
Maternidade: A Modernidade e o Desafio de Ser Mãe no Brasil Atual
A maternidade, enquanto experiência humana universal, é vivida de formas profundamente distintas de acordo com o contexto socioeconômico em que as mulheres estão inseridas.
No Brasil, as desigualdades sociais impactam diretamente o momento, as condições e o significado da maternidade.
Se analisarmos comparativamente como as mulheres das classes menos favorecidas e das classes mais altas vivenciam a maternidade, temos que considerar fatores como planejamento reprodutivo, acesso à saúde, apoio institucional, construção de identidade materna e da sociedade.
Entre as mulheres de baixa renda, a maternidade costuma ocorrer de forma precoce, muitas vezes ainda na adolescência. Esse fenômeno está relacionado à falta de acesso a informações sobre sexualidade e contracepção, à precariedade dos serviços de saúde reprodutiva e à influência de normas culturais que associam o valor feminino à maternidade. Em muitos casos, a gravidez não é uma escolha deliberada, mas resultado de um contexto marcado pela ausência de oportunidades educacionais e profissionais.
Além disso, o suporte do Estado é frequentemente insuficiente para atender às necessidades dessas mães, que enfrentam dificuldades para concluir os estudos, inserir-se no mercado de trabalho e garantir o bem-estar de seus filhos. A maternidade, nesse cenário, pode representar tanto uma sobrecarga quanto uma forma de status social e pertencimento comunitário.
Por outro lado, pode trazer no seu bojo famílias disfuncionais, mães com filhos de diferentes pais, que não assumem a paternidade. Filhos que, se não desenvolverem a resiliência com os constantes desalentos da vida, podem se conduzir por caminhos tortuosos, de muito sofrimento, poucas oportunidades e repetir a história dos seus progenitores.
Ainda vemos, nas classes menos favorecidas socioeconomicamente, mães que assumem toda a responsabilidade na criação de seus filhos e transmitem valores, que produzem cidadãos que avançam em níveis de educação e trabalho nunca alcançados pela progenitora. Vemos muitos exemplos de profissionais que se formaram em universidades, com mães de instrução básica e empregos menos valorizados pela sociedade (mesmo que sejam fundamentais).
Verifica-se que as mulheres das classes menos favorecidas enfrentam obstáculos que as expõem a riscos físicos, emocionais e sociais. Por outro lado, mulheres de classes altas acumulam condições favoráveis para exercer a maternidade de forma planejada e assistida.
A diferença não está apenas no momento da gravidez, mas em todo o processo de ser mãe. Ela se manifesta no acesso ao pré-natal, no tipo de parto, na possibilidade de amamentação, no tempo dedicado aos filhos e nos recursos disponíveis para garantir seu desenvolvimento. Assim, a maternidade funciona, muitas vezes, como um mecanismo de perpetuação da desigualdade social entre gerações.
O acesso ampliado à educação superior fez com que as mulheres passassem mais tempo estudando, independentemente do nível socioeconômico. Faz com que elas priorizem a carreira, ter estabilidade financeira antes de pensar em ter filhos, o que naturalmente atrasa planos familiares.
Geralmente, nas classes média e alta, observa-se um aumento da maternidade tardia.
Trata-se de um tema cada vez mais relevante nas sociedades contemporâneas, especialmente em países onde o acesso à educação e ao mercado de trabalho pelas mulheres aumentou significativamente.
O termo se refere, geralmente, à escolha (ou condição) de engravidar após os 35 anos. Essa é uma fase da vida em que, tradicionalmente, a fertilidade começa a declinar. Ainda assim, muitas mulheres optam por viver a maternidade devido a diversos fatores.
Os casamentos e uniões estáveis estão ocorrendo mais tarde, com o adiamento dos relacionamentos duradouros, a maternidade também é adiada.
Algumas mulheres escolhem não ter um parceiro ou optam por produzir uma maternidade solo e planejada.
A natureza é sabia: a quantidade e qualidade dos óvulos diminuem com o tempo. Mulheres entre 35 e 39 anos já enfrentam maior dificuldade para engravidar espontaneamente. Depois dos 40 anos, as chances de engravidar diminuem e os riscos aumentam. A ciência surge como aliada para que as mulheres possam optar por uma maternidade tardia. Já existe a opção de congelamento de óvulos, banco de espermas e a inseminação artificial.
A opção pela adoção envolve compreender que se trata de uma forma legítima, consciente e, muitas vezes, transformadora de exercer a maternidade. O vínculo entre mãe e filho não nasce da gestação biológica, mas da decisão voluntária de acolher e cuidar. Além disso, pode estar associada a uma realização planejada. A adoção pode ser exercida por qualquer pessoa, independentemente da sua orientação sexual.
A forma como uma empresa trata a maternidade de suas colaboradoras é um indicativo direto de sua maturidade social.
Embora existam avanços, ainda há uma cultura corporativa resistente (discriminação velada, assédio moral, estigma) à ideia de que as mulheres podem ser excelentes profissionais e mães ao mesmo tempo. Mudar essa mentalidade não é apenas uma questão de justiça de gênero. Trata-se também de estratégia empresarial: ambientes inclusivos retêm talentos, aumentam a produtividade e refletem valores humanos essenciais.
Um relatório da GPTW (Great Place to Work) de 2022 apontou que apenas cerca de 30% das empresas brasileiras oferecem políticas de apoio ampliado à maternidade, como licença-maternidade estendida, sala de amamentação ou flexibilidade de horário.
No mundo, segundo dados da OIT (Organização Internacional do Trabalho), cerca de 40% das empresas em países desenvolvidos oferecem algum tipo de apoio além do mínimo legal. Esse número é bem menor em países em desenvolvimento, muitas vezes abaixo de 20%.
Licença parental igualitária ainda é raro.
Menos de 10% das empresas globais têm políticas de licença igual para mães e pais, algo que favoreceria a igualdade de gênero no trabalho e reduziria o estigma da maternidade.
Na modernidade em que vivemos, ainda compreender as distintas realidades da maternidade no Brasil exige sensibilidade para as desigualdades que atravessam o corpo e a vida das mulheres. A construção de políticas públicas efetivas passa por garantir o direito ao planejamento reprodutivo, à informação, à saúde de qualidade e ao suporte social, permitindo que toda mulher — independentemente de sua classe social — possa exercer a maternidade como um ato de escolha, e não de imposição. Reduzir o abismo entre essas experiências maternas é, portanto, uma tarefa urgente para a justiça social e a equidade de gênero.
A maternidade tem uma relação direta com a perfeição da criação: nada existe no mundo sem a fecundação, nós não existiríamos sem ela. O vinho só existe, porque uma semente foi plantada, uma fruta foi colhida e trabalhada. Isso significa que a maternidade é o princípio básico da sociedade humana. Valorizar uma mãe é se importar com o futuro de todos.
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Quer saber mais sobre como a maternidade no Brasil é moldada pelas desigualdades sociais, quais os desafios de ser mãe e o que podemos fazer para transformar essa realidade? Então entre em contato comigo. Terei o maior prazer em responder.
Até lá!
Natalia Marques
Psicóloga, Coach, Mentora e Palestrante
http://www.nataliamantunes.com.br/
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