, o personagem do Grande Irmão é o líder supremo do cenário (a fictícia Oceania) que controla toda a população. Todos os cantos públicos e privados estão ligados às “teletelas”, uma espécie de câmera capaz de monitorar, gravar e espionar a intimidade da sociedade. O livro é uma crítica ao totalitarismo. Isso porque os moradores não podiam contestar o sistema criado pelo regime, afinal “O Grande Irmão está de olho em você”.

Curiosamente, em pleno século XXI, estamos vivendo nas redes sociais a tirania e o julgamento instantâneo. Muito mais profundos e de certa forma mais cruéis do que a estória de Orwell. Com consequências inimagináveis para pessoas, famílias, empresas, governos. Sem como nos protegermos, sem confiança nas redes de comunicação e, ao mesmo tempo, totalmente dependentes das redes no nosso cotidiano.

No nosso mundo, tudo o que cai na rede é de domínio público. E ficará para sempre, guardado em algum lugar. Basta que alguém pesquise ou fato novo aconteça e então pronto… está de novo vivo. Algumas vezes ampliando além do humano, fatos recentes com as luzes do passado “arquivado”. Além de perdermos o direito da defesa, também não temos direito ao perdão ou esquecimento de uma sentença pública. Um erro ou discordância será então lembrado e novamente julgado, cada vez que for publicado. O tempo não passa nas Redes Sociais. Para quem já passou por um julgamento público em redes sociais, o Futuro será sempre, um “print” do passado.

No tribunal da Internet as ações ganham força com o efeito manada.

A maioria sequer tem opinião formada. Os seguidores de alguém tomam a posição do seu líder cegamente. Assim, as suas posições e convicções são a realidade dos fatos. Ao tentar se explicar ou se defender, o objeto de ataque não tem como trazer luz aos fatos. Está se dirigindo a um grupo de maioria cega e sem vontade de interpretar a elucidação do evento que provocou raiva.

Os grupos na internet, espelham fielmente o seu comportamento em sociedade. Qualquer posicionamento ou ideia, lançada na Rede terá, sempre, um grupo de apoiadores. Isso é o bastante para que os filtros de respeito ao diferente, simplesmente não existam.

Foi preciso uma pandemia que matou, até agora, aproximadamente 250 mil pessoas, no Brasil, para que parte da sociedade descobrisse que outra parte dela é formada por vulneráveis. Se já era crítica a disparidade provocada pelas diferenças econômicas e sociais, a pandemia da covid-19 agravou este cenário.

Estudo desenvolvido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), em parceria com o Pardee Center for International Futures, da Universidade de Denver (EUA), avaliou o impacto de diferentes cenários de recuperação provocada pelo novo corona vírus nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Como o resultado, o estudo concluiu os efeitos podem empurrar mais 207 milhões de pessoas para a pobreza extrema. Desse modo, elevando o total mundial para mais de um bilhão até 2030. Isso significaria 44 milhões de pessoas a mais do que era previsto, de acordo com a trajetória de desenvolvimento antes da crise sanitária.

Ficou escancarada a miséria e a concentração de renda.

Junto com estas diferenças, a raiva entre classes e as diferenças de entendimento sobre o que realmente é importante. A distância física entre as classes permitia, no mundo “de antes” ignorar e deixar de lado, o desconforto do confronto de ideias e objetivos tão distantes entre si.

No entanto, passados os primeiros meses, o confinamento e o home office, nos aproximou nas redes. E ampliou substancialmente os efeitos positivos e negativos de estarmos tão expostos. Sem a possibilidade de nos encontrarmos com as pessoas, todos passamos a publicar fotos, contar histórias. Desse modo, gerando um acervo imensurável de dados “eternos” disponíveis, sobre a nossa vida, o que comemos, vestimos, aonde vamos e os nossos pensamentos.

O volume de informações sobre como somos, associados a como nos identificamos nos deixam irremediavelmente vulneráveis na mesma proporção, ao menos no mundo cibernético. Apenas este ano já foram dois grandes vazamentos de dados. Um deles, vazou dados de mais de 220 milhões de pessoas. inclusive mortos)

Juntar fotos e dados e construir uma história fica muito mais fácil com aplicativos de reconhecimento facial. Pronto: já temos o terreno semeado para toda sorte de Cancelamentos. Sem importar quando e como de fato tudo aconteceu, pode-se montar a história que bem entender. Usar sequencias equivocadas e fora de contexto sobre qualquer pessoa. Embasar as razões de ódio e raiva com informações “reais” ordenadas para uma finalidade específica.

Neste cenário, não importa mais a qual grupo pertencemos de fato.

Importa apenas o que fazemos e deixamos de fazer. Estamos em meio a uma revolução muito mais profunda do que qualquer ficção do passado pudesse prever. A educação e o respeito estão na proporção da educação e respeito que as nossas crianças recebem enquanto crescem. Nenhum ser humano está imune as consequências de uma infância cruel, violenta e sem direitos humanos. Ou, ainda, a uma infância distante da realidade e sem nenhuma empatia pelo diferente.

A Covid piorou muito a situação dos vulneráveis e colocou um ponto final na clausura protegida dos mais ricos. Estamos agora no mesmo lugar. Vemos a vida de ângulos totalmente diferentes e temos as nossas razões, totalmente fundadas, justificadas e explicadas. Precisamos socorrer os mais pobres da nossa ausência para garantir que as crianças vejam e aprendam um mundo melhor, para serem adultos melhores de fato. É urgente a necessidade de ensinarmos aos mais ricos a empatia. E a todos, o respeito e a proteção dos vulneráveis.

A pandemia é de fato um ponto de inflexão. As escolhas que os líderes fizerem, agora, poderão levar o Brasil e o mundo em direções muito diferentes. Temos a oportunidade de investir em uma década de ação que não apenas ajude as pessoas a se recuperarem da covid-19. Mas que restabeleça o caminho do desenvolvimento das pessoas e do planeta, garantindo respeito, educação e atendimento as necessidades básicas do ser humano.

Gostou do artigo? Quer saber mais sobre Empatia, Respeito e Vulnerabilidade? Então entre em contato comigo. Terei o maior prazer em responder.

Sandra Moraes
https:// www.linkedin.com/in/sandra-balbino-moraes

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Sandra Moraes é Jornalista, Publicitária, Relações Públicas, frequentou por mais de 8 anos classes de estudos em Filosofia e Sociologia na USP.É professora no MBA da FIA – USP. Atuou como Executiva no mercado financeiro (Visa International (EUA); Banco Icatu; Fininvest; Unibanco; Itaú e Banco Francês e Brasileiro), por mais de 25 anos. Líder inovadora desenvolveu grandes projetos para o Varejo de moda no país (lojas Marisa – Credi 21), ampliando a sua larga experiência com equipes multidisciplinares, multiculturais, altamente competitivos, inovadores e de alta volatilidade.
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