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Baixa Autoconfiança e Liderança Feminina

Por que as mulheres têm baixa autoconfiança? Elas não são autoconfiantes porque não são líderes ou não são líderes porque não são autoconfiantes?

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Baixa Autoconfiança e Liderança Feminina

No meu trabalho com mulheres, tenho realizado algumas enquetes para saber quais são as suas maiores “dores”. Na mais recente, as opções que apresentei foram:

  1. Ser muito perfeccionista;
  2. Não conseguir conciliar trabalho e família (vida pessoal e profissional);
  3. Ter crenças muito limitantes;
  4. Não saber administrar bem o tempo e procrastinar;
  5. Mão conseguir administrar bem as emoções;
  6. Não se sentir autoconfiante e boa o bastante;
  7. Não conseguir liderar e ser referência para outras pessoas.

Com 40% dos votos, as mulheres disseram que “não se sentem autoconfiantes e boas o bastante” (opção #6)  e os outros 60% foram distribuídos igualmente nas opções 4, 5 e 7. Ao analisar este resultado, algumas reflexões se fazem necessárias.

Por que as mulheres têm baixa autoconfiança?

Numa palestra de 2010, a COO do Facebook, Sheryl Sandberg olha o porquê de uma porcentagem muito menor de mulheres, quando comparadas aos homens, atingem o cargo mais alto de suas profissões. Um dos aspectos apontados por ela está exatamente no quanto as mulheres têm baixa autoconfiança, confiam pouco em si mesmas e se autossabotam.

A partir desta perspectiva, fica claro que as opções 6 e 7 estão diretamente interligadas. Aí podemos também questionar se as mulheres não são autoconfiantes porque não são líderes ou se não são líderes porque não são autoconfiantes.

Eu ousaria dizer que ambas afirmações são verdadeiras.

Quando afirmamos que as mulheres não são autoconfiantes (ou têm baixa autoconfiança) porque não são líderes, cabe uma visita ao passado e vou me ater meramente à História do Brasil, um país que já nasceu nos braços não tão esplendidos assim do patriarcado, machista e autoritário.

Desde a sua colonização, as mulheres negras foram escravizadas para servirem de serviçais, amas e objeto sexual de seus senhores enquanto nas casas grandes, as mulheres brancas eram educadas para serem mulheres prendadas e obedientes a seus futuros maridos.

Até 1827, as meninas não podiam frequentar uma escola e nem ter acesso à educação. Ser letrada ou ter acesso a livros de sua livre escolha não era sequer imaginável. Foi só em 1879, que as mulheres tiveram o direito de frequentarem uma universidade. A esmagadora maioria ia para os cursos de magistério e ciências humanas.

No final do século XIX, o movimento sufragista ou a chamada primeira grande onda feminista assolava o mundo, mas chegou no Brasil, de fato, em 1927, quando o então governador do Rio Grande do Norte,  José Augusto Bezerra de Medeiros – sancionou a lei nº 660, que no seu artigo 77 determinou que pudessem votar e ser votados, sem distinção de sexo. O direito só foi conquistado em  24 de fevereiro de 1932, quando  todas as restrições ao voto feminino foram retiradas e publicado no Código Eleitoral. Com a publicação do Decreto nº 21.076, foi instituído no Brasil a Justiça Eleitoral, o voto secreto e o voto feminino nacional.  Mas, a obrigatoriedade do voto era estendida apenas aos homens e só se tornou obrigatório para as mulheres em 1946.

Foi somente em 1990, que uma mulher foi eleita diretamente para o cargo de senadora, a mineira Júnia Marise. Em 1995, entrou em vigência as leis de ações afirmativas para mulheres que culminou na lei de cotas, determinando que 20% da lista de candidatos de partidos e coligações deveriam ser ocupados por mulheres.

Apesar do altíssimo índice de violência contra as mulheres, na maioria praticado por seus companheiros ou cônjuges, a Lei Maria da Penha de proteção às mulheres só entrou em vigor em 2006 e a lei do feminicídio em 2015.

