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4 Cenários para a Europa: Como isso poderá impactar o nosso futuro?

Baseado em estudo do Copenhagen Institute, descubra 4 cenários para a Europa e suas implicações globais. Prepare-se para as incertezas e entenda como essas tendências podem moldar seu cotidiano, afetar a economia e influenciar o futuro do Brasil.

4 Cenários para a Europa: como isso poderá impactar o nosso futuro?

4 Cenários para a Europa: Como isso poderá impactar o nosso futuro?

O mundo de hoje nos obriga a navegar em um mar de incertezas. Da economia global às rápidas mudanças tecnológicas, passando pelas tensões geopolíticas, o futuro parece mais imprevisível do que nunca. E confesso que a motivação de trazer esse assunto nesta postagem nasceu do enfrentamento que os Estados Unidos da América estão criando, por meio do presidente Donald Trump, envolvendo a revisão de tarifas comerciais de países de todo o mundo e questões que transcendem a esfera econômica, chegando mesmo à esfera política.

Nesse contexto, a capacidade de se preparar para o que pode acontecer passa a ser uma habilidade crucial para qualquer pessoa. É nesse ponto que o conceito de foresight, ou “prospecção de futuros”, apresenta-se como inestimável. Longe de ser uma forma de adivinhação, a prospecção de futuros é uma disciplina que nos ajuda a mapear os caminhos possíveis, antecipar desafios e identificar oportunidades, permitindo-nos agir de forma mais consciente e estratégica.

Recentemente, o renomado centro de pesquisa Copenhagen Institute for Future Studies, em sua publicação Farsight, apresentou o estudo intitulado “Europe’s Futures: Four Scenarios”. Em versão livre, “Os quatro cenários para o futuro da Europa” traz uma visão fascinante sobre o que o futuro da Europa pode reservar. E, por extensão, o que isso significa para o desenvolvimento humano em nível global.

Esse estudo, fundamental para a nossa reflexão, não se propõe a prever o futuro. Seu objetivo é apresentar quatro cenários plausíveis que podem se desdobrar na próxima década.

Muitos, que ora estão lendo esta postagem, podem argumentar ser essa uma projeção para a Europa, enquanto vivemos no Brasil!

Cabe lembrar que, em um contexto no qual a tecnologia coloca todas as pessoas simultaneamente em todos os lugares do mundo, as tendências do que pode acontecer na Europa certamente alcançarão também o nosso país. Esses movimentos terão implicações em escala global.

Portanto, ao explorarmos os resultados do estudo, poderemos vislumbrar como cada um desses futuros projetados irá afetar o nosso cotidiano. Esses impactos vão desde a forma como trabalhamos até a maneira como nos relacionamos com outras pessoas.

A metodologia utilizada se baseia em dois eixos principais, cujas interações definem os quatro cenários:

  • O primeiro eixo é a coesão europeia: varia de uma Europa fragmentada a uma Europa unificada. Uma Europa unificada seria caracterizada por uma maior integração política e econômica. Já uma Europa fragmentada veria o retorno de interesses nacionais, com cada país buscando seus próprios caminhos.
  • O segundo eixo é a colaboração global: vai de uma colaboração baseada em valores (como a histórica aliança transatlântica) a um sistema de colaboração transacional. Nesse eixo, as relações são pautadas por interesses comerciais e políticos de curto prazo, sem um alinhamento ideológico mais profundo.

A combinação desses dois eixos cria uma matriz de quatro futuros distintos, cada um com implicações profundas para a vida de cada um de nós.


Cenário A: “Echoes of the West” (Ecos do Ocidente)

Neste cenário, a Europa se encontra fragmentada, mas em um mundo em que a colaboração global se mantém forte e baseada em valores, impulsionada por laços transatlânticos sólidos.

Em termos de desenvolvimento humano, isso pode ter impactos paradoxais. Por um lado, a cooperação global em áreas como tecnologia, ciência e cultura poderia prosperar. A pesquisa científica, por exemplo, poderia se beneficiar de um forte intercâmbio com parceiros como os Estados Unidos, levando a inovações mais rápidas em saúde e sustentabilidade.

No entanto, a fragmentação interna da Europa traria desafios significativos. A livre circulação de pessoas e bens, que hoje consideramos garantida, poderia ser dificultada pelo retorno de barreiras e fronteiras mais rígidas. O reconhecimento de qualificações profissionais e diplomas universitários entre países europeus poderia se tornar mais complexo. Para o profissional do futuro, isso significa que a mobilidade de carreira seria limitada, exigindo uma maior adaptação e, talvez, a necessidade de se especializar em um mercado de trabalho mais localizado.

A identidade europeia, que tem se fortalecido nas últimas décadas, seria enfraquecida em favor de identidades nacionais mais proeminentes. Em termos pessoais, as pessoas poderiam se sentir mais desconectadas dos vizinhos europeus e mais alinhadas com outros parceiros de diferentes continentes.


