
Método DOQ e o Poder Transformador da Linguagem no Coaching
O episódio 47 do Coaching Revealed, produzido pelo Institute of Coaching (Boston – EUA), com Jeffrey Hull e a convidada Drª Haesun Moon, apresentou uma perspectiva revolucionária para coaches, mentores e profissionais de desenvolvimento humano. A Drª Moon, cientista da comunicação e pesquisadora, faz a ponte entre neurociência, linguística e o coaching defendendo uma conclusão poderosa: a linguagem não é apenas uma ferramenta, mas o meio vivo e literal da mudança humana.
A principal lição que ela nos apresenta é que o segredo da transformação reside na microestrutura da conversa. Ao entender como cada palavra, pergunta e resposta se encaixa no diálogo, podemos não apenas observar, mas também cocriar intencionalmente um caminho de mudança com o cliente.
É um convite para repensar o papel da linguagem, pois mais do que ferramenta, a linguagem é o próprio meio vivo da transformação. Cada palavra, pergunta ou mesmo o silêncio molda a experiência do cliente e abre — ou fecha — as possibilidades de se atingir uma mudança.
A Drª Moon criou o modelo Dialogic Orientation Quadrant (DOQ) com o objetivo de mostrar como o simples ato de conversar pode ser mapeado, analisado e intencionalmente aplicado para gerar progressos na transformação de uma pessoa. A partir da integração entre neurociência, linguística e coaching com foco em soluções, ela nos convida a enxergar o diálogo como espelho do pensamento — e um campo fértil de criação.
O que é o DOQ e por que ele importa
O Dialogic Orientation Quadrant (DOQ) é um modelo simples, mas de enorme poder prático. Ele organiza qualquer conversa segundo duas dimensões:
- Orientação temporal: Passado × Futuro;
- Valência emocional: Positivo × Negativo.
Da combinação desses eixos surgem quatro quadrantes, cada um representando um tipo de foco narrativo do cliente:
1. Futuro Preferido (Positivo + Futuro).
É onde nascem as metas, as aspirações e as visões de propósito. Perguntas como: “O que você notará de diferente quando isso estiver funcionando?” ou “Qual seria seu primeiro pequeno passo?” ajudam a criar clareza e engajamento. Na prática do coaching, esse é o espaço da cocriação, enquanto na mentoria é o lugar da estrutura e da inspiração prática.
2. Passado Recursal (Positivo + Passado).
É onde vivem os recursos, os aprendizados e as forças já demonstrados. Perguntas como: “Quando você enfrentou algo parecido com sucesso, o que fez funcionar?” ativam a memória de competência. No coaching promove autoconfiança e na mentoria traduz experiências em estratégias reaplicáveis.
3. Passado Problemático (Negativo + Passado).
Aqui temos a narrativa das dificuldades e frustrações. Embora inevitável, tanto no coaching como na mentoria esse quadrante significa um terreno de passagem, não deve ser de permanência. O profissional habilidoso usará este quadrante para compreender, mas redirecionará o diálogo para o quadrante 2 (recursos) ou quadrante 1 (objetivos). Ficar preso neste espaço reforça a possível identificação do cliente como vítima e vai gerar estagnação no movimento de mudança.
4. Futuro Temido (Negativo + Futuro).
Este quadrante é o local onde moram os medos e as projeções de falha. Reconhecer o quadrante 4 é essencial para empatia e realismo, mas o propósito é transformá-lo em motivação para agir, tanto para a prática do coaching como a da mentoria. A pergunta típica: “Se nada mudar, o que estará em risco?” pode transformar medo em energia para o progresso.
O DOQ, portanto, é uma bússola de escuta. Ele mostra não apenas o que o cliente diz, mas de onde ele fala — e para onde o diálogo está se movendo. Segundo a Drª Moon, a linguagem não descreve a mudança; ela é que produz a mudança. Cada vez que o cliente fala em termos de futuro desejado ou de recursos passados, seu cérebro ativa circuitos neurais associados à possibilidade, à ação e à esperança. É literalmente uma reprogramação da percepção e da identidade.
3 princípios sustentam esse processo:
- A fala molda a experiência: Descrever o futuro em detalhes positivos é ensaiar mentalmente a realização. O cérebro não distingue imaginação vívida de ação planejada.
- Toda pergunta carrega uma presunção: Uma pergunta como “Qual é o problema principal?” reforça o foco no obstáculo. Já “O que você já está fazendo que está ajudando, mesmo que um pouco?” pressupõe progresso — e, portanto, cria movimento. O poder está na pressuposição embutida em cada pergunta.
- A mudança se mede pela linguagem: À medida que o cliente passa a usar mais termos de ação, solução e futuro, sabemos que o processo está funcionando. O vocabulário se torna o espelho da transformação.
Do insight à prática: aplicando o DOQ no dia a dia
1. Escuta orientada por quadrantes:
Durante a sessão, observe em que quadrante as falas do cliente se concentram. O mapeamento ajuda o coach ou mentor a perceber onde a conversa cria energia e onde se esgota.
