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O desafio de se superar no mundo VUCA!

A liderança tradicional deve dar lugar a uma abordagem totalmente nova, mas a maior parte dos líderes não sabe o que é ou por onde começar.

Em postagem recente, comentei da contribuição que a pesquisadora Sunnie Giles tem dado ao entendimento mais ampliado sobre o mundo VUCA (Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade), bem como na forma de tirar proveito dessa realidade para o crescimento das organizações. Ela mesma se assume como catalisadora para processos inovadores, tendo fundado a empresa Liderança Quântica para a Inovação Radical®, um programa com foco na geração de lideranças alinhadas a esse conceito. Ela afirma que, na questão do mundo VUCA, a tomada de decisão é muito desafiadora porque, raramente, podemos prever plenamente suas consequências. A liderança tradicional (baseada em comando e controle) deve dar lugar a uma abordagem totalmente nova, mas a maior parte dos líderes não sabe o que é ou por onde começar.

Há pouco menos de um ano, ela publicou matéria na revista Forbes, a qual ainda se mostra bem atual. No ambiente VUCA, eventos imprevisíveis que acontecem fora de uma organização podem ser negativos ou positivos, mas certamente geram alguma demanda para os líderes tomarem decisões. Um exemplo de complexidade positiva é quando algum produto ou serviço viraliza e se torna sensação na Internet. Um exemplo de complexidade negativa é como a que ocorreu com a falta de esperança de um vendedor de frutas da Tunísia.

Conta Sunnie que, em 17 de dezembro de 2010, Mohamed Bouazizi, um jovem vendedor de frutas na Tunísia, foi multado por não ter licença para vender produtos alimentícios. Os fiscais cobravam o equivalente a sete dólares (mais do que ele poderia ganhar em um único dia), deixando-o desesperado. Sem outro jeito de protestar, ele derramou gasolina no corpo e, em frente ao prédio central da municipalidade, colocou fogo cercado de populares. As pessoas ao seu redor tiravam fotos e vídeos desse incidente, e as notícias rapidamente se tornaram virais nas mídias sociais. O acontecimento incitou manifestações e tumultos, sendo que 28 dias depois da autoimolação de Mohamed, o presidente tunisiano Zine El Abidine Ben Ali fugiu para a Arábia Saudita, deixando o poder após 23 anos; o que deu início à chamada “Primavera Árabe”.

Em outro caso histórico referenciado por Sunnie, o povo sírio se revoltou contra Bashar al-Assad que, ao invés de se demitir, levou seu país a uma guerra civil, produzindo milhões de mortes e de refugiados. Esses refugiados invadiram a Europa e a Grã-Bretanha, buscando segurança e oportunidade, porém criando um ambiente de descontentamento público em relação a um contexto complexo. Tudo ficou agravado por outros fatores sociais e econômicos, tendo grande impacto no Reino Unido e motivando o referendo Brexit. Com a aprovação do referendo, em 24 de junho de 2016, mais de US$ 2 trilhões de riqueza desapareceram nos mercados de ações em todo o mundo. Nunca o público votante britânico, ou talvez ninguém no mundo, imaginou que isso tenha começado quando um vendedor de frutas se incendiou na Tunísia, 6 anos antes.

Essa cadeia de eventos mostra quão complexo é o mundo de hoje. Se menos pessoas tivessem celulares, como era o caso há apenas uma década, eles não teriam conseguido capturar a autoimolação de Bouazizi. Se menos pessoas estivessem conectadas nas redes sociais, as notícias não seriam virais. Se menos pessoas tivessem acesso a TV, rádio e Internet, não teriam sido inspiradas a se revoltarem contra seus próprios regimes. Se menos refugiados tivessem acesso a transporte para levá-los de suas áreas de origem a outras, eles não teriam conseguido fugir para a Inglaterra ou a Alemanha, os países mais ricos da União Europeia. Enfim, a grande interdependência entre todas essas variáveis ​​teve consequências globais.

A imprevisibilidade é, em si mesma, uma das marcas mais características da complexidade, conforme afirma Sunnie. O que gerava os líderes de sucesso na Era Industrial (ou seja, conhecimento técnico, pontos fortes pessoais como carisma e visão, e foco na eficiência organizacional por meio de iniciativas na linha dos processos estruturados), simplesmente não funcionará na imprevisibilidade desenfreada da era VUCA. A boa notícia é que a complexidade negativa pode, de fato, ser aproveitada para criar complexidade positiva, porque os princípios subjacentes que regem os dois são os mesmos. A triste notícia é que muito poucas organizações estão preparadas para operar nesse nível mais alto de complexidade.

E Sunnie Giles apresenta um guia básico para que qualquer organização possa transitar no mundo VUCA:

  1. Mover da hierarquia para a auto-organização, o que significa envolver todos os níveis da organização nas decisões a serem tomadas, desde aqueles que estão no relacionamento com os públicos de interesse, como aqueles que participam de atividades internas e de produção;
  2. Passar da informação sigilosa e protegida para a democratização da informação, criando programas de capacitação dos colaboradores na tomada de decisões, a par de promover uma comunicação longe de jogos de poder e atritos;
  3. Acelerar as interações entre as pessoas, tanto quanto possível. Na era VUCA, a velocidade é mais importante que a perfeição, ou seja, deve-se definir a expectativa e uma ordem interna para que todos possam responder demandas em algumas horas e não em longos dias, e, finalmente;
  4. Usar regras simples para tomar decisões rápidas contra análises perfeitas para decisões demoradas.

Esses exemplos mal arranham a superfície do que é necessário para iniciar a transição de uma empresa comum para uma empresa Quantum (aquela que é capaz de prosperar no VUCA). Dar qualquer passo para começar a transição é melhor do que esperar – ou pior que isso, ficar paralisado e enterrar a cabeça na areia, pois o cenário está mudando rapidamente.

Sugiro assistir a palestra dada pela Sunnie há um ano, no TED de Salt Lake City e conhecer mais sobre o assunto (clique aqui). E lembre-se: todos nós sabemos, pois faz parte da história do mundo, que qualquer organismo que não se adapta ao ambiente enfrentará, certamente, a extinção.

Mario Divo Author
Mario Divo possui mais de meio século de atividade profissional ininterrupta. Tem grande experiência em ambientes acadêmicos, empresariais e até mesmo na área pública, seja no Brasil ou no exterior, estando agora dedicado à gestão avançada de negócios e de pessoas. Tem Doutorado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) com foco em Gestão de Marcas Globais e tem Mestrado, também pela FGV, com foco nas Dimensões do Sucesso em Coaching (contexto brasileiro). Formação como Master Coach, Mentor e Adviser pelo Instituto Holos. Formação em Coach Executivo e de Negócios pela SBCoaching. Consultor credenciado no diagnóstico meet® (Modular Entreprise Evaluation Tool). Credenciado pela Spectrum Assessments para avaliações de perfil em inteligência emocional e axiologia de competências. Sócio-Diretor e CEO da MDM Assessoria em Negócios, desde 2001. Mentor e colaborador da plataforma Cloud Coaching, desde seu início. Ex-Presidente da Associação Brasileira de Marketing & Negócios, ex-Diretor da Associação Brasileira de Anunciantes e ex-Conselheiro da Câmara Brasileira do Livro. Primeiro brasileiro a ingressar no Global Hall of Fame da Aiesec International, entidade presente em 2400 instituições de ensino superior, voltada ao desenvolvimento de jovens lideranças em todo o mundo.
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