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O Gestor, o Filho e o Burro: Ouvir é Essencial — Seguir Tudo, Fatal

Ouvir é essencial, mas seguir todas as vozes pode ser fatal. A falta de discernimento derruba líderes, compromete decisões e arruína projetos. Descubra como liderar não apenas com a escuta ativa, mas com visão, coragem e responsabilidade.

O Gestor, o Filho e o Burro: Ouvir é Essencial — Seguir Tudo, Fatal

O Gestor, o Filho e o Burro: Ouvir é Essencial — Seguir Tudo, Fatal

Quem a todos quer ouvir, de ninguém é ouvido.

A fábula…

Um fazendeiro e seu filho seguiam com um burro rumo ao mercado. No caminho, ouviram críticas de diferentes pessoas: por andarem a pé, pelo fato do filho montar enquanto o pai caminhava, pelo pai montar enquanto o filho andava, e até por ambos estarem montados. Tentando agradar a todos, decidiram carregar o burro — mas, ao atravessar uma ponte, o animal se assustou e os três caíram na água. Moral da história: quem tenta seguir todas as opiniões acaba se perdendo.


Por que falar sobre isso?

No mundo corporativo, a habilidade de escutar é frequentemente exaltada como uma das mais nobres virtudes de um líder. E com razão: escutar com atenção pode construir pontes, resolver conflitos bem como impulsionar a inovação. Mas há um ponto de ruptura — quando ouvir demais, sem discernimento, leva a decisões erráticas, perda de identidade da liderança e, em casos extremos, ao fracasso de projetos ou até de empresas inteiras.

A fábula do fazendeiro com seu filho e o burro ilustra com clareza o paradoxo da escuta indiscriminada: na tentativa de agradar a todos, acabaram sendo reprovados por todos. E pior — terminaram na água. O mesmo acontece com líderes que, por medo de desagradar ou desejo de aceitação, mudam então suas decisões a cada nova opinião.


A fábula aplicada ao mundo corporativo

Imagine um CEO que, diante de cada nova reunião com acionistas, muda radicalmente a estratégia da empresa. Ou então um gerente que, a cada crítica de sua equipe, altera o rumo do projeto, mesmo sem embasamento técnico. O resultado? Insegurança, perda de foco e desmotivação geral.

Ouvir é essencial. Mas o que diferencia um líder sábio de um gestor inseguro é o discernimento — a capacidade de filtrar, contextualizar e tomar decisões fundamentadas, mesmo que desagradem parte do grupo no curto prazo.


Exemplos reais: líderes que ouviram mais do que deveriam

1. O caso Kodak: ouvindo demais o passado

A Kodak foi pioneira na fotografia digital nos anos 70. Mas ao ouvir demais os executivos e acionistas conservadores, a empresa engavetou projetos que ameaçariam seu modelo tradicional de filmes analógicos. Resultado: outras empresas tomaram a dianteira e assim a Kodak perdeu o bonde da inovação, entrando em falência anos depois.

2. Yahoo: paralisado por opiniões conflitantes

Em diversas fases da sua história, o Yahoo foi vítima do que se chama de paralisia por análise. Com sucessivas lideranças tentando conciliar diferentes visões internas e externas — sem uma visão clara e firme — a empresa de fato perdeu oportunidades valiosas, como a compra do Google em seus primeiros anos. O excesso de escuta sem ação foi letal.

3. Gerentes que vivem de aprovação

No ambiente interno de grandes corporações, não são raros os líderes de equipe que passam mais tempo tentando agradar seus superiores e subordinados do que liderando de fato. Projetos que mudam de escopo toda semana, tentativas de “não desagradar ninguém”, e um clima de constante revisão criam uma cultura tóxica de insegurança e baixa performance.


A sabedoria do discernimento

Escutar, sim; mas com critério. Eis algumas recomendações para líderes e gestores que desejam exercer uma escuta saudável e assertiva:

1. Tenha um norte claro

Um líder sem propósito definido é como o burro da fábula — será puxado de um lado para o outro até cair. Clareza de propósito permite que você filtre opiniões com mais objetividade: “Isso contribui para minha missão ou me desvia?”

2. Classifique o tipo de feedback

Nem toda opinião é igual. Uma crítica fundamentada, baseada em dados ou experiência, merece mais atenção do que uma impressão superficial. Aprenda a distinguir feedbacks construtivos de simples ruídos emocionais.

3. Ouça com empatia, decida com razão

A escuta ativa deve ser acolhedora, mas a decisão precisa ser racional. Liderar é, muitas vezes, frustrar expectativas de forma respeitosa, mas firme. Isso gera segurança e confiança.

4. Comunique o “porquê”

Quando decidir por uma direção diferente da sugerida, explique. A maioria das pessoas aceita bem uma decisão contrária se entendem a lógica por trás dela. Isso mostra respeito e maturidade de liderança.

5. Evite o ciclo de dependência de aprovação

Líderes que vivem em busca de validação externa ficam emocionalmente reféns de seus liderados ou pares. Desenvolver autoconfiança e sustentar escolhas impopulares faz parte da jornada de crescimento.


E se ninguém gostou?

Na fábula, o pai e o filho passaram por todos os papéis: andando a pé, montando separados, montando juntos, até o absurdo de carregar o burro. Cada tentativa gerava nova crítica. O mesmo ocorre nas empresas: nem sempre haverá consenso. Buscar unanimidade é — sem dúvida — o caminho mais curto para a mediocridade.

O verdadeiro líder entende que nem sempre a escolha certa será a mais popular — e tudo bem. O respeito se conquista não pela submissão às opiniões, mas pela coerência entre escuta, reflexão e ação.


Mais líderes e menos marionetes

A fábula termina com o burro na água e os dois personagens encharcados, tendo seguido todas as vozes, exceto a própria. Esse é o retrato de muitos projetos corporativos: afundados pelo excesso de escuta e pela ausência de direção.

Escutar é um dom. Mas liderar exige mais que ouvidos atentos — requer visão, coragem e responsabilidade.

Na próxima vez que se vir tentado a agradar a todos, lembre-se: quem a todos quer ouvir, de ninguém é ouvido. E, mais importante: quem tenta agradar a todos, corre o risco de perder o respeito de todos.

E você: quantas decisões já tomou guiado pelo medo de desagradar? Quantas pela coragem de ser íntegro com sua visão?


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Quer saber mais sobre como você equilibra escuta ativa e firmeza nas suas decisões como líder? Então, entre em contato comigo. Terei o maior prazer em responder.

Walter Serer
https://walterserer.com.br
https://www.linkedin.com/in/walter-serer-86717b20/

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Walter Serer Author
Walter Serer possui extensa e sólida experiência executiva como CFO e CEO de empresas multinacionais de grande porte. Robusta formação em Finanças Corporativas adquirida na General Electric (graduado pelo Financial Management Program) onde atuou por 14 anos ocupando relevantes posições na área de Finanças e Administração. Atuou como CFO nas empresas TI Group, Valeo, Coldex Frigor e Black&Decker. Nos últimos 18 anos exerceu posição de CEO na Ingersoll Rand Brasil (2011-2014), Syncreon South America (2003-2010) e TI Group Latin America (1997-2003). Pós-graduado em Finanças pela FGV e graduado em Administração de Empresas pela (ESAN – PUC/SP).
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