
A Travessia que Chamamos de Morte: O Reencontro com a Essência
Querido leitor, poucas palavras despertam tanto desconforto quanto “morte”. Mas talvez seja porque esquecemos que ela é apenas uma travessia. Assim como o parto nos empurra da escuridão silenciosa do ventre para a luz da vida, a morte é outra passagem, da forma visível para a invisível.
Ninguém se lembra da vida antes do parto, mas sabemos que ela existia. Do mesmo modo, a morte não apaga o ser, apenas muda o endereço da alma.
Recentemente, uma amiga partiu. E, curiosamente, não consigo senti-la ausente. É como se ela respirasse nas entrelinhas dos meus dias, nas lembranças, nas risadas que ecoam de repente, nas palavras que continuam me curando.
As pessoas que amamos não morrem; apenas se expandem. Continuam existindo através do quanto nos permitimos lembrá-las.
Muitas vezes, ao falar da morte, escutamos: “Perdi fulano.” Mas será que alguém que amamos de verdade pode ser perdido?
Eu não acredito que sim.
Porque ninguém se perde quando deixa fragmentos de amor espalhados pela vida.
Ninguém se perde quando continua vivo nas histórias que contamos, nas frases que repetimos, nas pequenas manias que herdamos sem perceber.
A presença não se mede pela ausência física, mas pela intensidade da lembrança que permanece.
Na filosofia Vedanta, estudo ao qual me dedico há alguns anos, aprendemos que a morte não é um evento trágico, mas uma mudança de roupagem da consciência. Vedanta nos recorda que somos o Ser, o Eu imutável, eterno, ilimitado, e não o corpo nem a mente que nascem e morrem.
Assim como o oceano permanece mesmo quando as ondas se dissolvem, o Ser permanece quando o corpo se vai.
A morte é, portanto, o retorno à essência. Não um fim, mas um reencontro com a totalidade.
Talvez “Dia de Finados” devesse ser lembrado como o Dia dos Recomeços Invisíveis.
Porque nada realmente se finda. Tudo se transforma.
E, quando alguém parte, o convite para quem fica é deixar morrer também o que não vive: os apegos, as culpas, as resistências que nos impedem de estar plenamente vivos.
Viver, em seu mais profundo significado, é reconhecer a existência como um milagre.
É viver como se fosse o último dia, saboreando o agora com gratidão.
E, ao mesmo tempo, viver como se fosse o primeiro, com olhos curiosos, fé renovada e o coração aberto para o novo.
Porque, no fundo, cada amanhecer é uma chance de renascer.
Exercícios para manter viva a presença amorosa
1. Ritual da memória viva
Crie um pequeno altar simbólico com uma vela, uma flor ou uma foto. Ao olhar para ele, agradeça pela presença daquela alma em sua vida. Não é um ato de saudade que dói, mas um gesto de amor que reconhece a continuidade.
2. Carta ao invisível
Escreva uma carta para quem partiu. Conte o que você aprendeu, o que ainda sente, o que segue pulsando em você por causa dessa relação. Leia em voz alta. O som da sua voz é ponte entre mundos.
3. A vida que segue em mim
Observe algo dessa pessoa que você deseja manter vivo: uma qualidade, um gesto, uma forma de olhar a vida. Pratique isso intencionalmente. Cada vez que agir assim, ela viverá de novo, através de você.
Querido leitor, ninguém se perde.
Apenas muda de forma.
E o amor, quando verdadeiro, não conhece distância nem despedida, apenas transformações.
Gostou do artigo?
Quer saber mais sobre a travessia da morte e o reencontro com a essência que permanece viva em cada um de nós? Então, entre em contato comigo. Terei o maior prazer em falar a respeito.
Com carinho,
Shirley Brandão
Mentora de Prosperidade Integral, escritora e terapeuta sistêmica
https://shirleybrandao.com.br/
@shirleybrandaooficial
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