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Máscaras e a pandemia

Há pessoas que se revestem tanto de suas máscaras que acabam por fazer parte do seu sistema como premissas verdadeiras, esquecendo-se de quem são.

Máscaras

Máscaras e a pandemia

Dentre inúmeros cursos que tive o privilégio de fazer ao longo da minha jornada, participei de um curso de teatro no Teatro-Escola Macunaíma, na época coordenado pelo ator Sylvio Zilber. Confesso que gostava muito, pois a cada aula eram apresentadas novidades, desafios e tínhamos um grupo muito divertido, além de todos levarem o assunto a sério.

Sempre tínhamos vivências, ou individuais ou em grupo, estudos sobre Stanilawski, mas nas práticas é que tínhamos insights interessantes e deles me lembro até hoje. Por exemplo, em uma vivência, todos em pé, encostados na parede da sala. O Sylvio nos fez uma afirmação: “O ser humano caminha quando se desequilibra” e perguntou o que pensávamos a respeito. Surgiram várias discordâncias, desde o sonho até a motivação, desde uma ordem de um superior até o desejo de caminhar.

Diante desse tumulto por ele criado, pediu que nos encostássemos na parede, com o corpo ereto. Na sequência pediu que nos afastássemos da parede, cerca de cinco centímetros, mantendo a coluna ereta; depois mais cinco centímetros, e mais, e mais, até que chegamos no nosso limite. Estávamos a ponto de cair e estatelarmos no chão, mas para nossa surpresa ele disse: “Mais cinco centímetros”. Só que em vez cair, para não nos machucarmos, demos um passo à frente. Dessa forma entendemos o sentido da afirmação, pois é na sequência de desequilíbrios que caminhamos.

Uma outra vivência extraordinária era quando trabalhávamos com máscaras. E essa lembrança me traz ao momento atual no qual estamos sendo obrigados, pela pandemia, a usar máscaras. Seremos multados se não as estivermos usando socialmente e estabelecimentos comerciais também serão, caso permitam que usuários sejam encontrados sem máscaras.

As máscaras sempre foram utilizadas no teatro, desde os primórdios do teatro grego, nas apresentações das tragédias e somente os homens podiam representar e utilizavam máscaras para a simulação de papéis femininos.

Há vários grupos de máscaras, desde as neutras, que não tinham expressões e caberia então ao ator utilizar o seu corpo para a devida expressão do que era proposto para representar. As máscaras expressivas, em sintonia com o corpo expressavam as ideias e emoções, desde alegria, tristeza, raiva, melancolia, etc.

Cito isso, porque as máscaras no teatro tinham objetivos específicos e tomadas de consciência de quão facilitava a representação de papéis. Em nossos exercícios, no curso de teatro, imaginávamos ficar envergonhados ao utilizá-las, mas curiosamente nos libertávamos de conceitos e preconceitos e nos soltávamos. Isto desde a imitação de gritos roucos e agonizantes, até cantar e falar o que não falaríamos na nossa postura social, nem soltaríamos o nosso corpo para a expressão das mais diversas emoções: alegria, tristeza, medo, raiva. Além disso eram atividades, na época, muito divertidas. No entanto, ao tirá-las, nos revestíamos dos limites impostos pelos padrões limitadores aos quais estávamos acostumados.

Mais curioso ainda é que há estudos sobre as máscaras sociais, aquelas que usamos para mostrar quem não somos, representando papéis, em outras palavras, a nossa personalidade. De um lado existe a identidade, que representa a nossa essência, quem somos de verdade. De outro, a nossa personalidade que é formatada por comportamentos convencionais ou aprendidos ao longo da nossa vida.

É por isso que há pessoas que se revestem tanto de suas máscaras que acabam por fazer parte do seu sistema como premissas verdadeiras, esquecendo-se de quem são.

É possível uma pessoa destruir a sua identidade e ser apenas o papel que representa, ou seja, a máscara que adotou. Desse modo gerando transtornos psicológicos, como um estado de profunda tristeza, revolta, insatisfação na vida, sendo infeliz, tornando-se vazia, vivendo uma vida sem sentido.

Também a máscara pode ser um recurso para dominar, a exemplo de antigos guerreiros em batalhas, tornando-se ou melhor, sentindo-se poderosos. As máscaras lhes revestiam de uma persona, impulsionando-os para lutarem até morrer. Há outras formas mais sutis na manipulação do uso das máscaras, por isso, quando a usarmos em função da pandemia que nos envolve nesse período, tenhamos a consciência de nossa essência e fazermos a escolha de utilizá-las com essa percepção, pois estamos fazendo um bem para nós mesmos e, em especial, para as outras pessoas.

Entendo fundamental essa reflexão, pois mascarados socialmente, cobrimos a nossa identidade, a nossa essência e também com consciência a utilizamos para o nosso bem e também das outras pessoas.

Reinaldo Passadori
https://www.passadori.com.br/

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Reinaldo Passadori é fundador, palestrante e CEO da Passadori – Comunicação, Liderança e Negociação, especialista em comunicação e mestre em neuromarketing pela FCU – Florida Christian University. É idealizador e apresentador do programa Comunicação Executiva, no qual promove entrevistas e debates do mundo corporativo. Com 33 anos de história formou mais de 100.000 pessoas na habilidade da comunicação verbal, não verbal e liderança. É Autor dos livros Comunicação Essencial, As 7 Dimensões da Comunicação Verbal, Media Training e Quem Não Comunica, Não Lidera.
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