Cenário B: “Eurovision+”

O nome deste cenário evoca um dos símbolos de união europeia, e não é simples acaso. “Eurovision+” descreve uma Europa unificada em um mundo de forte colaboração global e alianças sólidas. Este é o futuro mais otimista, onde a união europeia se aprofunda e a parceria transatlântica se reafirma. Para o desenvolvimento humano, este cenário é repleto de oportunidades. A unificação da Europa poderia resultar em políticas sociais e de bem-estar mais alinhadas, facilitando o acesso à saúde e à educação em todo o continente.

A economia, impulsionada por uma maior integração, poderia gerar mais empregos e oportunidades de crescimento. A liberdade de circulação se consolidaria, tornando o trabalho e o estudo em outro país europeu uma realidade ainda mais acessível. Imagine um futuro em que um jovem de Portugal pode facilmente estudar na Alemanha, trabalhar na Irlanda e se aposentar na França, tudo sob um quadro legal e social harmonizado.

A inovação tecnológica seria impulsionada por investimentos em escala continental, resultando em avanços que impactariam positivamente a vida diária, da energia limpa à inteligência artificial responsável. A identidade europeia se tornaria uma parte fundamental da identidade individual, com um senso de comunidade e propósito compartilhado.


Cenário C: A Europa atual, em transição

Segundo os autores do estudo, é neste cenário que a Europa se encontra atualmente. Uma Europa com coesão “moderada” ou em “conflito” — unificada em alguns aspectos, mas lutando para manter sua integridade — em um mundo transacional.

Neste ambiente global, as nações agem com base em interesses de curto prazo, enquanto as alianças de valores são menos importantes do que os negócios e a geopolítica pragmática. Os impactos desse cenário no nosso dia a dia são os que mais conhecemos. As tensões comerciais e políticas têm um impacto direto no custo de vida. A incerteza econômica pode levar a mercados de trabalho mais instáveis.

A falta de um alinhamento global de valores pode resultar em desafios ambientais e sociais não resolvidos, já que cada país prioriza seus próprios interesses. Para o indivíduo, isso se traduz em uma sensação de maior vulnerabilidade. A mobilidade, embora possível, pode ser mais burocrática.

Os desafios globais, como a crise climática ou a segurança digital, se tornam mais difíceis de resolver, pois a falta de uma colaboração baseada em valores impede a ação conjunta eficaz. As pessoas se sentem presas entre as aspirações de uma Europa unificada e as realidades de um mundo fragmentado.


Cenário D: “MXGA”

Este é o cenário mais desafiador. “MXGA” (um acrônimo para “Make X Great Again”, em uma paródia ao slogan político popularizado nos EUA) descreve uma Europa fragmentada em um mundo em que a colaboração global é puramente transacional.

Neste futuro, o que prevalece são os interesses nacionais e o pragmatismo geopolítico. As alianças tradicionais se desfazem, e o que importa é o ganho imediato, seja em termos de poder ou de comércio. Os impactos no dia a dia seriam profundos e, em muitos casos, negativos. A fragmentação europeia levaria ao retorno de controles de fronteira, barreiras comerciais e diferentes regulamentações.

Isso tornaria o comércio, as viagens e até mesmo a simples comunicação entre países europeus mais complexos. A falta de uma ação coordenada em temas como a crise climática ou a imigração forçada poderia levar a consequências humanitárias e ambientais graves. A vida diária seria mais incerta, com economias locais mais expostas a choques externos.

O desenvolvimento humano seria focado em interesses nacionais, e a solidariedade e a cooperação, que são a base de uma sociedade progressista, seriam enfraquecidas. As pessoas viveriam em um mundo de maior desconfiança e competição, onde a colaboração internacional não é mais a norma.


A prospecção de futuros como um guia para a ação

A prospecção de futuros como um guia para a ação - 4 Cenários para a Europa: como isso poderá impactar o nosso futuro? -
Fonte: Copenhagen Institute for Future Studies, estudo “Europe’s Futures: Four Scenarios”, publicado na revista Farsight.

O estudo da Farsight é uma poderosa ferramenta de reflexão. Como os autores, Daria Krivonos, Patrick Henry Gallen e Carsten Beck, apontam, os cenários não são profecias, mas sim ferramentas para nos prepararmos para o que pode vir. O verdadeiro valor do foresight não está em saber qual futuro irá acontecer, mas em compreender os mecanismos que nos levam a cada um deles.

Ao entendermos as forças que podem nos empurrar para um futuro fragmentado e transacional, por exemplo, podemos começar a tomar medidas para fortalecer a coesão europeia e promover uma colaboração global baseada em valores.

Para cada um de nós, o desafio é traduzir esses grandes cenários geopolíticos em ações diárias. Em qual futuro queremos viver? Como nossas escolhas, desde a forma como votamos até como nos relacionamos com a comunidade, podem influenciar o caminho que tomamos? A prospecção de futuros nos convida a sermos participantes ativos na construção do amanhã, e não apenas meros observadores.


