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De quem é o Machismo? A Nova Domesticação Feminina

Descubra como o machismo, mascarado de tendências e modismos, ainda aprisiona as mulheres. Explore a luta por liberdade, desde a Idade Média até os dias atuais. Enfrente tabus, reconheça sua essência e construa um futuro autêntico e empoderado.

De quem é o Machismo? A Nova Domesticação Feminina

De quem é o Machismo? A Nova Domesticação Feminina

Desde o advento do Cristianismo, o amor só podia ser dirigido à Deus. O amor cortês como conhecemos hoje nas relações interpessoais surgiu depois, no século XII com os trovadores, nobres da corte de Provença, França.

Mais tarde se estendeu à Europa medieval e outras regiões e classes sociais transformando comportamento de homens e mulheres. Até então o que havia era o desejo sexual e sua satisfação. E o amor no casamento, por sua vez, só se tornou uma possibilidade a partir do século XIX. Isso porque era comandado por interesses políticos e sociais.

O surgimento do Capitalismo no século XV marcou a passagem da Idade Média para a Idade Moderna, a partir da decadência do sistema feudal e o surgimento de uma nova classe social, a burguesia.

Nos séculos XII e XVIII houve as revoluções burguesas e a instituição do casamento e da esposa ideais. Uma mulher dedicada ao lar, à família, aos filhos, pronta para cozinhar e procriar, à espera dócil do marido, sem manifestar seus anseios e muito menos seus desejos. Quase assexual.

Antes disso?

As mulheres foram taxadas, torturadas, queimadas e mortas. Chamadas de bruxas. Eram mulheres que sabiam do seu poder de sedução, conheciam seus corpos, dominavam técnicas de cura, honravam sua ancestralidade, faziam remédios naturais, conectavam-se com a terra e a natureza. Dominavam reinos e reis. Por isso sofreram dois séculos de perseguições.

Depois disso?

O movimento feminista na década de 60 lutou para a emancipação e para livrar as mulheres da submissão. Uma luta longa e árdua, pois vez por outra, ondas conservadoras se manifestam de forma cruel tolhendo liberdade de fala e expressão como um todo. Tanto que na década de 80 houve um contra-ataque antifeminista no qual mulheres enfrentaram a raiva de outras mulheres.

Havia um conto moral em que as mulheres “boas mães” eram admiradas e as independentes, punidas. E essas mulheres livres demais eram infelizes porque a liberdade roubava a chance do casamento e da maternidade.

Ainda nas décadas de 50 e 60 as revistas femininas amedrontavam as mulheres considerando levianas aquelas que permitissem ser beijadas pelos rapazes que acabaram de conhecer e que seria uma boa razão para temer o que eles diriam nas rodas de amigos…

Na década de 20 entre guerras e o modelo americano de vida, emergiram movimentos de liberdade cultural, do feminismo e dos gêneros. Ainda assim julgada como “geração perdida”.

Na década de 70 o amor livre de Woodstock, da paz e dos grupos que se formavam alegando liberdade de corpos e prazeres. Havia cores e muito estilo e ainda a força do movimento black power entre as cidades americanas. As mulheres mantinham a radicalização do feminismo dos anos 60 e ainda batalhavam pela conquista da igualdade de gênero, a liberdade de se vestir e, principalmente, a liberdade sexual por meio de métodos contraceptivos.

Interessante e revoltante que com o advento das pílulas anticoncepcionais pregava-se como a liberdade máxima das mulheres, porém só podiam se vender para as casadas.

Em 2016 a ONU alertou para o retrocesso da liberdade das mulheres sob o risco de se perderam as conquistas ao longo dos séculos.

Hoje, com a revolução da Internet, da liberdade dos meios de comunicação, do mundo conectado e globalizado, do movimento pós-feminismo, da ideia de igualdade de gêneros nas empresas, na política e nos relacionamentos, ainda nos deparamos com comentários esdrúxulos sobre o comportamento feminino, com salários inferiores e comparações intermináveis entre as próprias mulheres.

