
Mulheres sub-representadas na Inteligência Artificial: Um Desafio Urgente e Estratégico
Apesar dos avanços em diversidade no mercado de trabalho, a presença feminina na área de Inteligência Artificial (IA) ainda é drasticamente desigual. Dados recentes revelam que apenas 29% da força de trabalho que atua com IA é composta por mulheres. Isso evidencia uma lacuna significativa em um setor que molda o futuro da economia, da ciência e da sociedade.
Esse número foi apontado em um levantamento da Randstad em 2024, refletindo uma realidade global de exclusão histórica, estrutural e persistente. Em alguns países e segmentos técnicos mais avançados, como o desenvolvimento de algoritmos e ciência de dados, esse percentual pode cair para menos de 22%, de acordo com estudos do Fórum Econômico Mundial e da Deloitte.
Esse descompasso entre gêneros é, sem dúvida, resultado de múltiplos fatores.
Um dos principais é a desigualdade no acesso à formação em ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM), especialmente em níveis mais avançados. Embora as mulheres representem cerca de 38% das formandas em cursos STEM globalmente, apenas 31,6% chegam a ocupar cargos na área e menos de 14% alcançam posições executivas.
Além disso, programas de qualificação em IA ainda são mais acessíveis aos homens. Um estudo recente apontou que mulheres têm 5% menos probabilidade de serem expostas a treinamentos em inteligência artificial. Elas também relatam menor percepção de preparo para atuar na área. Apenas 30% das entrevistadas afirmam sentir-se confiantes para aplicar IA em seus contextos profissionais, contra 35% dos homens.
Outro obstáculo importante está na falta de representatividade feminina nas lideranças das empresas de tecnologia e nos conselhos decisórios de grandes organizações de IA. Um exemplo marcante foi o caso da OpenAI, cujo conselho em 2023 era formado exclusivamente por homens brancos. Essa composição gerou críticas e acendeu o alerta sobre os riscos da homogeneidade nos espaços de decisão.
Essa ausência de vozes femininas na liderança compromete não apenas a diversidade de pensamento, mas também a segurança e a equidade nos produtos desenvolvidos. Sistemas de IA treinados e validados sem diversidade tendem a reproduzir e amplificar preconceitos, afetando diretamente mulheres, especialmente negras, indígenas e periféricas, em áreas como reconhecimento facial, seleção de currículos, crédito e atendimento à saúde.
A sub-representação feminina também é evidente na produção científica e na inovação tecnológica.
Em média, apenas 13% a 15% dos autores de artigos científicos sobre IA são mulheres. Além disso, pesquisas demonstram que embora as mulheres submetam menos códigos e projetos técnicos em plataformas como GitHub, suas contribuições apresentam, em geral, maior qualidade técnica e engajamento comunitário quando comparadas às dos homens. Isso revela um potencial criativo e técnico que está sendo subaproveitado por barreiras estruturais, preconceitos implícitos e falta de visibilidade.
Paradoxalmente, a IA também pode ser uma poderosa aliada na elevação da produtividade das mulheres, especialmente na conciliação entre vida pessoal e profissional. Ferramentas de automação, organização de tarefas, análise de dados e produção de conteúdo com apoio de IA generativa já estão ajudando mulheres empreendedoras, gestoras e profissionais liberais a ganharem tempo, reduzir carga mental e ampliarem sua capacidade de entrega com mais agilidade e foco.
Quando aplicada com ética e acessibilidade, a inteligência artificial pode funcionar como um instrumento de libertação do tempo. Ela possibilita que mais mulheres ocupem espaços de liderança sem sacrificar sua saúde mental ou qualidade de vida.
No entanto, essa potência só será, de fato, plenamente alcançada se houver equidade no acesso às tecnologias e segurança de dados. Além disso, oferecer qualificação adequada para que as mulheres possam utilizá-la com autonomia e consciência crítica.
Para mudar esse cenário, precisamos de um esforço articulado entre governos, empresas, instituições de ensino e a sociedade civil.
No campo da educação, é urgente promover o letramento digital de meninas desde cedo, com acesso a ferramentas tecnológicas, oficinas de robótica, programação e lógica aplicada, além da presença de professoras capacitadas e modelos femininos de referência.
As universidades e centros de inovação devem rever seus currículos para incluir diversidade de gênero e interseccionalidade nos temas de tecnologia e ciência de dados. As empresas, por sua vez, precisam garantir acesso igualitário a programas de qualificação em IA, criando trilhas específicas para mulheres, com mentorias, apoio emocional e incentivo à permanência nos cargos mais técnicos e de decisão. Investimentos em políticas de recrutamento inclusivo, metas de equidade e avaliação contínua de viés algorítmico nos sistemas desenvolvidos são também medidas fundamentais.
Um caso prático: no IVG temos um núcleo de Diversidade e Inclusão. Nele, intensificamos os processos para atrair mulheres destacando raça e gênero, e inserimos a importância da IA em várias palestras.
No setor público, políticas de incentivo fiscal para startups fundadas por mulheres e editais exclusivos para pesquisas lideradas por cientistas mulheres são, de fato, medidas fundamentais. Além disso, exigências de diversidade em projetos de tecnologia financiados com recursos públicos podem criar um ecossistema mais justo e inovador.
Já na sociedade civil, programas de aceleração de carreira, redes de apoio e visibilidade para as mulheres que já atuam com IA são cruciais para inspirar novas gerações e mostrar que esse é, de fato, um espaço para todas.
A inteligência artificial é uma das ferramentas mais poderosas do nosso tempo.
Porém, se for construída por apenas uma parte da população, ela refletirá apenas uma parte da realidade.
Incluir mais mulheres no desenvolvimento, uso e liderança de tecnologias emergentes não é apenas uma questão de justiça social — é uma estratégia essencial para criar soluções éticas, criativas e sustentáveis. Ampliar a participação feminina na IA não é apenas corrigir uma distorção histórica: é ativar um potencial transformador capaz de redefinir o futuro do trabalho, da inovação e da humanidade.
Gostou do artigo?
Quais ações concretas você acredita que poderiam acelerar a participação feminina na Inteligência Artificial e garantir mais diversidade no setor? Entre em contato comigo! Terei o maior prazer em responder.
Até a próxima!
Luciana Soares Passadori
https://www.passadori.com.br
Confira também: Negociáveis e Inegociáveis: O Poder do Diálogo nas Relações e na Liderança
Participe da Conversa