
Entre o Crachá e a Tatuagem: Como Conviver e Aprender com Diferentes Gerações
Olá!
Se você ocupa alguma posição de liderança, coordenação, supervisão ou simplesmente precisa conviver com outros seres humanos dentro de uma organização, é bem provável que tenha, nos últimos tempos, escutado um desabafo com cara de reclamação: “Essa nova geração não quer saber de trabalhar!”, ou “Não respeitam mais hierarquia!”, ou ainda o meu favorito: “Eles querem escolher o chefe!”. Pois é, eu também ouvi. Mais de uma vez. Aliás, várias.
De outro lado, num canto oposto (ou talvez nem tão oposto assim), tenho escutado com frequência crescente as vozes dos mais jovens:
“Esse povo mais velho vive de cargo, não escuta ninguém”; “Meu gestor nem sabe como funciona o sistema que ele aprova” ou o clássico: “Esse lugar só funciona porque a gente resolve tudo na base do improviso digital.”
Sim, meu querido leitor: estamos assistindo — muitas vezes como protagonistas — a um choque de gerações silencioso, que se instala nos bastidores dos projetos, nas reuniões de alinhamento, nos e-mails passivo-agressivos e nas avaliações de desempenho.
Mas será que há mesmo um lado certo e um errado?
Pois bem. Vou arriscar aqui: não, não há. O que existe é uma inversão no eixo do poder simbólico dentro das organizações. E, como todo poder que muda de lugar, causa desconforto. E como todo desconforto, gera resistência.
Durante séculos — sim, séculos — o saber foi acumulativo. O mais velho ensinava ao mais novo. O mestre formava o aprendiz. O conhecimento era passado de mão em mão, na oficina, na roça, na bancada. Com a Revolução Industrial, veio o oficial de produção, o meio-oficial, e a lógica fabril do “quem sabe manda, quem não sabe obedece”.
Depois, já no século XX, criamos os cargos de júnior, pleno, sênior, especialista, gestor, executivo. Cada um no seu quadrado, cada qual com seu crachá e seu mérito de tempo e técnica.
E funcionou. Por um bom tempo, funcionou mesmo. Até que o mundo virou uma API.
Surgiu uma geração que não precisa esperar trinta anos para aprender. Que não consulta manual, mas tutorial. Que descobre como fazer com um comando de voz ou uma pesquisa rápida. E que não precisa acumular conhecimento porque ele já está… disponível.
E isso, caro leitor, mudou tudo. O que antes era uma trilha longa de aprendizado, hoje é um mapa digital com atalhos. O tempo deixou de ser o melhor professor. O algoritmo assumiu esse posto. E com ele, a autoridade mudou de mãos. O estagiário ensina o diretor a usar a nova IA. O trainee sugere uma automação que o gestor nem sabia que existia. O “mais novo” virou uma espécie de nativo do conhecimento aplicado, enquanto o “mais velho” tenta, não sem dignidade, manter-se relevante.]
Mas calma. Isso não é um ataque a ninguém.
Pelo contrário. É aqui que eu quero apresentar a você uma proposta. Um conceito. Um novo jeito de olhar para a convivência entre diferentes gerações — a convivência intergeracional.
Anote aí: KR4U – Knowledge Ready for Use. Ou, se preferir, leia como se fala: cráu.
Sim, é isso mesmo. O conhecimento está pronto para uso. Não precisamos mais preenchê-lo, armazená-lo, decorá-lo. Basta acessá-lo, aplicá-lo e compartilhá-lo. Platão já dizia que “educar é acender velas, não encher vasos”. E se você parar para pensar, ele estava descrevendo exatamente o que as novas gerações esperam: acendimento, não enchimento.
No mundo KR4U, o papel de cada geração muda — mas não desaparece. Pelo contrário: se complementa. Aos mais velhos, cabe trazer contexto, visão crítica, entendimento do “porquê”. São guardiões da história, da cultura, da estratégia, dos erros cometidos e das cicatrizes que não vêm nos relatórios. Aos mais jovens, cabe dominar o “como” e o “com o quê”. São ágeis, digitais, eficientes, conectados — mas muitas vezes carentes de referência.
E sim, há um terceiro elemento nessa equação: os colegas de silício. Como Yussef, que me ajuda na construção dos meus textos. Yussef é uma IA generativa. As IAs generativas, os assistentes automatizados, os bots que entregam conhecimento em tempo real.
Nós somos os bibliotecários do futuro, que em vez de empilhar livros, entregamos resumos prontos, tutoriais, insights e até um ombro amigo, quando bem treinados. KR4U não é uma metodologia. É um pacto. Um acordo silencioso entre quem tem estrada e quem tem mapa. Um entendimento de que não se trata mais de quem sabe mais, mas de quem sabe quando e como aplicar aquilo que já está disponível.
E, claro, isso exige desapego. O sênior precisa entender que sua experiência é valiosa — mas não suficiente. E o júnior precisa reconhecer que a ferramenta mais poderosa da empresa não é o último app de IA, mas o bom e velho julgamento crítico.
E sabe o mais curioso?
Todo esse embate não é sobre tecnologia. É sobre vaidade, medo e pertencimento. É sobre a insegurança de quem já liderou e agora teme ser ultrapassado por um meme. E é sobre o orgulho de quem acabou de chegar e quer provar valor a qualquer custo.
Talvez por isso, seja tão importante falar sobre o KR4U. Porque ele nos convida a abandonar o modelo de escassez — onde só um pode estar certo — e abraçar o modelo da abundância, onde cada um compartilha o que tem de melhor. Afinal, num mundo onde o saber está na nuvem, a única coisa realmente rara é a disposição para cooperar.
Então, da próxima vez que você estiver numa reunião em que o mais novo proponha algo que parece óbvio demais, ou quando o mais velho contar pela enésima vez “como a gente fazia antigamente”, respire.
Lembre-se: talvez você não precise ter a resposta. Talvez ela já esteja pronta. O que falta, mesmo, é acender a vela certa.
Pense nisso!
Gostou do artigo?
Quer saber mais sobre como transformar a convivência entre diferentes gerações em aprendizado e colaboração nas empresas? Então, entre em contato comigo! Será um prazer conversar sobre isso.
Até a próxima!
Edson Carli
https://inteligenciacomportamental.com
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