
Dividir, Dominar e Vencer: Como a Fragmentação Cultural Ameaça Valores e Identidades
“A primeira regra é manter o espírito imperturbável. A segunda é olhar as coisas de frente e saber o que são.” (Imperador Marco Aurélio)
Nos últimos anos, uma nova consciência cultural tem ganhado espaço em universidades, empresas, instituições e plataformas digitais. Trata-se do fenômeno conhecido como movimento woke, que emergiu como um alerta legítimo para injustiças históricas — racismo, sexismo, desigualdade — e rapidamente se transformou em um movimento global que redefine normas, valores e até mesmo linguagens.
Contudo, à medida que o movimento woke se expande, também cresce o desconforto. O que inicialmente parecia ser um apelo à empatia e à inclusão passou a ser visto por muitos como um projeto de engenharia social que ignora — ou até desmonta — os fundamentos culturais, espirituais e familiares que sustentaram civilizações ao longo dos séculos.
A cada instante, surgem novos conceitos que se apresentam como inéditos, mas que, em essência, representam apenas uma releitura da trajetória humana, tingida por novas cores e orientações muitas vezes marcadas pelo obscurecimento do debate.
Para compreendermos esse movimento — o fenômeno woke e as reações que ele desperta — é preciso sair das trincheiras ideológicas. Devemos procurar o território do pensamento complexo, onde o diálogo e a crítica honesta são indispensáveis.
Diversas tradições culturais, como as africanas, asiáticas e indígenas, sempre trataram questões de pertencimento, espiritualidade e coletividade a partir de paradigmas próprios. Paradigmas distintos do modelo ocidental moderno, centrado na razão, no individualismo e, mais recentemente, nas pautas identitárias.
Em vez de um verdadeiro diálogo entre cosmovisões, assistimos a uma exportação unilateral de valores — sobretudo a partir do Ocidente — que, muitas vezes, soa como imperialismo moral e provoca tensões locais.
A sociedade tem sido fragmentada de maneira crescente, isolando indivíduos em nichos cada vez menores e mais frágeis. Não se trata apenas da segmentação entre grupos — todos contra todos — mas também de uma crise mais profunda que atinge símbolos de coesão coletiva, como a fé e a família. Casos de vandalismo contra igrejas cristãs e a transformação silenciosa de templos sagrados em espaços de outras tradições religiosas levantam questões sérias. Questões sobre a convivência entre culturas e o respeito à diversidade espiritual.
Ocorre hoje uma desconstrução de elementos que, para muitos, são os pilares da civilização ocidental. Essa transformação, ainda que motivada por frustrações legítimas e pelo desejo de mudança, não pode acontecer à custa da intolerância, da divisão e da supressão simbólica de tradições fundadoras.
É legítimo perguntar: quem se beneficia com esses reordenamentos culturais?
Grandes instituições globais — como a ONU, fundações como Open Society, Rockefeller e Gates — promovem pautas universais a partir de uma visão de mundo que une “progresso moral” com “governança global”.
Governos e elites locais, por sua vez, muitas vezes adotam tais discursos por interesses estratégicos, busca por financiamento ou alinhamento ideológico. Enquanto isso, plataformas digitais e algoritmos promovem uma monocultura global que fragiliza culturas locais, diluindo identidades e enfraquecendo vínculos comunitários.
Esse processo tem sido descrito como uma forma de engenharia social — ora sutil, ora explícita — que redefine normas e deslegitima instituições tradicionais (como a família e a religião cristã). Ele também pavimenta o caminho para novas formas de controle social e político.
A isso se soma um fator demográfico preocupante: a redução da população global. Em diversos países, os saldos entre nascimentos e mortes são negativos. Nações em desenvolvimento estão “envelhecendo antes de enriquecer”, enquanto países ricos enfrentam o risco de colapso por falta de mão de obra para sustentar suas economias.
A queda da natalidade — impulsionada por inseguranças econômicas, urbanização e mudanças culturais — pode levar a uma fragilização das economias e à crescente dependência de sistemas centralizados.
Não se trata de especulação.
Desde o século XX, pensadores e organismos internacionais vêm discutindo abertamente o controle populacional e o empobrecimento como meios de “sustentabilidade”. Documentos como os do Clube de Roma e diretrizes de várias fundações indicam que esse projeto de reestruturação social não é aleatório, mas parte de uma lógica de concentração de poder e recursos.
O empobrecimento programado pode ocorrer por múltiplas vias: endividamento crônico, desindustrialização, dependência energética disfarçada de “transição verde” e a concentração de ativos digitais (dados, finanças, propriedade intelectual). Esses processos tendem a enfraquecer a soberania dos povos, tornando os cidadãos mais dependentes de estruturas globais padronizadas.
Nesse cenário, a fé cristã e a família tradicional têm sido alvos recorrentes de desconstrução simbólica. Igrejas que resistem às novas doutrinas sociais — como ideologia de gênero, relativismo moral ou antinatalismo — enfrentam censura, perseguição simbólica e, por vezes, até legal.
Em nome da diversidade, muitos discursos propõem o esvaziamento de valores tradicionais sem apresentar alternativas concretas e funcionais. A consequência é uma “desfundamentação” moral da sociedade, que enfraquece o indivíduo e fortalece a tutela do Estado ou do mercado.
Em tempos de transformação e crise de valores, é urgente reencontrar o equilíbrio entre respeito à diversidade e valorização das tradições que moldaram nossa civilização.
O desafio não é escolher entre passado e futuro, mas construir um presente onde ambos possam dialogar. Sem isso, corremos o risco de perder o essencial — aquilo que nos conecta, nos orienta e nos sustenta como humanidade.
No curto prazo, infelizmente, o projeto de “dividir para dominar” parece avançar com sucesso, travestido de progresso, empatia e inclusão. Mas no médio e longo prazo, já se notam sinais de reação. Grupos e indivíduos começam a despertar, não para novas bandeiras ideológicas, mas para o valor de suas raízes. Há um cansaço das imposições culturais e um desejo crescente de retorno ao essencial, ao enraizado, ao sagrado.
A história está longe de acabar. Mas, quem não enxerga o jogo, acaba se tornando peça dele.
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Sandra Moraes
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