Toda essa abordagem histórica se faz necessária para entendermos de onde vem a tão baixa autoconfiança e autoestima da mulher que por séculos jamais ocupou cargos de liderança e também teve sua voz calada ou oprimida.

Neste cenário, nós mulheres, estamos ainda engatinhando e aprendendo a nos posicionar, a usar nossas vozes e nos fazermos ouvidas e respeitadas. Apesar dos avanços e conquistas, o Brasil continua no topo dos países mais desiguais, com maior número de violência contra a mulher de toda ordem, física, moral, psicológica e patrimonial.

No ambiente corporativo, o retrato fica claro quando vemos o número de apenas 3% de mulheres ocupando cargos de liderança e percebendo um salário, em média, 30% menor que de um homem que ocupa a mesma função.

O que isso tem a ver com assédio? Eu diria que tudo. Cada vez mais, precisamos estar atentos e atentas às relações, sejam no trabalho ou no ambiente familiar, e do quanto as mulheres ainda são assediadas e violentadas.

Se você é líder, então observe se sua colaboradora está sempre assustada, calada, com medo, acuada. Observe até sua postura, se está mais ereta ou sempre mais curvada, cabisbaixa.

Quando numa reunião, dê espaço igualmente para ouvir a mulher, suas opiniões e sugestões. Alguns termos em inglês têm sido usados para explicar atitudes machistas que violentam moral e psicologicamente as mulheres.

  • manterrupting” – é quando o homem sempre interrompe a mulher sem permitir que ela conclua uma frase ou linha de raciocínio;
  • mansplaining” – é quando o homem conversa com a mulher como se ela fosse uma criança ou pessoa com incapacidade cognitiva para entender o óbvio;
  • Gaslighting” – é quando o homem inverte o jogo e começa a chamar a mulher de histérica, louca, manipuladora diante de uma situação que ele sabe que ela está coberta de razão ;
  • Propriating” – é quando o homem se apropria da ideia ou do trabalho de uma mulher e apresenta como se fosse só seu, de sua única e exclusiva autoria.

Por mais que pareça assustador, essas atitudes são muito mais comuns do que deveriam ser e do que desejaríamos que fossem. Portanto, se você deseja se tornar uma líder de referência, impactar vidas positivamente e se tornar uma pessoa mais autoconfiante, comece por não aceitar contra você ou qualquer outra mulher ações violentas de qualquer natureza.

Cris Ferreira
https://soucrisferreira.com.br/

Fontes:

http://querepublicaeessa.an.gov.br/temas/147-o-voto-feminino-no-brasil.html
https://www.politize.com.br/cotas-de-genero-em-eleicoes/
https://blog.solides.com.br/mulheres-na-lideranca

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Cristiane Ferreira é Coach formada pelo IBC – Instituto Brasileiro de Coaching, Professora da Fundação Getúlio Vargas com cadeiras em Liderança, Coaching, Inteligência Emocional, Técnicas de Comunicação e Empreendedorismo, Palestrante, Empresária do setor de Educação desde 1991, Graduada em Letras pela UFMG e Pós-graduada em Linguística Aplicada pela UFMG, MBA em Gestão de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas, Formada em Inglês pela University of New Mexico, EUA, Apresentadora do Programa Sou Múltipla, Fundadora da Associação das Mulheres Empreendedoras de Betim, Ex-Presidente da Câmara Estadual da Mulher Empreendedora da Federaminas (2014/2016), Destaque no Empreendedorismo feminino, recebeu vários prêmios entre eles o “Mulheres Notáveis – Troféu Maria Elvira Salles Ferreira” da ACMinas, troféu Mulher Líder, “Medalha Josefina Bento” da Câmara Municipal de Betim, “Mulher Influente” do MG Turismo e o “Mérito Legislativo do Estado de Minas Gerais”, Comenda Amiga da Cultura da Prefeitura Municipal de Betim.
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