- Está preso em narrativas de fracasso? (Q3)
- Expressa medo e ansiedade? (Q4)
- Ressalta aprendizados? (Q2)
- Constrói visões e planos? (Q1)
2. Perguntas que movem a atenção:
Mover de Q3 ou Q4 para Q1 e Q2 é o coração do processo. Cada pergunta bem formulada é um convite para o cliente reorganizar a própria narrativa.
- “O que você aprendeu de útil nessa experiência?” → transita para Q2
- “Como será quando esse objetivo estiver realizado?” → leva a Q1.
3. Micro feedback linguístico:
Gravar ou transcrever trechos de sessão permite rastrear padrões de fala. Com o tempo, coach e cliente percebem se o diálogo está se tornando mais orientado a recursos e soluções. Essa consciência gera autoeficácia.
4. Reframing e linguagem específica:
O foco em exceções abre janelas para o aprendizado e para o crescimento. É importante trocar generalizações (“sempre erro”, “nunca dá certo”) por observações situacionais (“nessa vez, o que dificultou?”).
5. Metáforas que criam movimento:
As imagens usadas pelo cliente revelam sua percepção de progresso. Perguntas como “Que imagem representa o futuro que você quer construir?” conectam emoção e ação, facilitando o planejamento.
Integração com práticas de coaching e mentoria
O DOQ reforça pilares conhecidos nas abordagens de coaching e mentoria, mas com lente científica e refinada:
- Coaching orientado a soluções: O DOQ operacionaliza o princípio de focar no que funciona. Ele mostra, com clareza, quando o diálogo com o cliente está levando para uma construção de futuro ou reforçando o passado problemático.
- Escuta empática e estratégica: A empatia continua essencial, mas ganha precisão. O coach não apenas compreende o sentimento, mas entende o posicionamento linguístico do cliente e o utiliza para direcionar a conversa.
- Supervisão e desenvolvimento profissional: O DOQ é uma ferramenta excelente para supervisores avaliarem a qualidade das perguntas e das intervenções em um processo de coaching. Em mentoria, permite estruturar diálogos de aprendizagem baseados em experiências bem-sucedidas (Q2).
- Definição de metas com linguagem intencional: Transforme objetivos formulados como “não quero mais…” em declarações positivas como “Quero criar um ambiente em que…”. O modo como o cliente descreve o futuro já determina parte do seu sucesso.
Medindo progresso pela linguagem
O progresso em coaching não se mede apenas por resultados externos, mas também pela mudança no discurso do cliente. Quando a proporção de falas em Q1 e Q2 aumenta em relação a Q3 e Q4, temos então a evidência clara de uma evolução cognitiva e emocional.
Sinais de progresso linguístico aparecem quando o cliente usa mais verbos de ação e menos adjetivos de queixa; descreve o futuro em termos sensoriais (“vou perceber que deu certo quando…”) e, ainda; usa pronomes de responsabilidade (“eu posso”, “eu escolho”) em vez de vitimização (“só acontece comigo”).
Essas mudanças mostram que a transformação já começou, antes mesmo de ações concretas se consolidarem. É fundamental entender que o DOQ é uma ferramenta conversacional, pois não substitui intervenções clínicas ou terapêuticas quando há sofrimento emocional profundo. Além disso, ele é mais eficaz quando aplicado em contextos de desenvolvimento, liderança e aprendizagem contínua.
Práticas recomendadas para coaches e mentores
Com base no método DOC, algumas sugestões práticas são simples de implementar: Mapeie sessões reais com o DOQ por quatro semanas e observe como a linguagem do cliente se move entre os quadrantes; Escute tendo o espírito de compaixão, mas guie a conversa para Q1 e Q2; deliberadamente; Grave e revise as falas, pois a microanálise da linguagem é um espelho poderoso; Dê e receba feedback sobre perguntas, tempo de fala e tipo de escuta, e também; Reescreva metas com foco em linguagem de criação, uma vez que as palavras serão o primeiro passo da ação.
Conclusão: A linguagem como prática transformadora
O diálogo entre Jeffrey Hull e a Drª Haesun Moon tem a capacidade de redefinir o que significa “fazer coaching”. Não se trata apenas de aplicar técnicas, mas de hospedar conversas que geram realidade. O DOQ é mais do que um modelo; é um convite à consciência linguística.
Ele mostra que cada pergunta pode abrir um futuro, cada palavra pode reforçar um recurso, e cada conversa pode se tornar, de fato, um campo de transformação. Para coaches, mentores e líderes de desenvolvimento humano, dominar a arte da linguagem é dominar a arte da mudança.
Afinal, a transformação não acontece depois da conversa — ela começa dentro dela.
Eu sou Mario Divo e acompanhe-me pelas mídias sociais ou pelo site www.mariodivo.com.br.
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Quer saber mais sobre como o método DOQ pode transformar conversas em caminhos reais de mudança e autodesenvolvimento? Então, entre em contato comigo. Terei o maior prazer em responder.
Até nossa próxima postagem!
Mario Divo
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