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Basta de Informação!

O mundo produz anualmente o mesmo volume de informações que a humanidade levou 40 mil anos para acumular. Devemos criar mecanismos para filtrá-las, aprendendo a selecionar o que é realmente relevante.

“Hoje joguei tanta coisa fora
Vi o meu passado passar por mim
Cartas e fotografias, gente que foi embora
A casa fica bem melhor assim.”
(Herbert Vianna)

Feriados têm sido para mim verdadeiras férias para reflexão. Enquanto muitos trilham para as montanhas ou singram para o litoral, enfrentando o trânsito e as filas que parecem migrar das capitais, opto pelo retiro pessoal singularmente vivido em minha própria casa.

Oportunidade para reorganizar o que a velocidade do cotidiano deixou para trás, descubro pilhas de jornais e revistas não lidos.

Diz o adágio popular que não há nada mais velho do que jornal do dia anterior. Mas o fato é que me acostumei a jamais descartar uma página que seja sem antes ao menos folheá-la. É evidente que as notícias de caráter conjuntural, aquelas do dia a dia, já nascem velhas, posto que retratam eventos ocorridos. Mas vasculho jornais e revistas em busca de temas estruturais, aqueles sem prazo de validade, e que me trazem conhecimento, conteúdo, base para argumentação.

O problema é que eles se avolumaram. E ganharam status de estorvo. A necessidade autoimposta de mirar cada uma daquelas centenas de páginas passou a me causar desconforto. De repente, vi-me acorrentado. As horas se passando, o Sol se pondo, dia após dia, e eu não aproveitara o frescor da relva, o azul límpido do céu, a companhia de meus filhos. Nem sequer produzira um texto, criara uma ideia, concebera um projeto, relaxara à beira de uma piscina.

Padeço da doença do ecletismo. É complicado quando você aprecia de Economia a Psicologia, de Finanças a Recursos Humanos, de Matemática a Filosofia, de Astronomia a Biologia. Sob esta ótica, feliz é uma de minhas irmãs que sempre se contentou em ler a programação dos cinemas e usar os demais cadernos para forrar gaiola de passarinho…

O mundo produz anualmente o mesmo volume de informações que a humanidade levou 40 mil anos para acumular. Diariamente, quantos jornais podemos ler?  Quantas revistas podemos consultar? Quantas newsletters podemos receber? Quantos canais de TV podemos assistir? Qual o custo de acessar informações nesta magnitude, muitas delas em duplicidade? E qual sua aplicação prática?

Estamos próximos de uma situação limite. Um bombardeio frenético de informações diante do qual agimos como buracos negros, absorvendo tudo, mas assimilando pouco. Uma overdose que gera conhecimento superficial e sabedoria reduzida.

Olhando para aquela pilha de revistas, percebi que ela representa muito mais. Simboliza a famigerada caixa de entrada de tarefas de nosso cotidiano, em especial no âmbito profissional, que nunca, jamais se esvaziará. Representa a tendência que temos à burocracia, a inclinação por aspectos operacionais. Fazer, fazer, fazer. Não há espaço para o pensar, o planejar e, até mesmo, o sentir.

Abdiquei da intenção de adquirir TV por assinatura só para ter acesso a canais e programas exclusivos. Cancelei o recurso de confirmação automática de recebimento de e-mails, deixando para utilizá-lo apenas quando realmente imprescindível. Descartei recortes, guias e tabloides, guardados há tempos sob a expectativa de que seriam, um dia, úteis. E, fundamentalmente, dei de presente ao lixo jornais e revistas não lidos.

Neste embalo, revisei roupas e calçados, separando peças negligenciadas no fundo de gavetas e armários e que, agora, ganharão vida no corpo de quem precisa. Reorganizei meus livros encontrando obras preciosas adquiridas por impulso e até hoje não saboreadas. Classifiquei meus CDs e revisitei com prazer canções que nem lembrava mais de que as tinha.

Assim, senti-me mais leve. É como se eu passasse de tartaruga a águia. Da lentidão à agilidade. Do conformismo à vivacidade.

A missão, agora, é evitar a recaída. Continuar livre, sobrevoando ao alto, decidindo quando voltar à terra, ou seja, qual informação capturar – aquela que me alimentar.

Tom Coelho Author
Tom Coelho, com formação em Publicidade pela ESPM e Economia pela USP, tem especialização em Marketing e em Qualidade de Vida no Trabalho, além de mestrado em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente. Foi executivo, empresário, secretário geral do IQB/ INMETRO, diretor do Simb/Abrinq e VP da AAPSA. Atualmente é professor em cursos de pós-graduação, conferencista, escritor com artigos publicados em 17 países, diretor da Lyrix Desenvolvimento Humano, da Editora Flor de Liz e do NJE/CIESP, além de Conselheiro do Consocial/FIESP. autor dos livros “Somos Maus Amantes – Reflexões sobre carreira, liderança e comportamento”, “Sete Vidas – Lições para construir seu equilíbrio pessoal e profissional” e coautor de outras cinco obras.
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