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“Deus me proteja… da sua inveja!”

Por mais que não queiramos admitir, ouvi-la nos faz pensar em nossos sentimentos e atitudes. Quem nunca sente, ou sentiu inveja?

“Deus me proteja... da sua inveja!”

“Deus me proteja… da sua inveja!”

Impossível alguém, mesmo os mais jovens, ainda não ter escutado Rita Lee cantando a música que fala de inveja. E por mais que não queiramos admitir, ouvi-la nos faz pensar em nossos sentimentos e atitudes. Quem nunca sente, ou sentiu inveja?

Se gosta do assunto, vale a pena ler o livro da psicanalista Melanie Klein, de 1974, Inveja e Gratidão que ajuda a entender a mentalidade e o comportamento das pessoas claramente invejosas.

Aliás, ela ilustra com uma fábula cativante onde uma fada aparece para um invejoso e oferece realizar tudo o que deseja – mas há uma condição: que seu vizinho ganhe o dobro do que ele pedir. Dá para imaginar tudo, menos o que o invejoso pede – que a fada lhe arranque um olho!

Lembro-me claramente de um fato que aconteceu comigo há muitos anos: eu estava muito chateada e chorosa e minha filha quis saber por que me sentia assim. “Porque descobri que sinto inveja”, respondi. E ela, do alto da sabedoria de seus 12 ou 13 anos me abraçou e disse simplesmente: “mãe, todo mundo sente inveja!”

Parece tão óbvio, não é? Mas todos nós somos condicionados, desde pequenos, a acreditar que sentir inveja é pecado, muito grave, aliás. Ok, mas o que fazer com isso?

O exercício do pensar sobre si, entender e acolher seus sentimentos – sejam eles quais forem – para então transformá-los, faz parte do crescimento humano e chama-se autoconhecimento.

Não são raros os Coachees que após as primeiras sessões me perguntam timidamente se eu acredito em inveja. Ou nas Oficinas de Coaching em empresas, quando o sentimento é detectado. Ou em projetos dos quais participo onde ela se instala de mansinho e destrói o que é bom de maneira insidiosa, como uma serpente.

Inveja branca existe?

Durante um dos meus cursos, o assunto veio à tona e gerou muitas discussões, alguns defendendo a tal da “inveja branca”; outros negando que seja um sentimento bom e, ao final, fui desafiada a escrever sobre isso. Passei meses pesquisando, perguntando a um grande número de pessoas, lendo vários autores e refletindo.

Minha conclusão? Inveja não tem cor. Inveja é inveja e ponto.

Pior: é um sentimento comum a todos os seres humanos. Dizer que ela é branca é apenas uma maneira de diminuir a culpa, já que fomos educados para acreditar que é um dos pecados capitais que pode levar-nos ao inferno (lembra-se da história bíblica de Caim e Abel?).

Pecado ou não, é real, comum em todos os ambientes, da família às empresas e extremamente perniciosa, sendo considerado um dos sentimentos que mais leva ao sofrimento, ao lado da raiva e do medo.

Segundo o Dicionário Aurélio, “inveja é o desgosto ou pesar pelo bem ou felicidade de outrem; desejo violento de possuir o bem alheio”. Do latim “invidere”, significa “não ver”, dando origem ao ditado popular “ficou cego de inveja”.

Assunto delicado – quase um tabu – ninguém gosta de admitir que sente inveja em maior ou menor grau: é fato que passamos a maior parte do tempo com o olhar voltado para o outro, para o que ele faz, conquista, alcança, tem, e mesmo para quem ele é. Ou parece ser. Sim, porque todos nós usamos máscaras para esconder nossas fraquezas, e o que parece fantástico aos olhos dos outros muitas vezes para nós é motivo de dor.

Olhamos a roupa, o carro, o emprego, o sucesso, os namoros ou casamentos, os filhos, amigos e até seus traços de personalidade. Mas não sabemos o que há por trás disso tudo.

