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Indústria 5.0: Avanço ou Retrocesso?

Será que a Indústria 5.0 é um avanço ou retrocesso? Quando a automação decide resgatar o papel humano, surge um novo dilema. Descubra como a colaboração entre humanos e máquinas, guiada por ética e propósito, pode redefinir o futuro da inovação.

Indústria 5.0: Avanço ou Retrocesso? Quando o futuro da automação depende de resgatar o papel humano — e da confiança nas máquinas inteligentes

Indústria 5.0: Avanço ou Retrocesso?
Quando o futuro da automação depende de resgatar o papel humano — e da confiança nas máquinas inteligentes

Durante anos, o discurso da Indústria 4.0 construiu uma visão quase utópica da automação total. Fábricas autônomas, algoritmos de decisão, robôs inteligentes e processos autoajustáveis prometiam eficiência ilimitada. O ser humano parecia caminhar para um papel secundário — observador da própria criação.

Mas agora surge um novo paradigma: a Indústria 5.0.

E, ao contrário do que muitos esperavam, ela propõe um movimento de volta às origens — recolocar o ser humano no centro da inovação.

Uma proposta que, à primeira vista, pode soar como um retrocesso. Será mesmo?


Da automação à colaboração: o salto de paradigma

A Indústria 4.0 tinha como objetivo máximo a eficiência operacional. Suas bases eram a integração cibernética, os sistemas inteligentes e a conectividade total entre máquinas e dados. Era o império da automação.

Já a Indústria 5.0 propõe um salto de consciência.

Mais do que automatizar, ela busca harmonizar a relação entre humanos e máquinas, enfatizando assim valores como criatividade, propósito e sustentabilidade. Aqui, o foco deixa de ser apenas o como produzir e passa então a ser o porquê produzir.

De acordo com a Comissão Europeia:

“Na Indústria 5.0, a tecnologia deixa de ser o fim e volta a ser o meio — a serviço do ser humano, da sociedade e do planeta.”


O conceito central: Trustworthy AI

No coração dessa nova revolução está o conceito de Trustworthy AI — ou Inteligência Artificial Confiável. O termo foi formalizado pela Comissão Europeia, por meio do High-Level Expert Group on Artificial Intelligence (AI HLEG), que estabeleceu as diretrizes éticas para o desenvolvimento e o uso responsável da IA em 2019.

Essas diretrizes são a base para o AI Act, a legislação europeia que regula o uso da IA no bloco da União Europeia, aprovada em 2024.

De acordo com o relatório do AI HLEG, uma IA confiável deve atender a sete princípios fundamentais:

  1. Agência e supervisão humana: a IA deve apoiar, não substituir, o julgamento humano;
  2. Robustez técnica e segurança: o sistema precisa ser resiliente e auditável;
  3. Privacidade e governança de dados: garantir o controle e a proteção dos dados;
  4. Transparência e explicabilidade: decisões devem poder ser entendidas e rastreadas;
  5. Diversidade, não discriminação e equidade: eliminar vieses e promover justiça algorítmica;
  6. Bem-estar social e ambiental: gerar impacto positivo e sustentável;
  7. Responsabilização: assegurar mecanismos claros de prestação de contas.

Esses pilares formam o núcleo da Indústria 5.0, em que a inteligência artificial não substitui o ser humano, mas amplifica suas capacidades, mantendo-o sempre no comando.


Por que isso parece um retrocesso?

Para quem viveu a era da Indústria 4.0, com sua promessa de automação completa, falar em “supervisão humana” pode soar antiquado. Por que limitar o poder das máquinas se elas podem aprender, decidir e otimizar por conta própria?


A resposta está na confiança

Os últimos anos mostraram os riscos da inovação sem ética: algoritmos discriminatórios, manipulação de informações, vazamentos de dados e perda de controle sobre decisões críticas. Em diversas situações, a IA reproduziu — e até ampliou — os vieses humanos que deveria eliminar.

Nesse contexto, a Trustworthy AI não é um retrocesso, mas uma correção de rota.

É o amadurecimento de uma tecnologia que precisa ser não apenas eficiente, mas também segura, justa e responsável.


O verdadeiro avanço: confiança como ativo estratégico.

A Indústria 5.0 redefine o conceito de vantagem competitiva.

Na era da automação, o diferencial era a velocidade.

Na era da confiança, o diferencial passa a ser a responsabilidade.

