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Meditação: uma técnica para o processo de Coaching e de busca de sentido!

Grande parte das pessoas que buscam um Coach, estão num estado de “ansiedade”. A ansiedade surge de um pensamento obcecado pelo futuro. A meditação traz o cliente ao momento presente, algo fundamental no Coaching.

Quando fiz o curso de formação de coaches no Instituto Ecosocial, uma das frases que sempre ouvíamos no inicio dos encontros era a do Herman Hesse que dizia: “Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo.”

E essa frase me marcou muito. Isso porque vivemos numa época em que vivenciamos, por um lado, uma série de profissionais que se formam como especialistas e acreditam que sabem mais sobre os indivíduos do que eles mesmos e, por outro lado, pessoas que buscam receitas prontas. Nesse contexto, essa citação é, no mínimo, ousada.

Alguns clientes chegam ao processo de Coaching buscando um profissional para dar um caminho, dizer o que é preciso fazer e buscar respostas. E, logo no início, temos que esclarecer que esse não é o papel do Coach. O Coach atua por meio de perguntas. Até aí, tudo bem…

Agora, um desafio surge! Atuar por meio de perguntas, faz com que o cliente traga “para fora” um pouco do seu “mundo interno”. Por meio de perguntas, tentamos tornar o mundo do cliente visível. Todavia, alguns clientes têm pouco contato com seu mundo interno, o que torna essa tarefa mais difícil e, algumas vezes, menos transformadora. E assim, muitas vezes, atuamos com as ferramentas de feedback, nas quais outras pessoas trazem suas percepções do cliente. O olhar do outro é uma ferramenta fundamental no nosso processo de desenvolvimento. Entretanto, obviamente, não devo substituir o nosso próprio olhar.

Herminia Ibarra em seu livro “Identidade de carreira”, esclarece que a nossa plenitude profissional é alcançada quando conseguimos unir quem nós somos com o que fazemos. Ou seja, resolver a equação: quem sou eu? = o que eu faço. Mas, boa parte das pessoas “travam” com a pergunta: “Quem é você?” Ou melhor dizendo, quem é você além do seu cargo?

Assim, comecei a me inquietar quando percebia que o processo de Coaching não evoluía tanto. (OK! Sei que o processo não é meu, que o processo é do cliente. E cada cliente vai até o seu limite.) Mas, como uma facilitadora desse processo de desenvolvimento, acredito que posso dar um impulso, alguma chave para o cliente tomar contato com esse seu “mundo interno”. E nesse cenário, surge a meditação como uma das possibilidades. Vale lembrar, que a meditação é apenas UMA dentre as inúmeras formas de trabalhar o contato com esse mundo interno. E também, que a escolha é sempre do cliente. Para alguns, depois de um brainstorming de possibilidades, outras ações são adotadas. E obviamente, não é em todo processo que essa ferramenta surge como alternativa.

E porque a meditação é uma boa ferramenta de apoio no processo de Coaching?

Vivemos numa época na qual o indivíduo é sempre lançado para o mundo externo. Como dizia Viktor Frankl, psiquiatra austríaco, as pessoas perderam o contato consigo mesmas e a todo momento buscam novas formas de “se distrair.”

Outrossim, alguns mestres da meditação, falam da incapacidade de ficarmos em silêncio na modernidade. Muitas pessoas acordam, tomam café assistindo o jornal, entram no carro, ligam o rádio, chegam no escritório, passam horas em reuniões, depois voltam para casa, assistem TV, respondem mensagens de celular, dormem e o novo dia se inicia. E essa espécie de “piloto automático” é perpetuada. Nesse contexto, fica muito difícil que o cliente atinja um grau de percepção mais profundo ou aumente a consciência da situação que está vivenciando.

Vale lembrar, que a modernidade é marcada por uma “crise de sentido”. Com o enfraquecimento das instituições religiosas e de outras formas tradicionais de sentido (Estado, família etc.) surgem inúmeros “fornecedores” de sentido. E cabe ao indivíduo, sozinho, escolher o que lhe trará sentido. E isso, exige um elevado grau de consciência.

