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Cansei do isolamento, fui passear e dançar!

Será que, ao passar este momento restritivo e de isolamento social, o coronavírus poderá ser visto como o elemento catalisador para uma nova sociedade?

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Cansei do isolamento social, fui passear e dançar!

Pessoal, é interessante como o brasileiro bem-humorado gosta de fazer piada de tudo e de todos, sem qualquer constrangimento ou autocensura. Mas tem também aquele monte de gente ranzinza que gosta de julgar tudo e todos, criticando ou ofendendo, dando até sentenças deformadas como se direito a isso tivessem. Enquanto o planeta Terra avança freneticamente em sua complexidade e muitas incertezas, exigindo que as pessoas ponham o cérebro a favor da humanidade e da solidariedade, há quem gaste tempo enchendo as nossas caixas postais (em mídia social) com um monte de bobagem na forma de áudios, vídeos, memes, gifs e imagens.

Quando chegou o recente final de semana da Páscoa, por mais carinho que as pessoas possam ter tido comigo enviando seu lote de mensagens, realmente começou a ficar estressante cada apito do celular, centenas de mensagens no email e, como se isso não fosse suficiente, até pelo Linkedin muitos profissionais faziam suas projeções futuristas. Confesso que, somente para um grupo restrito de amigos (até para não ser desagradável), também mandei um curto texto que eu mesmo escrevi. E então, decidi parar com tudo e dar uma chacoalhada no meu isolamento social.

Onde moro, sujeito a reclamações constantes da família, eu tenho um local que é um verdadeiro arquivo morto do passado. Eu uso esse material, quando lembro, para comparar as previsões futuristas com a realidade acontecida, principalmente vendo como a ciência é em si maravilhosa, quando entendida e valorizada. Comecei a fuçar meus documentos e textos antigos, voltando décadas no tempo e parando em meados da década de 90 (quando começou essa abordagem de mundo VUCA). Encontrei coisas fantásticas da ciência que, confesso, nem me lembrar da sua existência, reforçando o estigma de volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade nos anos recentes.

Tempo que passou rápido, muito rápido. Vamos ver exemplos?

Na revista Veja, de 20/4/1998 (pág 101), há interessante abordagem sobre a alta tecnologia e o desafio de engenharia industrial para transformar o aparelho de barbear com duas lâminas para o de três (peças de carbono mais finas que um fio de cabelo). Aparentemente, vemos isso de maneira simplista, mas a evolução ocorreu 27 anos após o aparelho de duas lâminas e, incrível, exigiu seis anos de trabalho envolvendo 500 engenheiros do mais alto gabarito. O desafio custou à Gilette 750 milhões de dólares para desenvolver o aparelho (e, globalmente, mais 300 milhões de dólares em marketing, no primeiro ano de lançamento). Ah! isso me animou a ir fundo nas leituras.

Em tempo de coronavírus, eu quis conhecer como evoluiu a ação da ciência na questão da AIDS. Em 1996, passados 15 anos desde os primeiros casos em um hospital americano, a droga AZT surgiu como uma paliativo que apenas conseguia prolongar a vida, mas não curava. O mundo monopolizou cientistas para avançar na produção de alguma nova combinação química, enquanto terapias alternativas eram lançadas. Dez anos depois (outubro/2016), a revista Superinteressante mostrou a evolução das pesquisas de cura de um problema que, até então, já matara mais de 25 milhões de pessoas e outras 40 milhões contaminadas.

Bilhões de dólares investidos permitiram à ciência encontrar a formulação de um coquetel para combater grande parte dos efeitos, aliviar dores físicas e emocionais, mas não se chegou à cura total. Infelizmente, os dados recentes (Fonte: Agência AIDS) mostram que, de 2010 a 2018, a ocorrência média de novos casos diminuiu em 16% no mundo, diminuiu 7% nos países latino-americanos e, no Brasil, subiu em 21%. Ou seja, se a ciência ainda não encontrou a cura, pelo menos encontrou caminhos para ampliar a prevenção e diminuir discriminação ou estigmas relacionados à AIDS.

Neste momento, o leitor deve estar algo atônito de onde vou chegar com esta abordagem.

É que, fascinado pela ciência (e com meus pendores de acadêmico-pesquisador), eu procuro entender como a vida do ser humano tem evoluído com tecnologias para a saúde e o lazer. Triste é lembrar que foi no mesmo ano (de 1996) que o crack começou a ter presença marcante no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, atingindo hoje 85% de todos os municípios brasileiros. De positivo, o país tem ação direcionada unindo especialistas em saúde pública (http://www.justica.gov.br/programas-e-planos/crack), voltada à prevenção e ao cuidado social, como forma de atender as pessoas que se deixaram levar pelo vício. E muitos outros cientistas se aplicam em ONG e instituições de pesquisas para contribuir com trabalhos para mitigar dramas sociais.

