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Os líderes mundiais e a Globalização 4.0!

Grandes líderes mundiais tentam encontrar caminhos inovadores e efetivos para enfrentarem o ambiente VUCA que, a cada dia, será mais e mais desafiador para os profissionais de todos os setores.

Em Janeiro de 2019, foi realizado o Fórum Econômico Mundial (Davos – Suíça) que teve, como tema central, Globalization 4.0: Shaping a Global Architecture in the Age of the Fourth Industrial Revolution (Globalização 4.0: moldando uma arquitetura global na era da 4ª Revolução Industrial). Em uma linguagem objetiva, e sem meandros ou malabarismos, os grandes líderes mundiais tentam encontrar caminhos inovadores e efetivos para enfrentarem o que chamamos de ambiente VUCA (Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo). Não é sem razão que, há vários meses, decidi criar um espaço específico para explorar esse assunto que, a cada dia, será mais e mais desafiador para os profissionais de todos os setores.

Em 13/01/2019, tendo o poder e a autoridade de organizador do Fórum Econômico Mundial, o Sr. Klaus Schwab emitiu um manifesto oficial listando suas expectativas para os trabalhos a serem realizados. A seguir, em uma versão livre, apresento essas ideias e proposições que são relevantes por si mesmas, porém mais ainda impactantes ao considerarmos os efeitos que o mundo VUCA está gerando no cotidiano de todos nós, incluindo os coaches, mentores, conselheiros e consultores. Afirmo ser da responsabilidade profissional de cada leitor conhecer este manifesto (ainda que relativamente longo) e, se conselho pode valer a pena, faça uma reflexão sobre seu cotidiano, ao terminar a leitura. Também sugiro assistirem a entrevista dada pelo Sr. Schwab, na qual ele cita, direta e claramente, a necessidade de as lideranças mundiais encontrarem soluções para um mundo cada vez mais complexo e dinâmico (áudio e legendas em inglês – https://www.youtube.com/watch?v=vlPHamvvNf8).

Globalização 4.0: O Manifesto de Klaus Schwab

Precisamos de um novo quadro para a cooperação global, a fim de preservar a paz e acelerar o progresso sustentável. Após a Segunda Guerra Mundial, líderes de todo o mundo se uniram para projetar um novo conjunto de estruturas institucionais, assim buscando garantir que o pós-guerra fosse marcado pela colaboração na construção de um futuro compartilhado. O mundo mudou desde então e, com urgência, devemos empreender esse processo novamente.

Desta vez, no entanto, a mudança não é apenas geopolítica ou econômica. Pelo contrário, estamos experimentando uma mudança na própria estrutura de como as pessoas e a sociedade se relacionam entre si e com o mundo, em geral. Estamos vivendo a era da 4ª Revolução Industrial. Economias, empresas, sociedades e políticas públicas não estão apenas mudando – elas estão se transformando radicalmente, de maneira que reformar processos e instituições atuais não mais será suficiente. Ao contrário, precisamos redesenhá-los para nos anteciparmos às forças da mudança e moldarmos estratégias que alavanquem novas oportunidades, evitando os riscos inerentes aos períodos de ruptura.

Se esperarmos, ou se apenas aplicarmos uma “solução rápida” para reparar as deficiências de nossos sistemas já ultrapassados, essas forças de mudança naturalmente desenvolverão seu próprio impulso e suas regras, limitando assim nossa capacidade de moldar uma trajetória de resultados positivos. Precisamos de novo ambiente de cooperação global, a fim de preservar a paz e acelerar o progresso sustentável. Para começar, temos que entender a força transformadora da 4ª Revolução Industrial, pois o que foi considerado ficção científica, há apenas alguns anos, agora tornou-se realidade. Seu impacto é cada vez mais abrangente e as forças inovadoras redefinem todo o sistema de como produzimos, consumimos e nos comunicamos. É possível descrever a Globalização 4.0 em termos de tecnologias em evolução, tais como inteligência artificial, medicina de precisão, genoma, veículos autônomos e muito mais.