E como a meditação pode apoiar o processo de Coaching?

A palavra meditação vem do latim meditare, que significa “voltar-se para o centro, no sentido de desligar-se do mundo exterior” e “voltar a atenção para dentro de si”. Essa atitude de voltar-se para o centro é muito positiva dentro do processo de Coaching. Isso porque, muitas vezes, com esse olhar interno os clientes conseguem perceber os valores que foram introjetados (valores que vieram dos pais, amigos, família) e os valores intrínsecos (seus valores autênticos).

Além disso, grande parte das pessoas que buscam um Coach, estão num certo estado de “ansiedade”. A ansiedade surge de um pensamento obcecado pelo futuro. A meditação valoriza muito o tempo presente. Assim, trabalhamos um plano de ação futuro, todavia sempre investigamos o que o podemos começar a fazer agora, no momento presente. O foco excessivo no passado pode causar uma certa “depressão” e o foco obcecado pelo futuro gera “ansiedade”. A meditação traz o cliente para o momento presente, algo fundamental no Coaching.

E o mais importante, a meditação ajuda-nos a nos tornar nós mesmos. A prática meditativa nos leva ao encontro daquilo que fomos chamados a ser. A meditação nos permite entrar em contato com o nosso “eu superior” e sair do piloto automático do “eu cotidiano”.

E para finalizar, vale ressaltar que o processo de Coaching leva o indivíduo para a ação. Todavia, devemos nos atentar para que ação é essa. O tempo de pausa entre as sessões, deve ser utilizado para esse contato com o mundo interior para inspirar ações e escolhas conscientes. Como dizia, Thomas Merton, ação e contemplação desenvolvem-se ao mesmo tempo para integrar-se em uma só vida e unidade. A ação é correnteza; e a contemplação é o manancial. Como Coach, posso dar o impulso para o encontro com o manancial, onde a própria alma habita. Já que, no dia a dia, grande parte das pessoas vivem na correnteza. Vale lembrar, que alma vem do latim animu, que significa “o que anima”. Uma visão de futuro e um plano de ação que realmente fortalece a vontade do individuo tem que ser inspirado pela alma.

Assim, para tornarmos o mundo interno visível precisamos primeiro entrar em contato com ele. A meditação é uma excelente prática para isso. E como diz Helio Leites: “Quando a gente vai procurar o que fazer dentro da gente acontece uma coisa incrível…a gente sempre acaba fazendo alguma coisa que a gente gosta. E fazer o que a gente não gosta é o pior desemprego do mundo.”

E isso é tudo!

Taynã Malaspina é graduada em Comunicação Social pela ESPM, com mestrado e doutorado em Psicologia Social pela PUC-SP. No mestrado, estudou a relação entre trabalho, felicidade e sentido para jovens. Atualmente faz parte do núcleo de pesquisa do programa de doutorado em Psicologia Social (PUC-SP) e investiga o tema de projeto de vida. Autora do livro “Geração Y e busca de sentido na modernidade líquida e também do livro “O Trabalho contemporâneo no Brasil: desafios e realidades”. Dentro do mundo organizacional atuou na área de marketing de empresas como: Camargo Corrêa, Amanco e Samsung. Sócia-diretora da Oficina da Estratégia, consultoria especializada em pesquisa de mercado e planejamento estratégico. Coach formada pelo Instituto Ecossocial, com certificação ACC pela International Coach Federation (ICF). Formação em Coaching de Conflitos pelo Instituto Trigon – Entwicklungsberatung. Também participou do workshop de Comunicação Não Violenta no Instituto Ecossocial. Professora no curso de graduação em Administração e Recursos Humanos nas disciplinas de Gestão de Pessoas, Psicologia Aplicada, Ética e Qualidade de Vida. Fundadora do Movimento por um Trabalho com Sentido.
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