Empresas que adotam práticas de IA confiável conquistam algo muito mais valioso do que produtividade:

  • Legitimidade e sustentabilidade de longo prazo;
  • Clientes escolherão marcas que explicam como utilizam IA;
  • Investidores valorizarão empresas com governança tecnológica clara;
  • Reguladores priorizarão quem cumpre os princípios éticos e legais de confiança (AI Act, ISO/IEC 42001:2023, LGPD).

A confiança se tornará a nova moeda da inovação.

E as empresas que entenderem isso antes das demais sem dúvida construirão relacionamentos mais sólidos com seus stakeholders — humanos ou digitais.


Humano + máquina: a colaboração inteligente

A grande virada da Indústria 5.0 é a substituição do antagonismo por colaboração. Não se trata de humanos contra máquinas, mas de humanos com máquinas.

Em vez de buscar a autonomia total da tecnologia, o novo paradigma estimula a cocriação. Máquinas inteligentes assumem tarefas repetitivas e analíticas, liberando assim o ser humano para o pensamento criativo, estratégico e empático.

Em fábricas, isso se traduz em robôs colaborativos (cobots).

Nos negócios, em decisões assistidas por IA explicável.

Na sociedade, em sistemas inteligentes que de fato respeitam direitos e valores humanos.


Conclusão: o avanço que parecia retrocesso

A Indústria 5.0 é, acima de tudo, uma evolução de consciência.

Depois de décadas buscando a eficiência a qualquer custo, estamos aprendendo que o progresso tecnológico sem propósito é, sem dúvida, insustentável.

Recolocar o ser humano no centro — e exigir confiança das máquinas — não é um passo atrás.

É o passo mais importante para que a inovação continue sendo um instrumento de progresso, e não de risco.

A inovação do futuro não será medida pela quantidade de algoritmos, mas pela qualidade da confiança que construímos com eles.


Gostou do artigo? 

Quer saber mais sobre como a Indústria 5.0 transforma a colaboração entre humanos e máquinas em inovação ética, sustentável e inteligente? Então, me chame no WhatsApp (12) 99605-1999. Terei o maior prazer em conversar a respeito!

Até o próximo artigo!

Um abraço.

Marcelo Farhat
https://www.meetnetwork.net
https://www.linkedin.com/in/araujomf/

Confira também: O Impacto da Inteligência Artificial na Carreira de um Futuro Engenheiro de Computação


Referências

COMISSÃO EUROPEIA. Ethics Guidelines for Trustworthy AI: High-Level Expert Group on Artificial Intelligence (AI HLEG). Brussels: European Commission, 2019. Disponível em: https://digital-strategy.ec.europa.eu/en/library/ethics-guidelines-trustworthy-ai. Acesso em: 16 out. 2025.

UNIÃO EUROPEIA. Artificial Intelligence Act (AI Act): Regulation (EU) 2024/1689 of the European Parliament and of the Council. Official Journal of the European Union, 2024. Disponível em: https://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/?uri=CELEX:32024R1689. Acesso em: 16 out. 2025.

ISO/IEC. ISO/IEC 42001:2023 — Artificial intelligence management system — Requirements. Geneva: International Organization for Standardization, 2023.

COMISSÃO EUROPEIA. Industry 5.0: Towards a sustainable, human-centric and resilient European industry. Brussels: European Commission, Directorate-General for Research and Innovation, 2021. Disponível em: https://research-and-innovation.ec.europa.eu/publications/industry-50_en. Acesso em: 16 out. 2025.

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Marcelo Farhat é mestre em engenharia da produção e qualidade pelo ITA, MBA em administração de recursos humanos pela FAAP e engenheiro mecânico pelo ITA. Consultor empresarial desde 2007 tendo apoiado a avaliação e estruturação de empresas em diversos ramos de atividade, onde implantou programas de inovação e empreendedorismo, visando a evolução e expansão dos negócios dos clientes. Mentor de diversas startups nos programas de aceleração Inovativa do Governo Federal e HackBrasil do MIT. Professor da disciplina Confiabilidade de Sistemas no Instituto Tecnológico de Aeronáutica e para empresas de diversos segmentos, como mineração, aeronáutica, geração de energia. Diretor de empreendedorismo e inovação na ABCO (Associação Brasileira de Consultores) e sócio da souzAraujo Consultoria Empresarial. Desenvolveu, em parceria com o ITA e apoio do CNPq, o MEET – diagnóstico e benchmarking, ferramenta de diagnóstico dos processos organizacionais de empresas que identifica as forças e fraquezas das organizações avaliadas, além de realizar a comparação com os resultados obtidos pelo conjunto de empresas previamente avaliado, cuja aplicação é efetuada em um software na nuvem de dados por consultores credenciados em suas regiões de atuação.
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