Em contrapartida, passamos pouco tempo olhando para o espelho, para quem somos, para o que possuímos, fazemos, conquistamos; não reconhecemos nem nossas forças nem nossas fraquezas. É mais fácil olhar para o outro porque nos eximimos da responsabilidade sobre nossa própria realidade.

Miguel de Cervantes já dizia que “a inveja vê sempre tudo com lentes de aumento que transformam pequenas coisas em grandiosas, anões em gigantes, indícios em certezas”.

E como se não bastasse, está aí a sociedade de consumo com suas fantásticas propagandas, repetindo a todo momento que somos inadequados se não possuímos… o quê? Qualquer coisa, desde que esteja na moda. E se o outro tem, lá vem a inveja!

Nas corporações não é diferente: a inveja cria um ambiente de extrema competitividade, fofoca, calúnia, críticas destrutivas e até boicote.

A comunicação não flui, as informações deixam de ser divididas e o ambiente se torna péssimo, diminuindo a qualidade de vida dos funcionários. Não são raras as pessoas que chegam para o Coaching em condições de pré-estresse por causa da inveja do ambiente.

Ok. Todos sentem inveja. Existe solução?

Gosto de pensar numa frase de S.S. o Dalai Lama quando lhe perguntaram se sentia raiva: “o problema”, disse ele, “não é sentir raiva. É o que você faz com a raiva que sente”.

O que você faz com a inveja que sente? Prejudica, destrói, menospreza, compete, perde o controle, boicota, faz coisas horríveis? Ou usa-a como um estímulo para se aprimorar, evoluir, conquistar uma posição pelo seu próprio esforço e qualidades, descobrir em si aquele valor intrínseco, que só você tem?

Nas organizações, é possível gerenciar o sentimento de inveja para diminuir os conflitos. O trabalho é delicado e envolve o incentivo à busca do autoconhecimento e da excelência, a autovalorização e o senso de responsabilidade. Um trabalho que começa pelas lideranças e cascateia pela organização.

Na vida pessoal é possível trabalhar o sentimento através da consciência: ao sentir a ferroada da inveja, em vez de bloquear o que sente (porque lhe disseram que é feio!) admita para si mesmo, reflita sobre suas razões, olhe-se no espelho e descubra que lá, olhando para você, existe alguém que tem inúmeras qualidades. Talvez não aquelas invejadas, mas outras que, por serem suas, são únicas.

Sim, mas e a “inveja branca”? Não é inveja. Pode ser desde um sentimento de admiração que nos maravilha, até a motivação que nos leva a buscar alcançar o que ainda não conseguimos. Pode ser a mais profunda inspiração!

Ouça o que Rita Lee canta sobre o assunto na música Reza.

Gostou do artigo? Quer saber mais sobre o sentimento de inveja? Então, entre em contato comigo. Terei o maior prazer em responder.

Isabel C Franchon
https://www.q3agencia.com.br

Confira também: Uma doença chamada Assédio Moral

 

Isabel C Franchon, Coach desde 2008, atua com o Desenvolvimento Profissional e Pessoal voltados para a Carreira, Competências, Liderança, Comunicação Interpessoal, Compliance & Ética e Coaching de Times. Facilita Workshops, Treinamentos e Oficinas em empresas de médio/grande porte através de empresa própria e em parceria com Consultorias de DH. Graduada em Jornalismo, tem MBA em Desenvolvimento Humano de Gestores, pela FGV; Pós-graduação em Transdisciplinaridade em Saúde, Educação e Liderança, pela Universidade Holística Internacional; Especialização em Marketing pela MM School; Formação em Compliance Anticorrupção, pela LEC; Especialização em Metodologia QEMP para empreendedores, pela Clinton Education. Fez formação em Master, Executive, Leader & Business Coach, pelo Behavioral Institute. Certificada em Positive Coaching Com Robert Dilts e Richard Moss. É membro do International Coaching Council (ICC) desde 2008.
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