Para entender, verdadeiramente, o enorme poder transformador, podemos apontar cinco características básicas da 4ª Revolução Industrial: (1) Digitalização: Tudo é expresso em termos de dados, levando a uma economia de mobilidade ilimitada; (2) Integração: Os dados se integram às plataformas, criando novos rumos nas interações econômicas; (3) Smartization: As tecnologias transformam plataformas de dados em sistemas cada vez mais inteligentes; (4) Virtualização: Plataformas e sistemas migram para nuvens, com o ciberespaço sendo facilitador catalítico; (5) Designação: Sistemas passam de analíticos a preditivos e prescritivos, exigindo diretrizes éticas claras no seu uso.

O impacto da 4ª Revolução Industrial em nossos sistemas econômicos, sociais e políticos é incrivelmente marcante, pois o mundo físico encolherá em comparação a esse novo mundo digital interconectado. A desmaterialização da economia será acelerada pela transição a uma economia circular e compartilhada, em que a fabricação será revolucionada pela automação, localização e customização, substituindo as tradicionais cadeias de suprimentos. Os padrões de emprego e renda serão transformados à medida que grandes áreas de emprego sejam substituídas por automação inteligente. A renda do trabalho tradicional será extensivamente substituída por retornos acumulados das tarefas criativas, capital de risco e vantagem do pioneirismo. Isso exigirá uma reforma considerável dos sistemas fiscais.

Todo o nosso sistema de educação necessariamente terá de ser renovado. A era da 4ª Revolução Industrial requer novas competências e habilidades, bem como aprendizagem ao longo de toda a vida. A ênfase deve ser colocada na motivação à criatividade, no pensamento crítico e em novas habilidades digitais, mas, acima de tudo, no apoio a tudo o que nos faz sermos vistos como “humanos”. Cultivar empatia, sensibilidade, colaboração e paixão será a melhor maneira de garantir que a tecnologia será ferramenta para orientar nossas vidas, e não para nos tornar escravos dos algoritmos.

A formulação de políticas públicas deverá lidar com a velocidade das mudanças para garantir um progresso centrado na sociedade e no ser humano. O perigo que temos à frente é ver a transformação trazida pela 4ª Revolução Industrial se desdobrar, enquanto as políticas do governo fiquem continuamente atrasadas no tempo. Novos modelos de governança ágeis e colaborativos terão que ser desenvolvidos. A velocidade, a complexidade e a natureza virtual da mudança dificultam a compreensão da necessidade urgente de agilidade na formulação de políticas. Isso é exacerbado pela diferença crescente entre os “vencedores e perdedores” da 4ª Revolução Industrial, que está minando a coesão social e nacional, reforçando a noção de que “o vencedor leva tudo”.

A resposta oportuna a todas essas questões determinará a relevância econômica e o crescimento de cada país. Também determinará o bem-estar e as oportunidades de emprego para seus cidadãos. Essa resposta moldará sua posição global e o poder na arena geoeconômica e geopolítica. Por fim, determinará a qualidade de vida para as gerações vindouras. No momento, governos e sociedades passam a ter três opções básicas:

  1. Proteger aqueles que foram deixados para trás a partir das mudanças transformadoras trazidas pela 4ª Revolução Industrial, obtendo vantagem política de curto prazo, mas, em última análise, preparando o terreno para a erosão da competitividade do país;
  2. Seguir uma política de laissez-faire, exigindo que a comunidade empresarial se mostre pronta e capaz para atuar como um forte catalisador e impulsionador, ou;
  3. Mobilizar todas as forças para abraçar plenamente a 4ª Revolução Industrial e alcançar posição de liderança global, reconhecendo que o princípio da economia futura não refletirá mais a divisão das vantagens comparativas de Adam Smith, mas sim um mundo caracterizado por interação complexa entre plataformas e sistemas que atravessam fronteiras geográficas nacionais.

