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O que a paralisação nos ensina?

A paralisação e o racionamento de combustível tirou todos nós brasileiros da zona de conforto. Ah, como são boas as crises e a escassez para revelar os verdadeiros valores de uma sociedade. E qual a triste conclusão?

Há uns anos, participei de um grupo de estudos idealizado pela Fundação Dom Cabral cujo tema era “O varejo do futuro”. Na mesma época, me juntei ao grupo impulsor que fundou com o apoio da Fiat Automóveis, o Movimento Nossa Betim por Cidades Justas e Sustentáveis. Em ambos, havia o desejo de compartilhar conhecimento e ações que preparassem o nosso país para ser mais justo e sustentável.

Infelizmente, vi o Movimento Nossa Betim nascer, engatinhar e morrer antes de conseguir andar com as próprias pernas. A princípio, houve maior engajamento de pessoas físicas, empresas e até da prefeitura, mas o trabalho (maioria de voluntários) e o esforço para se levar educação e discutir sobre sustentabilidade, justiça e boas práticas tanto de gestão quanto de ações de cidadania perdeu sua força.

Agora, vem esta paralisação e o racionamento de combustível para tirar todos nós brasileiros da zona de conforto. Ah, como são boas as crises e a escassez para revelar os verdadeiros valores de uma sociedade. E qual a triste conclusão que chego? Como professora, aprendi que nem toda lição ensinada é apreendida. Alguns alunos quando colocados à prova passam de primeira, mas, a maioria, toma recuperação e outros tantos são repetentes.

A primeira prova veio logo. Assim que os postos de gasolina anunciaram que havia combustível, filas quilométricas foram formadas e os consumidores aceitaram pagar 5, 6, 8 e, em alguns casos, ate 10 reais pelo litro de gasolina. Num comportamento altamente egoísta, muitos queriam completar o seu tanque e dane-se para as outras centenas de pessoas que estavam na fila. Cada um, querendo defender o seu até que precisou que os postos estabelecessem uma cota máxima de 20 litros por carro. Da lição de cidadania e solidariedade, me parece que quase a totalidade de nós, brasileiros, tomamos bomba. Não aprendemos também a primeira lei que é a da “demanda e oferta”. Se há pouca oferta e muita demanda, os preços vão às alturas e há um risco iminente de alta inflação. O que deve ser feito então? Não consumir e não aceitar pagar o preço até que a demanda diminua e o preço baixe.

No caso do combustível e dos alimentos, há, obviamente, pessoas que têm necessidades vitais, mas a esmagadora maioria dos consumidores não querem, na verdade, abrir mão do seu conforto, do seu luxo e muito menos mudar hábitos. Vejo pessoas dizendo que não podem viver sem carro. Pessoalmente, sempre tive carro desde os 18 anos, há dois anos passei por um momento difícil e tive que abrir mão do veiculo. Sem opção, aprendi a andar de bicicleta, a pe, de ônibus, de Uber e a pedir carona para meus amigos. Se morri? Não. Continuo viva e, embora pareça demagogia, hoje estou muito mais leve e feliz. Não convivo mais com o estresse a que me submetia como motorista, não preciso andar quarteirões porque não consigo vaga próximo de onde preciso ir, não pago taxas abusivas de estacionamento, nem IPVA, nem seguro. Minha relação com a cidade também mudou. Hoje, por andar muito à pé, vejo a cidade com outros olhos e enxergo coisas que jamais enxerguei de dentro do meu carro.

Se você é daqueles que sabe que as energias não são renováveis e que se continuarmos consumindo e agindo como se a fonte nunca fosse secar, passaremos por sérias dificuldades e estamos comprometendo esta e as futuras gerações, sugiro que adotemos novas práticas:

  • forme um pool de carona com amigos que moram, trabalham ou estudam próximo a você;
  • utilize o transporte público, a bicicleta, os aplicativos de carros particulares como Uber, Cabify, 4Move, táxis (a maioria destes carros abastece com gás veicular);
  • se você usa muito o seu carro, adapte para gás;
  • faça hortas coletivas com seus vizinhos, adotando e cuidando de uma praça, por exemplo, ou de lotes vagos. Peça licença à prefeitura;
  • consuma alimentos apenas da estação e não os que estão com preços abusivos. Substitua os alimentos que você gosta muito, quando estiverem muito caros, por outros e descubra novos sabores;
  • pense global, mas aja local. Compre nos armazéns e comércio próximos da sua residência. Assim, você cria um ciclo virtuoso e próspero dentro da sua comunidade;
  • evite consumir produtos importados. Eles consomem muito combustível de aviões, navios e caminhões usados para que cheguem atá a prateleira dos supermercados;
  • sempre que possível, frequente escolas, academias, restaurantes, bares, espaços de lazer próximos à sua casa;
  • crie associações de bairro porque elas têm mais força para exigirem ações do poder publico;
  • exercite a gentileza e a solidariedade. Pense o quanto você, indivíduo, pode somar à coletividade.

Mude você, cidadão! Só assim o Brasil mudará.

Cristiane Ferreira
Coach, Palestrante
Professora FGV

Cristiane Ferreira é Coach formada pelo IBC – Instituto Brasileiro de Coaching, Professora da Fundação Getúlio Vargas com cadeiras em Liderança, Coaching, Inteligência Emocional, Técnicas de Comunicação e Empreendedorismo, Palestrante, Empresária do setor de Educação desde 1991, Graduada em Letras pela UFMG e Pós-graduada em Linguística Aplicada pela UFMG, MBA em Gestão de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas, Formada em Inglês pela University of New Mexico, EUA, Apresentadora do Programa Sou Múltipla, Fundadora da Associação das Mulheres Empreendedoras de Betim, Ex-Presidente da Câmara Estadual da Mulher Empreendedora da Federaminas (2014/2016), Destaque no Empreendedorismo feminino, recebeu vários prêmios entre eles o “Mulheres Notáveis – Troféu Maria Elvira Salles Ferreira” da ACMinas, troféu Mulher Líder, “Medalha Josefina Bento” da Câmara Municipal de Betim, “Mulher Influente” do MG Turismo e o “Mérito Legislativo do Estado de Minas Gerais”, Comenda Amiga da Cultura da Prefeitura Municipal de Betim.
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