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A Nova Ambição: Ser Pleno em um Mundo que Cobra Excelência

Num mundo que exige alta performance constante, o que vale mais: a obsessão por excelência ou a sua paz interior? Ser pleno virou praticamente um gesto radical — uma nova ambição que desafia métricas, redefine sucesso e devolve sentido ao que realmente importa.

Como Ser Pleno em um Mundo que Cobra Excelência?

A Nova Ambição: Ser Pleno em um Mundo que Cobra Excelência

Desde quando ser bom deixou de ser suficiente? Na sociedade da exposição e da comparação que cobra a alta performance constante, o “ótimo” virou o novo “mínimo aceitável”: já não basta sobressair-se em alguma coisa – é preciso ser excelente em tudo. E se, ao invés de vencer, escolhermos viver com inteireza?

Vivemos tempos em que o ideal de sucesso foi sequestrado por um imperativo de performance sem fim, onde ser competente já não basta. É preciso estar sempre um passo à frente, ultrapassando expectativas e otimizando o tempo, a produtividade, o corpo e a mente. Às vezes parece que a vida virou um projeto onde o valor de alguém só pode ser medido pela sua capacidade de entregar, impactar e se destacar: a excelência virou norma, e a norma virou prisão.

“A sociedade do desempenho e do cansaço é uma sociedade de indivíduos livres que se exploram voluntariamente até a exaustão.” (Byung-Chul Han)

Por trás da promessa de uma vida extraordinária, esconde-se uma epidemia silenciosa de esgotamento. O burnout, antes restrito a algumas profissões de alta exigência, agora é quase um traço geracional. A ansiedade, o medo de fracassar, o sentimento de inadequação, mesmo entre os aparentemente bem-sucedidos, denuncia que algo não vai bem. Nunca se falou tanto em equilíbrio, mas nunca estivemos tão distantes dele.


A distorção das métricas

Há algo profundamente disfuncional na forma como aprendemos a medir a própria vida. Em meio a metas, algoritmos, avaliações de desempenho e rankings invisíveis, a pergunta mais simples – estou bem comigo? – acaba esquecida. A lógica da produtividade contínua substituiu o espaço da escuta, da pausa, do sentir.

Como ouvi em uma sessão de análise, “já não aguento mais ter que ser muito boa em tantas funções: ser eu já é difícil, mas preciso ser a namorada que mantem um bom relacionamento, a empresária que faz o negócio dar certo, a dona de casa que põe tudo para funcionar… É exaustivo”. Sim, é exaustivo. A vida está sendo medida pelos resultados apenas.

Essa distorção não é só individual, mas está entranhada na cultura moderna: em muitas organizações estar cansado virou sinal de comprometimento; nas redes sociais, ser incrível virou obrigação cotidiana; na vida pessoal, o tempo livre precisa ser justificado com alguma tarefa útil.

Eu me arrisco a dizer que o descanso virou luxo e a simplicidade de apenas contemplar, quase uma heresia.


Uma outra ambição é possível

Mas algo começa a se mover e isso é perceptível tanto no Coaching como na Psicanálise. Aos poucos, novas perguntas estão emergindo: e se ser pleno for mais importante do que ser impecável? E se a verdadeira ambição não for sobre subir degraus, mas sobre permanecer inteiro ao longo do caminho? E se a potência não estiver em fazer tudo, mas em escolher o que realmente importa?

“A principal motivação do homem é o desejo de encontrar um sentido para sua vida.” (Viktor Frankl)

Essa virada de eixo exige coragem para dizer não à pressa que tudo engole, valorizando o tempo como um bem existencial, não apenas produtivo. Seria algo como desenvolver em si a coragem de não performar, e ainda assim reconhecer seu valor.

Autores como Viktor Frankl nos lembram que o sentido, e não a excelência, é o que sustenta a vida. Byung-Chul Han denuncia a autoexploração como uma nova forma de dominação. E mesmo movimentos contemporâneos como o slow living ou o quiet quiting revelam que há um desejo latente de desacelerar e reencontrar uma vida que traga prazer também, não só tarefas para serem cumpridas.


Provocação: quais são as suas métricas?

Talvez valha a pena parar um pouco e refletir sobre suas escolhas – ou talvez a falta delas. Você tem se medido pelo quê?

  • Número de tarefas feitas e entregues ou o grau de presença no que faz?
  • Expectativas externas ou desejos autênticos?
  • Reconhecimento público ou paz íntima?
  • Resultado final ou coerência do processo?

Não se trata apenas de trocar metas, mas de rever as lentes com que enxergamos a própria vida. Em vez de perguntar quanto ganhamos, talvez devêssemos perguntar quanto perdemos de nós mesmos nesse processo. Em vez de nos orgulharmos apenas pelo que conquistamos, talvez devêssemos nos orgulhar daquilo que decidimos não aceitar para proteger quem somos.

Deixo aqui um convite: e se no lugar de contar conquistas, sustentássemos conversas significativas? E se o tempo de qualidade com quem amamos voltasse a pesar mais do que o número de tarefas cumpridas? E se a nossa métrica de sucesso fosse o grau de paz que sentimos ao deitar à noite, e não a quantidade de curtidas, entregas ou títulos acumulados?


O que vale a pena sustentar?

Redefinir sucesso não significa renunciar à potência, mas à ilusão de que precisamos nos provar o tempo todo, procurando sempre ser o melhor em vez de estar bem. Tipo não correr para dar conta de tudo, e sim escolher o que queremos carregar. Ou cultivar vínculos, tempo, saúde e inteireza no lugar de colecionar conquistas.

Essa não é uma ambição menor. Ao contrário. Talvez seja a mais difícil de todas: a de habitar a própria vida com inteireza, mesmo quando tudo ao redor exige performance.

Não se trata de negar a excelência, pois ela pode ser bela, criativa, inspiradora. Pode se transformar, inclusive, no sentido que procura para sua vida. Mas quando se torna um dever constante, deixa de libertar e começa a adoecer. Por isso, talvez seja preciso resgatar um tipo de ambição mais humana: a de viver com presença, sentido e plenitude, sendo quem se é, sem precisar se provar o tempo todo.

Em tempos de excesso de tudo, menos de si mesmo, ser pleno talvez seja o gesto mais radical.

Como disse Jung:

“Prefiro ser inteiro a ser bom.”


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Isabel C Franchon
https://www.q3agencia.com.br

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Isabel C Franchon, Coach, Trainer e Consultora em Cultura Organizacional, atua com Desenvolvimento Profissional e Pessoal através de palestras, Workshops, Treinamentos, Coaching, Mentoring e Oficinas. É Psicanalista atuante. Graduada em Jornalismo, tem MBA em Desenvolvimento Humano de Gestores, pela FGV; Pós-graduação em Transdisciplinaridade em Saúde, Educação e Liderança, pela Universidade Holística Internacional; Especialização em Marketing pela MM School; Formação em Compliance Anticorrupção, pela LEC; Especialização em Metodologia QEMP para empreendedores, pela Clinton Education. Fez formação em Master, Executive, Leader & Business Coach, pelo Behavioral Institute. Certificada em Positive Coaching Com Robert Dilts e Richard Moss. É membro do International Coaching Council (ICC) desde 2008. Formação em Psicanálise pelo Centro de Estudos Psicanalíticos (CEP), Coautora do livro O Poder Transformador do Grupo com o capítulo “Coaching em Grupo: Holístico, Sistêmico, Integral” (Edições Besouro Box, 2024). Membro do GEC – Grupo de Excelência em Coaching – Centro de Conhecimento do CRA-SP.
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