Mais uma vez é a ciência que se lança à frente com competência, seja para combater um problema de saúde (como hoje ocorre em relação ao COVID-19) ou para trazer mais alegria ao ser humano (as tecnologias de lazer, por exemplo). Então vamos trocar de canal para tratar de imagem antiga pois, também em 1996, os cientistas anunciavam duas conquistas que fizeram as pessoas pensarem em grande fiasco naquelas projeções futuristas: o DVD ocuparia o lugar do videocassete e o computador ocuparia o lugar da TV (esta uma referência universal para a aplicação de muitas horas pelas pessoas em busca de informação ou entretenimento).

Liderando uma onda de críticos literários, W. H. Auden fez um comentário jocoso para o livro de George Gilder (A vida após a televisão – de 1994):

“Trata-se de tese com enfoque e argumentações interessantes, contudo, ao mesmo tempo, equivocadas e improváveis”.

Revistas e magazines da época exploravam essa previsão como um absurdo pois, afirmavam, “a TV permite que uma pessoa se conecte com o mundo quando quiser e, depois, basta desligar. Como o computador serve para estimular que as pessoas pensem, não encontrarão nele os mesmos conteúdos da TV”. Mal sabiam que Gorge Gilder estava tão certo que, não só ele se tornou um dos gurus de Bill Gates como, recentemente, passou a fazer palestras sobre A vida após o Google (uma palestra – em inglês.

Os cientistas caminham e avançam com classe, mesmo quando erram em suas pesquisas, enquanto os palpiteiros se espatifam em suas palavras desprovidas de base e critério, ainda que possam acertar vez ou outra.

Amigos, li com atenção essas e mais uma dezena de outras projeções em que os cientistas venceram os céticos (muitas vezes liderados por palpiteiros cheios de empáfia). Então, identificando que hoje também há céticos pregando contra a ciência e colocando em risco as orientações internacionais sobre o isolamento social, assumi apelar: larguei tudo, decidi viajar e dançar. Sentei-me na varanda de onde eu moro, fechei os olhos, e disparei no celular uma seleção musical que começava com Glenn Miller (Moonlight Serenade), Ray Conniff (La Mer) e André Rieu (Tema de Lara). Lembrei-me de meus primeiros bailes da juventude (ah… a primeira namorada… ela nem sabe que foi sequer minha namorada… rsrsrs) e deu vontade de dançar “Cheek to cheek (ah…Fred Astaire ) com o rosto colado, como naqueles bons anos 60 e 70.

A viagem seguiu por muitos lugares no mundo, encontrou muito mais músicas para rever (e reviver) mentalmente momentos inesquecíveis, mostrando que não precisei sair às ruas como insurgente para ser feliz.

Há uma vida que cada pessoa consegue construir ao longo dos anos, vida essa única peculiar e muito particular. Como será o futuro à frente eu não sei, mas tenho a certeza de que, mesmo dentro de casa, cada pessoa pode encontrar algo que é fantástico, precioso e indelegável: o “EU” do passado que ajudou a construir o “EU” do presente e, certamente, será a base de lançamento para o “EU” do futuro. Aquele “EU” que viverá os dias, meses ou anos de convívio com as pessoas e os seus sonhos, com o mundo e seus problemas, com os que constroem o melhor e com aqueles que se esforçam por atrapalhar as pessoas de bem.

Enfim, quase quatro horas depois eu voltei a 2020. Feliz por ter quebrado o isolamento social com a minha viagem, com o reencontro de pessoas que são corresponsáveis pelo “EU” que, hoje, pode postar este texto. E, sem exagerar, podendo reviver aqueles segredos muito bem guardados que nasceram nos bailes, em abraços e beijos, na troca de carinho em relacionamentos (construtivos ou nem tanto). Fico com a expectativa de que, passado este momento restritivo e de isolamento social de nossas vidas, o coronavírus seja visto como o elemento catalisador para uma nova sociedade: aquela que saberá lembrar, celebrar, conviver, passear, viajar, dançar e, acima de tudo, ajudar o próximo.

Mario Divo
https://www.dimensoesdesucesso.com.br

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Mario Divo Author
Mario Divo possui mais de meio século de atividade profissional ininterrupta. Tem grande experiência em ambientes acadêmicos, empresariais e até mesmo na área pública, seja no Brasil ou no exterior, estando agora dedicado à gestão avançada de negócios e de pessoas. Tem Doutorado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) com foco em Gestão de Marcas Globais e tem Mestrado, também pela FGV, com foco nas Dimensões do Sucesso em Coaching (contexto brasileiro). Formação como Master Coach, Mentor e Adviser pelo Instituto Holos. Formação em Coach Executivo e de Negócios pela SBCoaching. Consultor credenciado no diagnóstico meet® (Modular Entreprise Evaluation Tool). Credenciado pela Spectrum Assessments para avaliações de perfil em inteligência emocional e axiologia de competências. Sócio-Diretor e CEO da MDM Assessoria em Negócios, desde 2001. Mentor e colaborador da plataforma Cloud Coaching, desde seu início. Ex-Presidente da Associação Brasileira de Marketing & Negócios, ex-Diretor da Associação Brasileira de Anunciantes e ex-Conselheiro da Câmara Brasileira do Livro. Primeiro brasileiro a ingressar no Global Hall of Fame da Aiesec International, entidade presente em 2400 instituições de ensino superior, voltada ao desenvolvimento de jovens lideranças em todo o mundo.
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