
Entre o Jogo e o Propósito: Por que Profissionais Evitam o Mundo Corporativo e a Política Organizacional
Olá!
Esses dias, durante uma mentoria com um grupo de jovens talentos, uma frase surgiu com força e encontrou eco imediato entre os demais: “Eu não sirvo pra isso. Não sei fazer política.”
Não era uma confissão. Era quase um desabafo.
E lá estava, mais uma vez, a tensão silenciosa entre o que se espera de um profissional bem-sucedido e o que se vive, de fato, dentro das estruturas corporativas. Muitos entregam, colaboram, estudam, desenvolvem soluções, mas se veem tropeçando em algo invisível — mas decisivo. Não é a competência que falta. É o código social. As entrelinhas. O tal do “jogo de cintura”. Gente boa, bem-intencionada, que sonhava em contribuir com um propósito… e se frustra ao perceber que o jogo é outro. A política que não se vê, mas se sente.
Quando falamos de “política organizacional”, é comum que surjam reações negativas. Para muitos, a palavra remete à bajulação, ao favoritismo, à manipulação. Isso é politicagem. Não é disso que estamos falando.
A política, em seu sentido mais elevado, é o exercício do convívio. É a arte de construir alianças, de mediar interesses, de administrar conflitos. Política é saber se posicionar, saber ouvir, saber influenciar — e deixar-se influenciar também. É viver em comunidade. João Paulo II dizia que política é o uso legítimo do poder para o bem comum. Puebla acrescenta que ela define a ética das relações sociais. E a CNBB, com simplicidade, afirma que fazer política é um gesto de caridade. E é mesmo!
O problema começa quando confundimos política com a necessidade de agradar. Ou pior: com a permissão para ferir valores em nome de objetivos pessoais. O jogo que nem todos querem jogar.
No mundo corporativo, há quem domine com maestria as regras do jogo informal: quem circula bem entre os diferentes setores, que sabe quando e como falar, que percebe os sinais invisíveis nas relações. Gente que parece ter nascido com um “radar social” incorporado.
Mas também há quem estranhe tudo isso. Para essas pessoas, a vida profissional deveria ser como um tabuleiro limpo, com regras claras, objetivos bem definidos e reconhecimento por mérito. Trabalhar, entregar, evoluir. Simples assim. Mas não é. E quando percebem que a promoção não veio por resultado, que a ideia foi engavetada por falta de “patrocinador”, que a reunião decisiva aconteceu num jantar do qual não participaram, então o desalento aparece. E com ele, uma dúvida: o problema sou eu ou o sistema?
Ninguém escapa da política.
Platão já alertava: “Quem não gosta de política será governado por quem gosta”. E isso vale também para o ambiente corporativo. Ao optar por ignorar as dinâmicas informais, o profissional não escapa do jogo — apenas joga mal. Ir de cara lavada ao baile de máscaras pode ser um ato de coragem, mas também pode ser ingenuidade. A política existe, quer você goste ou não. A questão não é evitá-la, mas decidir como participar dela — e até onde. Saber fazer política não significa trair seus valores, mas entender que relações importam. Que influência conta. Que articulação é uma competência. Inteligência comportamental e maturidade política.
Aqui entra um ponto crucial: inteligência comportamental.
Ser inteligente do ponto de vista comportamental é reconhecer o ambiente, identificar os jogos que estão sendo jogados, entender as motivações dos outros e assim ajustar sua atuação sem perder a integridade. É maturidade. É lucidez.
O profissional com inteligência comportamental não precisa ser o mais carismático, nem o mais falante. Mas ele sabe ler a sala. Sabe perceber quando é hora de recuar ou avançar. Sabe silenciar sem omitir-se. E sabe agir com intenção — não por impulso. É essa inteligência que faz com que alguns profissionais brilhem em ambientes complexos, enquanto outros — mesmo tecnicamente brilhantes — se percam no labirinto das relações humanas.
Há também quem escolha sair. Quem percebe que seu propósito não cabe mais dentro do crachá. E tudo bem. Para esses, permanecer significaria renunciar a valores fundamentais. Seria se moldar a uma lógica que não reconhecem como legítima. Seria silenciar em nome da estabilidade — e isso sem dúvida tem um preço alto. Alguns buscam novos caminhos: viram consultores, empreendedores, vão para o setor social, para a academia, para a arte. Encontram outras formas de fazer política — do jeito certo. Com consciência, com alma, com propósito.
Mas há um risco aqui: o da antipolítica.
A negação completa da política, o discurso de que “não gosto de nada disso”, abre espaço para os que a usam com fins egoístas. Isso vale para a sociedade e certamente também vale para as empresas. A história está cheia de exemplos de antipolítica desastrosa. Gente que se elegeu dizendo que ia “acabar com tudo isso que está aí” e, no fim, aprofundou as desigualdades, destruiu instituições e promoveu retrocessos. Nas empresas, o efeito é parecido. Quando os bons se retiram, então os oportunistas vencem por W.O. E a cultura se deteriora.
Entre o cinismo e a ingenuidade, existe um meio do caminho. É esse o ponto mais importante deste texto: não se trata de se render ao jogo, nem de fugir dele. Trata-se de encontrar o meio do caminho. De fato, existe um espaço nobre entre o cinismo e a ingenuidade. Um lugar onde é possível ser estratégico sem ser manipulador. Onde dá para manter o propósito sem virar mártir. Onde fazer política significa construir pontes, e não escalar muros. E se esse espaço não existir na empresa onde você está, então talvez seja o caso de procurar outra. Mas nunca de desistir de participar.
Pense nisso!
Gostou do artigo?
Quer entender melhor como equilibrar propósito pessoal e habilidade política para navegar no ambiente corporativo sem abrir mão da integridade? Então, entre em contato comigo! Será um prazer conversar sobre isso.
Até a próxima!
Edson Carli
https://inteligenciacomportamental.com
Confira também: Autorresponsabilidade Relacional: Vencemos Todas as Batalhas que Não Precisamos Lutar
Participe da Conversa