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Dia da Consciência Negra: Para que uma dia como esse?

Dia 20 de novembro é o Dia da Consciência Negra no Brasil. Apesar de já existir há mais de uma década, muitos brasileiros ainda se perguntam: como e por que surgiu o Dia da Consciência Negra? É realmente necessário um dia como esse? 

Dia 20 de novembro, Dia Consciência Negra: Para que uma dia como esse?

Dia da Consciência Negra: Para que uma dia como esse?

Dia 20 de novembro é o Dia da Consciência Negra no Brasil, instituída pela lei nº. 12.519 de 10 de novembro de 2011. Apesar de já existir há mais de uma década, muitos brasileiros ainda se perguntam: como e por que surgiu o Dia da Consciência Negra? É realmente necessário um dia como esse? Se você ainda faz essa pergunta, pode ser um indicador de que você tem baixa consciência racial. E eu tenho que confessar que te entendo.

Antes de tudo, é importante compreender que a consciência negra não é uma pregação da supremacia negra em detrimento aos brancos. Mas um convite extremamente necessário para o entendimento e compreensão dos problemas e complexidades que a escravidão deixou como legado para o Brasil.

E de que problemas especificamente são esses de que estamos falando: por exemplo, problemas relacionados a economia, o modo de produção, a mão de obra, a desigualdade socioeconômica e a formação de um povo como civilização e cultura.

Nascer uma mulher negra no Brasil me fez viver uma experiência social que hoje eu conheço como estar na base da pirâmide social brasileira. Isso significa fazer parte de um dos grupos de brasileiros mais vulneráveis e com maiores desafios para acessar os seus direitos.

Para ilustrar essa realidade, dados do IBGE de 2022 apontam que a taxa de pobreza entre pretos e pardos é quase o dobro entre pessoas brancas: 34,5% de pretos e 38,4% dos pardos vivem com R$ 468,00 mensais, que significa que 72,9% da população negra está na linha da pobreza (pretos + pardos = negros); enquanto o índice da taxa de pobreza da população branca não chega a 20% e, da média nacional a 29%, ou seja, os negros (pretos e pardos) são mais pobres que o Brasil.

Em condições ainda mais graves, na linha da extrema pobreza definida pelo Banco Mundial, 9% dos pretos e 11,4% dos pardos tem renda mensal de R$ 168,00, ou seja: 20,4% da população negra vive com R$ 168,00 por mês. Segundo o IBGE, pretos e pardos são mais da metade da população desempregada. Além disso, a renda média dos trabalhadores brancos passa de R$ 3.000,00, em contrapartida, a dos pretos e pardos não passa de R$ 1.900,00, ou seja, quase 40% a menos.

Os dados são assustadores, mas nem sempre eu tive essa consciência. Durante a maior parte da minha vida (aproximadamente 33 dos meus 40 anos vividos), eu, assim como provavelmente você, tive pouca consciência racial.

Não ter recebido uma educação racializada teve os seus impactos. Por um lado, sinto que a máxima “a ignorância é uma benção” se reflete em uma certa “proteção” emocional, dado que a consciência diária do racismo estrutural gera um grande impacto na saúde mental de pessoas não-brancas.

Por outro, hoje sou capaz de perceber diversas situações de preconceito e discriminação racial que vivi. Mas que apesar do incômodo inconsciente, não tive recursos para reagir adequadamente.

Assim como não se nasce mulher, torna-se. Nascer uma pessoa negra em uma sociedade que buscou ativamente o embranquecimento do seu povo e me educou para crer no mito da democracia racial, não garantiu a minha consciência racial.

Foi na minha experiência pessoal, trabalhando no mercado financeiro e no relacionamento com grandes empresas que comecei a me perceber frequentemente sozinha nesses espaços.

Mais tarde, com o trabalho voluntário no Comitê Igualdade Racial do Grupo Mulheres do Brasil, que fui entender como as pessoas negras desaparecem da catraca para dentro nessas mesmas empresas ao mesmo tempo em que são maioria nas periferias, entre pessoas vivendo em situação de rua e na população carcerária brasileira.

Eu sei, essa realidade não é agradável. Eu também entendo o desafio de falar sobre essa dívida histórica que recebemos dos nossos ancestrais. Especialmente para pessoas brancas que, muitas vezes, precisam reconhecer que ainda hoje recebem vantagens raciais e privilégios que não estão nada relacionados com seu mérito pessoal.

Não precisamos apenas do dia 20 de novembro, mas precisamos SIM de um mês da Consciência Negra. Isso porque ainda não conseguimos encontrar estratégias que deem conta das desigualdades raciais que ainda se sustentam estruturalmente em nossa sociedade.

Talvez esse texto de hoje possa ter causado algum incômodo e eu quero te contar que isso é bom. Pois é quando sentimos emoções desconfortáveis que nos motivamos para encarar as mudanças. E essa responsabilidade não é apenas das pessoas negras. Aliás, é em sua maioria das pessoas brancas que, direta ou indiretamente, se beneficiam do racismo estrutural.

Precisamos de pessoas verdadeiramente comprometidas com a pauta e prática antirracista. Porque as pessoas negras estão cansadas de gritar por inclusão e é chegada a hora de as pessoas brancas, pagarem o preço da inclusão.

Para que eu conseguisse chegar a essa consciência, foi preciso resgatar a minha história pessoal, me reconectar com a minha ancestralidade e compreender o impacto do contexto sócio-histórico em nossas vidas.

Compreender como o sistema se estruturou para limitar e até impedir a expressão máxima do potencial de pessoas com tantos talentos desperdiçados, me apoia no processo de fazer as pazes com a minha história e me dá energia para continuar lutando pela inclusão racial enquanto houver preconceito, discriminação racial e racismo no Brasil e no mundo.

Se nós, como sociedade, criamos esse cenário de exclusão para muitos e privilégios para poucos, a nossa versão mais evoluída será capaz de criar novos futuros onde a diversidade é reconhecida como um valor para a sociedade brasileira.

Gostou do artigo? Quer saber mais sobre o dia 20 de novembro, sobre a consciência negra, a diversidade e assuntos afins? Então, entre em contato comigo. Terei o maior prazer em conversar com você.

Kaká Rodrigues
https://www.diversidadeagora.com.br

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Kaká Rodrìgues é apaixonada por desenvolvimento humano e a sua missão é apoiar o empoderamento de líderes para que acreditem no seu potencial transformador e contribuam para uma sociedade mais humana, compassiva e que valoriza a diversidade em todas as suas formas de expressão. Consultora, coach, terapeuta, treinadora comportamental e palestrante, com foco em diversidades, comunicação não-violenta e segurança psicológica. É cofundadora da consultoria Div.A Diversidade Agora!. Atuou 15 anos no mercado financeiro, onde testemunhou de perto o custo da incivilidade no trabalho para as pessoas e para a organização.
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