
Criamos Protocolos para Humanizar ou para Desumanizar?
Antes de haver algoritmos, havia rituais. Antes do script corporativo, havia gesto com intenção. E era ali, no silêncio compartilhado, no olhar presente, no toque simbólico, que a humanidade se reconhecia.
Hoje vivemos a era da aceleração. Fizemos de tudo para otimizar a vida: criamos ferramentas, processos, protocolos. Queríamos ganhar tempo, ser mais produtivos, ter mais tempo livre para ser feliz.
Mas criamos um paradoxo: quanto mais tentamos acelerar, menos tempo parece sobrar. Quanto mais simplificamos a comunicação, menos nos sentimos compreendidos. Quanto mais organizamos, mais desconectados ficamos.
A pergunta que me move é: onde foi parar a alma no meio disso tudo?
O ritual nos fez humanos
Sempre me senti atraída por rituais, mas só recentemente compreendi por quê.
Foi numa manhã em Tóquio, às 7h, que tudo fez sentido. Vi um senhor estacionar a bicicleta, tirar os sapatos e acender um incenso em silêncio num pequeno templo. Nada foi dito, mas tudo ali comunicava.
Ali, entendi com o corpo o que o filósofo Byung-Chul Han expressa com palavras:
“Sem rituais, o tempo se dissolve em um fluxo contínuo de presente.”
O ritual é mais do que uma tradição. Ele representa uma estrutura simbólica que organiza o tempo e o sentido da existência. É ele que nos permite marcar inícios, encerramentos e travessias. É o que transforma um momento qualquer em um momento sagrado. E é o que nos separa da máquina, não a fala, não a cognição, mas o gesto com alma.
Mas as empresas trocaram rituais por protocolos.
No mundo corporativo, o ritual foi engolido pelo procedimento. Tudo é padronizado:
- Protocolo de onboarding;
- Protocolo de feedback;
- Protocolo para dar “bom dia” com gentileza;
- Protocolo até para ser criativo (!)
Mas no meio disso tudo, esquecemos a presença.
Esses protocolos, que nasceram para facilitar a convivência e garantir consistência, viraram armaduras simbólicas. Nos protegemos com processo, mas nos distanciamos com ele.
Cumprimos todas as etapas, mas ninguém se sente tocado. Ninguém se sente visto. A vida profissional virou uma sequência de “checklists emocionais”.
O ritual vazio é pior do que a ausência do ritual
Sim, às vezes o problema nem é a ausência de rituais, é o fato de que estamos representando rituais sem estar presentes neles.
É o feedback feito com roteiro engessado. A reunião com “check-in” obrigatório e escuta ausente. A meditação guiada entre duas reuniões, com o celular vibrando no colo.
É pior que o nada, porque cria a ilusão de cuidado, sem o cuidado real. Ritual sem presença é maquiagem no vazio.
A pergunta que desmonta
Chegamos até aqui com uma provocação inevitável: criamos os protocolos para humanizar ou para desumanizar?
Se no início os protocolos foram criados para garantir segurança, confiança e pertencimento, hoje muitos servem apenas para padronizar a emoção, prevenir a vulnerabilidade e blindar a experiência.
Eles tiram a subjetividade do gesto. Tornam a escuta um formulário. Transformam a conexão em tarefa.
A nova liderança como guardiã do tempo com sentido
Eu acredito que a liderança do futuro, a que chamo de Liderança Sensorial, nasce da coragem de resgatar os ritos vivos, simbólicos e autênticos. Ela não joga fora o protocolo, mas o preenche de presença, alma e sentido.
A liderança sensorial transforma:
- A reunião em espaço de conexão;
- O início da semana em rito de intenção;
- O encerramento do projeto em momento de gratidão.
Ela sabe que não é sobre acelerar mais, é sobre ancorar melhor.
Porque o que falta hoje não é mais uma técnica de gestão. O que falta é gente que tenha a coragem de sentir. O que você acha disso?
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Eu fiz uma aula online exclusiva onde aprofundei exatamente esse assunto que trago no artigo desta semana. Se você quiser ir além da leitura e mergulhar comigo nesse conteúdo, então é só clicar no vídeo abaixo e assistir. Tenho certeza de que vai ampliar a sua visão!
Gostou do artigo?
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Até a próxima!
Leila Navarro
Palestrante Internacional, Escritora, Mentora de Transições e Especialista em Liderança e Futurabilidade – Referência em Inovação e Desenvolvimento Humano
https://www.leilanavarro.com.br/
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