Há ainda o aumento progressivo da violência contra a mulher estampado nas manchetes dos jornais e velados em milhares de casas, independentemente de classe social ou nível cultural e econômico, de raça ou crença.

E falando em crença, mulheres que se permitem são chamadas de pecadoras. Categoricamente punidas e julgadas. Se exaustas buscando descanso, preguiça; se livres para o prazer, luxúria; se manifestam suas opiniões, ira; se reconhecidas por seu sucesso, orgulho; se não fazem dieta, gula; se buscam conquistas que admiram em outras, inveja. E se estáveis e possuidoras de bens, ganância.

O que vemos hoje?

Homens amedrontados com mulheres emocionalmente fortes, usando de força física para contê-las. Mulheres inseguras com seus corpos e aparências julgando e condenando outras mulheres. Aumentando o uso de ansiolíticos e antidepressivos além de indutores do sono para anestesiar dores intermináveis.

Busca desenfreada pela modificação de suas aparências em procedimentos infindáveis e instáveis tornando-as parecidas e “harmônicas”. Dores escondidas, sentimentos bloqueados, olhares insatisfeitos, medos estampados e desejos apagados.

Tantas restrições impostas, produzem uma vida limitada, cujo receio de ultrapassar o limite permitido faz com que as mulheres não queiram ser, de fato, vistas como pessoas que querem demais, ou mesmo que são demais. Há uma espécie de proibição camuflada de senso comum. E uma domesticação vestida de moda, ou tendência ou atualidade.

“Temos emoções paleolíticas, instituições medievais e tecnologia divina” (Edward O. Wilson)

Ou seja, progresso sem evolução.

Mulheres são ensinadas a terem uma bondade cheia de abnegações e tolerância ao próximo. Porém, intolerantes com elas mesmas. Uma lista de obrigações diárias e afazeres intermináveis cumpridos impecavelmente, incansavelmente, para o outro. Sem tempo ou oportunidade para si. Sem pausa. Praticamente sem direitos.

Será que é por isso que recebo no meu consultório centenas de mulheres exaustas e inertes, em busca de soluções bioquímicas para sua falta de energia e prazer?

Sabe-se que não se pode curar aquilo que não sente e muito menos consertar o que não vê. Enquanto estiverem tampando os olhos e anestesiando o coração, as mulheres continuarão na corrida a lugar nenhum. E jamais se permitirão, ver, sentir, ouvir e falar.

Reconhecer sua essência, entender suas oscilações inclusive hormonais, mas também emocionais e físicas. Olhar para frente e seguir confiante. Lidar com o medo e romper barreiras (substantivo feminino que impede a passagem de algo). É o que desejo a todas a mulheres.

Que nada impeça a passagem de seres humanos em evolução, todos da mesma espécie, alguns em ascensão e outros em queda, para um nível de autoconhecimento e cura.  A escolha é de cada um. Que as mulheres possam escolher o que lhes é real, lhes faz bem, e lhes dão sentido de viver.

Gostou do artigo?

Quer falar mais sobre a importância da mulher reconhecer a sua essência, entender suas oscilações, inclusive hormonais, mas também emocionais e físicas? Então, entre em contato comigo. Terei o maior prazer em conversar a respeito.

Prazer, Clarissa!

Clarissa Marini
Ginecologista, Sexóloga & Escritora
CRM 11468-GO
https://www.instagram.com/clamarini/

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Palavras-chave: machismo, domesticação feminina, igualdade de gênero, feminismo, violência contra a mulher, evolução do feminismo, desafios das mulheres modernas, impacto da desigualdade de gênero, lutas por reconhecimento feminino, origem do machismo, machismo nos dias atuais, o que é machismo, machismo estrutural
Clarissa Marini é ginecologista, sexóloga e escritora. Especialista em Uroginecologia e Reposição Hormonal. Autora de Poetizando o Sexo e Inenarrável. É mãe, poeta e amante da vida. Formada há 17 anos, escuta e ausculta almas e corações de suas pacientes.
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