Tendo se beneficiado com a primeira Revolução Industrial, o Reino Unido tornou-se a potência global dominante, seguida depois pelos Estados Unidos, que construíram (e reafirmaram) sua influência global comandando a 2ª e a 3ª Revoluções Industriais. Essas três Revoluções Industriais dividiram o mundo em nações industrializadas e em desenvolvimento. Hoje, a paisagem global está novamente sendo redistribuída – a uma velocidade incrível. Estamos em competição global pela liderança da 4ª Revolução Industrial, fornecendo a base para o futuro poder econômico e político. Diante da realidade dessa competição, a comunidade global tem muito mais em jogo do que as guerras comerciais.

As posturas de retaliações não são solução para revigorar sistemas desatualizados e revitalizar organizações para torná-las adequadas a qualquer determinado objetivo. O contexto mudou e precisamos de um novo pensamento sobre o que significam relações econômicas livres e justas no mundo de hoje. Existe a necessidade urgente de um diálogo global sobre dez questões-chave que impulsionarão a Globalização 4.0:

  • Diálogo sobre cooperação econômica: Criar novo arcabouço de regras e instituições que integrem todos os aspectos da cooperação econômica global, incluindo propriedade intelectual, circulação de pessoas, políticas de concorrência, proteção de dados, taxas de câmbio, políticas fiscais, empresas estatais e segurança nacional;
  • Diálogo sobre política tecnológica: Criar esforço comum e colaborativo para definir os princípios para tecnologias novas e emergentes, como a inteligência artificial e a edição de genes, garantindo assim que elas sejam sustentadas por princípios éticos e baseadas em valores universais;
  • Diálogo sobre segurança cibernética: Empreender esforço coletivo e coordenado para garantir que a inovação e a base central tecnológica da 4ª Revolução Industrial sejam seguras e confiáveis;
  • Diálogo sobre sistemas financeiros e monetários: Moldar conjuntamente os sistemas monetários e financeiros, alavancando novas tecnologias como criptografia e protocolos de confiabilidade, bem como tornar os sistemas mais resilientes para alcançar o crescimento sustentável e o bem-estar social de longo prazo;
  • Diálogo sobre decisões de política econômica: Redefinir as atuais teorias econômicas para melhor refletir as mudanças estruturais inerentes à 4ª Revolução Industrial, a exemplo da mudança conceitual de produtividade;
  • Diálogo sobre resiliência de risco: Melhorar a gestão coletiva dos principais sistemas ambientais (clima, oceano e biosfera), dos quais nossas sociedades e economias dependem, é fundamental para o futuro do planeta;
  • Diálogo sobre capital humano: Identificar como as habilidades necessárias de competitividade na 4ª Revolução Industrial estarão em constante evolução, e qual será o futuro do trabalho e o papel do capital humano;
  • Diálogo sobre uma nova narrativa de responsabilidade social: Moldar uma nova narrativa para as sociedades – passando de uma fixação materialista para um foco humanista, mais idealista. Da mesma forma, também haverá a mudança da produção, do consumo e da movimentação para o cuidado e o compartilhamento;
  • Diálogo sobre sistemas industriais: Amplificar, com a 4ª Revolução Industrial, a oportunidade de disponibilidade e melhoria substancial na prestação de serviços em saúde, energia, comunicação, transporte e outras mais, e;
  • Diálogo sobre reformas institucionais: Repensar as estruturas institucionais globais, criadas há mais de 70 anos, e adaptá-las para garantir que sejam relevantes no novo contexto político, econômico e social.