Um olhar dos possíveis impactos dessa prospecção de futuros no Brasil

A partir da perspectiva de uma Europa fragmentada, mas com forte colaboração global baseada em valores (“Echoes of the West”), os países das Américas, incluindo o Brasil, poderiam ver suas relações externas se realinharem de forma estratégica.

A cooperação em áreas como ciência, tecnologia e cultura seria impulsionada por parcerias transatlânticas robustas. No entanto, o fortalecimento paralelo do BRICS como um bloco econômico e geopolítico com seus próprios valores e prioridades criaria uma dinâmica de equilíbrio de poder. Para o cidadão comum, isso poderia significar um acesso mais rápido a inovações de diferentes origens e a novas oportunidades de comércio e investimento, não se limitando ao eixo ocidental, mas reduzindo a dependência de um único bloco econômico.

No cenário mais otimista, “Eurovision+”, que descreve uma Europa unificada e um mundo de alianças sólidas, o fortalecimento do BRICS seria um complemento, e não um desafio, para a ordem global. O resultado seria um mundo multipolar onde tanto a Europa unificada quanto o BRICS atuariam como parceiros estáveis e previsíveis, tanto para o Brasil como para outras nações americanas.

Isso criaria uma ampla gama de oportunidades econômicas, de acordos de livre comércio com a Europa até o aprofundamento das relações comerciais com as nações do BRICS. A inovação tecnológica seria compartilhada entre diferentes blocos, permitindo que a região pudesse se beneficiar de avanços em energia limpa, inteligência artificial e infraestrutura de múltiplas fontes, impulsionando um crescimento econômico mais diversificado.


Por fim, nos cenários mais desafiadores (“A Europa em transição” e o “MXGA”), que combinam uma Europa fragmentada ou em conflito com um mundo puramente transacional, o fortalecimento do BRICS seria um fator crucial de estabilidade.


Em vez de ficarem à mercê de tensões geopolíticas e incertezas econômicas de curto prazo, os países das Américas, especialmente o Brasil como membro do BRICS, encontrariam um polo de poder alternativo.

Este bloco, focado em interesses pragmáticos e comerciais, poderia servir como plataforma para coordenar ações sobre questões globais, como desenvolvimento e financiamento de projetos. Isso protegeria o cotidiano das pessoas de choques externos imprevisíveis e ofereceria um caminho para a resolução de desafios globais, como a crise climática e a segurança digital, com uma abordagem não alinhada ao Ocidente.

Cabe afirmar que, em última análise, o desenvolvimento humano não é e nem será apenas sobre crescimento econômico. Mas a principal referência estará na capacidade de construir sociedades mais justas, sustentáveis e resilientes.

Compreender os futuros possíveis é o primeiro passo para garantir que, independentemente do que aconteça, estejamos preparados para moldar um caminho que nos leve a um mundo melhor. Isso vale para qualquer país e, em especial, o Brasil precisa aprender a fazer esse tipo de projeção de cenários por meio de suas lideranças responsáveis pela área pública e pela iniciativa privada.

A base para esta postagem foi o estudo “Europe’s Futures: Four Scenarios” da Farsight, acessível em https://farsight.cifs.dk/europes-futures-four-scenarios/

Eu sou Mario Divo e posso ser encontrado pelas mídias sociais ou pelo site www.mariodivo.com.br.


Gostou do artigo?

Quer saber mais sobre como a prospecção de futuros pode ajudar o Brasil a se preparar para mudanças geopolíticas que acontecem fora de suas fronteiras? Então entre em contato comigo. Terei o maior prazer em responder.

Até nossa próxima postagem!

Mario Divo
https://www.mariodivo.com.br

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Mario Divo Author
Mario Divo possui mais de meio século de atividade profissional ininterrupta. Tem grande experiência em ambientes acadêmicos, empresariais e até mesmo na área pública, seja no Brasil ou no exterior, estando agora dedicado à gestão avançada de negócios e de pessoas. Tem Doutorado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) com foco em Gestão de Marcas Globais e tem Mestrado, também pela FGV, com foco nas Dimensões do Sucesso em Coaching (contexto brasileiro). Formação como Master Coach, Mentor e Adviser pelo Instituto Holos. Formação em Coach Executivo e de Negócios pela SBCoaching. Consultor credenciado no diagnóstico meet® (Modular Entreprise Evaluation Tool). Credenciado pela Spectrum Assessments para avaliações de perfil em inteligência emocional e axiologia de competências. Sócio-Diretor e CEO da MDM Assessoria em Negócios, desde 2001. Mentor e colaborador da plataforma Cloud Coaching, desde seu início. Ex-Presidente da Associação Brasileira de Marketing & Negócios, ex-Diretor da Associação Brasileira de Anunciantes e ex-Conselheiro da Câmara Brasileira do Livro. Primeiro brasileiro a ingressar no Global Hall of Fame da Aiesec International, entidade presente em 2400 instituições de ensino superior, voltada ao desenvolvimento de jovens lideranças em todo o mundo.
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