
Apagão da Mão de Obra ou Descompasso de Expectativas?
Em muitos Cafés com Sassá, as conversas têm girado em torno de uma inquietação: o chamado “apagão da mão de obra”.
Enquanto tomo meu café e escuto diferentes histórias, me pego pensando:
Será que estamos diante de uma real escassez de talentos ou de um descompasso entre modelos de trabalho e novas expectativas?
E o que, de fato, pode ser feito para que empresas e profissionais encontrem novos caminhos diante desse cenário?
O que o mercado chama de “apagão da mão de obra” não é apenas a ausência de pessoas para preencher vagas. É a combinação de mudanças profundas no perfil e nas prioridades de quem trabalha, somada ao envelhecimento populacional e a uma transformação cultural que desafia a lógica tradicional das empresas.
De um lado, profissionais que ingressam agora no mercado chegam com demandas diferentes: querem propósito, flexibilidade e equilíbrio – e dificilmente repetem a disposição de sacrificar saúde e vida pessoal em nome de estabilidade.
De outro, há quem esteja no auge da carreira, carregando múltiplas responsabilidades, metas agressivas, pressão constante e, muitas vezes, sinais claros de esgotamento.
E temos também um contingente cada vez mais expressivo de profissionais experientes que, após anos de dedicação, hoje escolhem onde e como desejam contribuir – seja no mundo corporativo ou empreendendo.
A dança de expectativas
Essa dança de ritmos e prioridades cria um cenário complexo para as organizações.
Como manter operações rodando quando parte da equipe busca mais flexibilidade, outra parte está sobrecarregada e outra deseja redefinir sua relação com o trabalho?
Não há política de RH ou pacote de benefícios que, isoladamente, dê conta disso.
O envelhecimento populacional adiciona novas camadas a essa equação. A redução da taxa de natalidade, combinada ao aumento da longevidade, significa que teremos menos jovens entrando no mercado e mais profissionais experientes ativos por mais tempo.
Isso exige rever modelos de contratação, mas também repensar o próprio desenho das carreiras, integrando diferentes ritmos e estágios de vida numa mesma estrutura produtiva.
Liderança que constrói pontes
Há um detalhe que muitos líderes preferem ignorar: aquele Gen Z de quem tanto reclamam no trabalho é, muitas vezes, muito parecido com o filho que têm dentro de casa.
A mesma postura questionadora, a busca por sentido, a pressa para alcançar objetivos e a impaciência com processos que parecem lentos ou desnecessários.
Como liderar, dialogar e engajar quem, culturalmente, aprendeu a valorizar a autonomia desde cedo?
Como criar pontes em vez de muros?
O avanço do empreendedorismo
Enquanto isso, cresce o movimento de profissionais – de todas as idades – que optam por empreender.
Para alguns, é a chance de ter mais autonomia e alinhar trabalho e propósito.
Para outros, é a saída para escapar de ambientes complexos ou estruturas engessadas.
Mas é preciso lembrar: empreender não é para todos. Exige resiliência, tolerância ao risco e disposição para lidar com incertezas que nem todos estão prontos para enfrentar.
Ainda assim, esse fluxo alimenta o ecossistema de inovação, mas também amplia a sensação de escassez de talentos dentro das empresas, que veem bons profissionais migrarem para projetos próprios.
O que realmente importa
Para as organizações, lidar com esse quadro significa mais do que abrir vagas e esperar que elas se preencham.
É preciso criar ambientes que sustentem relações de trabalho saudáveis, que respeitem limites e aproveitem o melhor de cada profissional, independentemente de sua etapa de vida.
É tratar o bem-estar como parte do motor que sustenta resultados duradouros. E reconhecer que um time diverso em idade, experiência e expectativas pode ser uma vantagem competitiva, desde que bem gerido.
Para os profissionais, o desafio é igualmente grande. As novas dinâmicas exigem clareza de escolhas, desenvolvimento contínuo e coragem para redesenhar a própria trajetória.
Carreira é como um bom café
Talvez o grande segredo esteja em tratar a carreira como um bom café: cada fase tem seu tempo de preparo, sua temperatura ideal e seu sabor único.
Forçar o processo pode amargar o resultado; respeitar o ponto certo pode transformar a experiência.
E, como toda boa jornada, exige pausas, trocas e disposição para experimentar novos caminhos.
O apagão da mão de obra, no fundo, é um alerta. Um convite para que empresas e profissionais revisitem suas premissas sobre o que é trabalhar, produzir e viver – sem romantizar demais, mas reconhecendo que, além de propósito, todos temos contas para pagar e responsabilidades para cumprir.
E agora?
Talento não é recurso; é gente. E gente decide onde quer estar. Para ficar, precisa se sentir reconhecida, ter espaço para crescer e motivos para permanecer.
E olhando para dentro das nossas casas e empresas, fica a pergunta: estamos prontos, de fato, para lidar com diferentes demandas, ritmos e expectativas?
Talvez a resposta esteja em abandonar o modelo único e aceitar que cada jornada – assim como cada xícara – pede um preparo diferente.
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Quer saber mais sobre como lidar com o apagão da mão de obra no Brasil e alinhar expectativas no mercado de trabalho? Então, entre em contato comigo. Terei o maior prazer em ajudar você em sua jornada.
Salete Deon
Especialista em Gestão de Carreira e Desenvolvimento de Lideranças, Segurança Psicológica de Times pelo IISP, Liderança Feminina pela StartSe/SBE, Coach Executiva (PCC), Palestrante, Top Voice Linkedin, Fundadora da DeON Consulting
https://www.linkedin.com/in/salete-deon/
salete@deonconsulting.com.br
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