Todos esses diálogos globais devem ser integrados a uma estrutura abrangente que reflita a interconectividade da política, economia, tecnologia e sociedade. Para cada uma dessas questões, não devemos nos concentrar apenas nas reformas, mas também no que é necessário para adaptar-se à nova realidade. Os seguintes princípios devem conduzir tais diálogos globais:

(1) Devem ser multissetoriais, exigindo que governos, empresas e sociedade civil trabalhem juntos de maneira colaborativa e ágil. Os governos terão um papel-chave de liderança a desempenhar, impulsionador da inovação, e a sociedade civil deverá acompanhar como guardião de que a inovação seja centrada no ser humano;

(2) As forças da era industrial anterior determinaram, em grande parte, o progresso econômico e viram os mercados abertos como o principal meio de criar bem-estar nos países industrializados e em desenvolvimento. À medida que a estrutura de geração de renda e distribuição de riqueza é transformada pela 4ª Revolução Industrial, a preservação da coerência social e a da coesão nacional se tornaram primordiais. O desafio será manter o equilíbrio entre a preservação dos contratos sociais nacionais e a preservação de um mundo aberto no novo conceito de Globalização 4.0, e;

(3) Em um mundo mais complexo, multipolar e multiconceptual, a capacidade de gerenciar a colaboração global pode ser mais baseada em coordenação e menos na cooperação. A coordenação implica um meio de viabilizar objetivos ao mesmo tempo em que proporciona liberdade para diferentes visões, conceitos e sistemas de valores nacionais. O Acordo Climático de Paris e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas são um bom exemplo dessa abordagem coordenada, particularmente em um mundo onde a coabitação é menos baseada em valores compartilhados e mais em interesses compartilhados.

Estimular esse diálogo tão abrangente e desenvolver um novo marco para a cooperação global consolida-se como objetivo central do Fórum Econômico Mundial, em Davos. Como a principal plataforma global e reconhecida Organização Internacional para a Cooperação Público-Privada, o Fórum é o adequado espaço para ser catalisador dos debates sobre a “Globalização 4.0: Moldando uma Arquitetura Global na Era da 4ª Revolução Industrial”. (Klaus Schwab é fundador e presidente executivo do Fórum Econômico Mundial).

Amigo leitor, eu espero que você tenha identificado o que está a acontecer neste que chamamos de mundo VUCA, algo que o manifesto mais do que esclareceu sob a ótica da Globalização 4.0. Não adianta reclamar e nem querer se posicionar contra essas tendências, sendo que a postura mais sábia é você se antecipar e liderar as mudanças que irão impactar a sua vida. Acredite que esse contexto atinge você e todos os seus amigos, familiares e clientes. Como coach ou mentor responsável que é, seu aprendizado contínuo e o desenvolvimento de novas competências formam o alicerce da construção futura de sua vida. E somente assim poderá positivamente ajudar todos à sua volta!

Mario Divo Author
Mario Divo possui mais de meio século de atividade profissional ininterrupta. Tem grande experiência em ambientes acadêmicos, empresariais e até mesmo na área pública, seja no Brasil ou no exterior, estando agora dedicado à gestão avançada de negócios e de pessoas. Tem Doutorado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) com foco em Gestão de Marcas Globais e tem Mestrado, também pela FGV, com foco nas Dimensões do Sucesso em Coaching (contexto brasileiro). Formação como Master Coach, Mentor e Adviser pelo Instituto Holos. Formação em Coach Executivo e de Negócios pela SBCoaching. Consultor credenciado no diagnóstico meet® (Modular Entreprise Evaluation Tool). Credenciado pela Spectrum Assessments para avaliações de perfil em inteligência emocional e axiologia de competências. Sócio-Diretor e CEO da MDM Assessoria em Negócios, desde 2001. Mentor e colaborador da plataforma Cloud Coaching, desde seu início. Ex-Presidente da Associação Brasileira de Marketing & Negócios, ex-Diretor da Associação Brasileira de Anunciantes e ex-Conselheiro da Câmara Brasileira do Livro. Primeiro brasileiro a ingressar no Global Hall of Fame da Aiesec International, entidade presente em 2400 instituições de ensino superior, voltada ao desenvolvimento de jovens lideranças em todo o mundo.
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