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O preço do brincar

O brincar, tão essencial à formação psicossocial e motora, tornou-se sinônimo de consumismo. Mais do que rememorar brincadeiras do passado, precisamos resgatar a simplicidade imanente à natureza infantil.

“A melhor maneira de formar crianças boas é fazê-las felizes.”
(Oscar Wilde)

Um catálogo de produtos encartado em um jornal ou uma visita a uma loja de brinquedos podem levar pais a uma espantosa constatação: brincar nunca foi tão caro.

É impressionante o preço médio dos produtos e como os mesmos somente se mostram acessíveis à maioria da população graças ao artifício do pagamento parcelado. Brinquedos fabricados em produção seriada, permitindo-lhe uma drástica redução dos custos, porém com valores literalmente exorbitantes e até injustificáveis.

O pior é que as crianças são bombardeadas diariamente, em especial através da televisão, por meio dos diversos canais infantis disponíveis, com campanhas publicitárias envolventes que despertam nos pequenos dois sentimentos quase incontroláveis: o desejo, consciente e ligado ao objeto, e o impulso, inconsciente e associado a uma representação mental.

Como resultado disso, os adultos sentem-se cerceados, de modo que o máximo que conseguem é impor limites, ensinando seus filhos a fazerem escolhas, a partir do argumento de que não se pode ter tudo o que se deseja. Mas há outras lições e reflexões possíveis…

Tive o privilégio de viver minha infância com a liberdade de frequentar as ruas. Assim, jogava futebol com os colegas, empinava pipa, brincava de esconde-esconde, bolinha de gude, queimada ou pega-pega com as demais crianças do bairro, mesmo após o pôr-do-sol. Eram tempos nos quais a violência urbana não espreitava a cada esquina, onde os veículos respeitavam limites de velocidade nas ruas residenciais, e quando vizinhos de fato dialogavam.

Hoje vivemos encastelados em edifícios ou condomínios, porém isolados, pouco compartilhando com aqueles que moram no entorno. Nossas agendas densas e o tempo cada vez mais curto, fazem-nos terceirizar o lazer. Assim, os jovens vivem aficionados a equipamentos eletrônicos, hipnotizados por seus videogames, tablets e smartphones, enquanto os mais novos são entregues a uma miríade de brinquedos temáticos que proporcionam prazer de curto prazo. O brincar, tão essencial à formação psicossocial e motora, tornou-se sinônimo de consumismo.

Mais do que rememorar brincadeiras do passado, precisamos resgatar a simplicidade imanente à natureza infantil. Crianças divertem-se com desenhos feitos com papel e lápis, com pequenas obras de arte feitas a partir de materiais recicláveis, com histórias contadas ao pé do ouvido. Em última instância, tudo o que querem é companhia, carinho, afeto e atenção. Tudo isso não nos custa nada, sendo o que efetivamente pode entreter, ensinar e edificar valores para toda a vida.

Tom Coelho Author
Tom Coelho, com formação em Publicidade pela ESPM e Economia pela USP, tem especialização em Marketing e em Qualidade de Vida no Trabalho, além de mestrado em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente. Foi executivo, empresário, secretário geral do IQB/ INMETRO, diretor do Simb/Abrinq e VP da AAPSA. Atualmente é professor em cursos de pós-graduação, conferencista, escritor com artigos publicados em 17 países, diretor da Lyrix Desenvolvimento Humano, da Editora Flor de Liz e do NJE/CIESP, além de Conselheiro do Consocial/FIESP. autor dos livros “Somos Maus Amantes – Reflexões sobre carreira, liderança e comportamento”, “Sete Vidas – Lições para construir seu equilíbrio pessoal e profissional” e coautor de outras cinco obras.
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