Você costuma observar um fato ou costuma julgar de imediato?
Na verdade, a primeira coisa que fazemos é julgar quase de imediato qualquer fato, ou seja, em 1,2 milésimos de segundos é o tempo que levamos para julgar alguém ou uma situação.
Fatos observáveis trazem na verdade um senso de realidade compartilhada e traz consciência para a percepção.
Um fato observável é algo que pode ser descrito de forma neutra e objetiva, com base no que foi ouvido, visto, tocado, cheirado ou sentido. Podemos considerar um fato observável como uma cena de filme. São eventos e comportamentos que podem ser verificados e descritos.
Por exemplo: “ontem quando te enviei algumas mensagens e não obtive resposta, fiquei sem saber se você estava em segurança.”
Na Bíblia temos no capítulo de Mateus 7:1 a seguinte frase:
“Não julguem para que não sejam julgados. Pois da mesma forma que julgam, vocês serão julgados.”
E como esquecemos dessa frase, parece que ela nunca existiu e jamais reverberou, pois continuamos jugando, condenando, avaliando e criticando o outro, sem saber nada sobre ele.
Marshall Rosenberg nos diz que “no mundo dos julgamentos, o que importa é quem é o que”. Quando culpamos estamos sempre procurando quem fez o que. Os juízos de valor ou julgamentos moralizadores são, de fato, as interpretações feitas e passadas como verdade, porque os fatos e julgamentos vêm tudo junto. E vêm tudo junto porque está inserido no binário que é parte da nossa vida, ou seja, o certo e errado, o bom e mau, o bem e mal.
Costumo enfatizar que quando utilizamos os adjetivos a tendência é utilizar os julgamentos moralizadores e mesmo no positivo não deixa de ser um julgamento.
Você já utilizou ou já ouviu as frases: “você é egoísta”, “você é preguiçosa”, você é preconceituosa”, “você é legal”, “ela é simpática”, etc? O que você sente com essas frases?
Essas frases podem ter culpa, insulto, depreciação, comparação, rótulo, análise, dentre outros e todos são formas de julgamento.
Os julgamentos não são errados, mas é importante que tenhamos consciência que faz parte de nós e que muitas vezes misturamos fatos observáveis com julgamentos moralizadores ou juízos de valor.
Os conflitos na sua maioria nascem desses julgamentos moralizadores que fazemos de forma automática, sem pensar, sem refletir e em muitas ocasiões cheios de distorções e vieses. Kahneman nos diz que é nosso sistema 1 em ação.
Os julgamentos envolvem interpretações, avaliações subjetivas e interpretações que estão associados à própria experiência e vivência apreendidas há muito tempo, que estão inseridas nas crenças e na cultura da civilização humana desde os primórdios da época.
Se observarmos a condenação de Jesus Cristo, e aí separando da religião, pergunto: qual o fato observável, concreto pela qual ele foi condenado?
Quando fazemos julgamento sobre alguém, ele está repleto de emoções, sentimentos e pensamentos, diversas vezes distorcidos. Por exemplo: condenar alguém que matou uma pessoa. Eu não posso dizer que ela é má ou perversa, sem antes saber da sua história e o que a levou a fazer o que fez.
Isso não significa que ela não deva ser responsabilizada pelo que fez. Mas como posso ter certeza de que minha interpretação – de que ela é má – é realmente verdadeira? O fato observável é que uma pessoa tirou a vida de outra e será, de fato, responsabilizada por isso. No entanto, rotulá-la como má é outra questão.
Fatos observáveis e julgamentos moralizadores são duas das 25 distinções na comunicação não violenta. É importante não confundi-los. Precisamos adotar uma visão sistêmica para entender como cada um se manifesta na comunicação. Revisitar nossos julgamentos imediatos é crucial, pois corremos o risco de condenar alguém baseado apenas em nossa interpretação e/ou está no viés inconsciente coletivo. E que se eu fizer igual serei, certamente, excluído do grupo.
Na CNV, vale lembrar que quanto menos julgamentos moralizadores fizermos, menos seremos propensos a que a outra pessoa entre no seu modo de defesa e o conflito instalado, ou venhamos a nos arrepender depois.
Lembro de algumas notícias registradas pelas mídias e essa faz pelo menos uns 25 anos, quando uma criança teve um problema na escola e alguém disse que ela havia sofrido abuso infantil. Vários de nós quando escutamos o noticiário condenamos os proprietários, sem antes saber da versão deles e se realmente era verdade.
A vida dessas pessoas foi manchada, jogada no lixo e depois de alguns meses foi descoberto que tinha sido mentira, mas o estrago já estava feito e eles jamais se reergueram.
Quando nos concentramos nos fatos observáveis procuramos descrever como já escrevi acima, como se captasse a cena de um filme, o que não dá margem para interpretações.
Dessa forma poderemos construir uma comunicação mais aberta, procurando manter uma compreensão mútua, cuidar da relação com o outro e ser possível chegar a uma melhor mediação nos conflitos.
Gostaria de fazer um convite para que toda vez que você for condenar alguém se pergunte antes: será que isso é verdade? Será que não estou me deixando influenciar pelo coletivo? Como posso saber mais sobre essa pessoa ou essa situação?
E sabe como podemos chamar também? De autorresponsabilidade.
Gostou do artigo?
Quer saber mais como a CNV pode te ajudar a superar julgamentos imediatos e construir uma comunicação mais aberta e empática? Então, entre em contato comigo. Terei o maior prazer em ajudar.
Um grande abraço,
Wania Moraes Troyano
Especialista em Resiliência Científica e Neurociências
http://www.waniamoraes.com.br/
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