
Além da Vitória: Redefinindo o Sucesso na Vida e no Esporte!
Tenho feito algumas palestras, recentemente, e um dos pontos a que dedico considerações essenciais está em que, qualquer que seja a pessoa, ela deve ter muito clara a distinção entre o que é vencer e ter sucesso, e até onde a busca da vitória a qualquer custo representará uma contribuição ao estado de felicidade. Basicamente, o esforço para ser extraordinário e vencer pode, no final do caminho, trazer consequências danosas para a saúde mental e emocional.
Então, eis que me deparo com uma palestra do TED (dez/2019, com mais de 4 milhões de visualizações – assista ao vídeo abaixo), feita por Valorie Kondos Field. Ela foi a principal treinadora da equipe de ginástica feminina da Universidade da Califórnia (UCLA). Tem em seu currículo 7 títulos nacionais, 22 regionais, 12 da Região do Pacífico e, ainda, presença no Hall da Fama do Atletismo da UCLA. Na apresentação, ela foi objetiva e sincera ao afirmar quão angustiante é o compromisso de sempre vencer. Ela ainda compartilha o segredo de sua liderança voltada ao ser humano.
A seguir, esta postagem resgata um resumo que foi a apresentação da Valorie.
Aqui você verá exemplos que ela cita e, mais do que tudo, o legado que pretende deixar para não só atletas, mas a todos os que entram em uma busca frenética por vitórias. Destaca-se uma frase especial, logo do início da palestra, que é: “perder também pode ser visto como sucesso”.
Aliás, outro pensador famoso (Nassim Nicholas Taleb) escreveu, em seu livro Antifrágil, que “a antifragilidade está além da resiliência ou da robustez. O resiliente resiste às colisões e permanece igual; o antifrágil fica cada vez melhor”. Ou seja, todos nós devemos tirar proveito e aprendizado de nossas derrotas.
Embora admita o inegável prazer da vitória, Valorie argumenta que o foco exclusivo no ganhar, a todo custo, pode gerar uma crise emocional com consequências devastadoras. Nas escolas, nos negócios e na política, a busca incessante pelo primeiro lugar muitas vezes negligencia o bem-estar e a integridade daqueles que trilham esse caminho. Honramos e aplaudimos os campeões, os eleitos e os premiados, mas, lamentavelmente, muitos deles emergem dessas jornadas como indivíduos emocional e mentalmente fragilizados.
O sucesso acadêmico, as medalhas esportivas e os lucros exorbitantes podem vir acompanhados de cicatrizes invisíveis, resultado de um sistema que prioriza “resultados” em detrimento do impacto no “ser humano”.
Diante dessa constatação, Valorie faz um apelo urgente: precisamos redefinir o sucesso. O verdadeiro sucesso reside em cultivar “campeões na vida”, pessoas resilientes, éticas e emocionalmente saudáveis, independentemente de suas conquistas no esporte ou nos negócios. O objetivo final não é apenas encher prateleiras com troféus ou ostentar resultados em relatórios financeiros, mas sim formar seres humanos completos e preparados para enfrentar os desafios da existência.
Mas como trilhar esse caminho?
Valorie enfatiza que, enquanto a vitória pode ser imposta por meio de ordens e exigências, o verdadeiro sucesso floresce a partir da motivação intrínseca e do desenvolvimento do caráter da pessoa. Ela compartilha sua própria jornada de transformação, desde uma abordagem autoritária, inspirada em modelos de antigos treinadores vitoriosos, até a compreensão da importância do apoio, do treinamento eficaz e da motivação genuína. Uma reunião franca com sua equipe a confrontou com o impacto destrutivo de sua arrogância, marcando um ponto de inflexão em sua filosofia de liderança.
A transição de uma postura de “ditadora dogmática” para uma mentora compassiva revelou que o desenvolvimento de “soldadinhos dóceis” não se compara à formação de “campeões na vida”. A motivação, embora exija tempo e paciência para criar raízes, nutre o caráter e promove uma transformação profunda.
O foco se deslocou da mera vitória para o fortalecimento dos atletas como seres humanos integrais. Acreditando que a mentalidade de campeão na vida se traduziria em sucesso competitivo, Valorie priorizou a construção da confiança por meio da paciência, da honestidade respeitosa e da responsabilização – os pilares do que ela define como “amor duro”.
A história da atleta Katelyn Ohashi é usada para ilustrar essa filosofia.
A ginasta, que viralizou com suas performances contagiantes de alegria, chegou à UCLA exausta e desiludida por um ambiente esportivo de alta pressão. Em momento de vulnerabilidade, Katelyn expressou sua falta de desejo de retornar ao nível de excelência que a havia marcado.
Em vez de descartá-la, Valorie viu ali um desafio: motivá-la a redescobrir o amor pelo esporte, redefinindo seu conceito de sucesso. Ao priorizar o bem-estar de Katelyn fora da ginástica, incentivando-a a encontrar alegria em outras áreas da vida, Valorie testemunhou seu reflorescimento.
Lentamente, Katelyn resgatou seu amor-próprio e sua autoestima, levando essa renovada alegria para suas performances, culminando em novo título individual nacional e contribuindo para o sétimo campeonato da equipe. A experiência de Kyla Ross, uma das maiores ginastas americanas da história, reforça a importância de criar um espaço seguro e de escuta. A atleta, que superou o abuso sexual por seu técnico, encontrou em Valorie a confidente e o ambiente de apoio. Kyla relatou que, ao longo da temporada, sentiu-se mais segura e, ao competir no campeonato nacional, foi invencível. A simples ação de ser ouvida teve um impacto profundo em seu desempenho e bem-estar.
Essas histórias nos lembram do impacto que pais, treinadores, gestores e líderes exercem sobre aqueles sob sua orientação. As conversas, em geral, estão em torno de perguntas que revelam qual é o nosso foco: queremos saber do resultado ao final ou do processo de desenvolvimento humano. Questionar sobre a vitória e a pontuação final contrasta com o interesse pela experiência, pelo aprendizado, pela colaboração e pela capacidade de encontrar alegria no esforço.
A verdadeira escuta, desprovida da urgência de estar certo ou de formular a resposta perfeita, permite que compreendamos os medos e as inseguranças do outro, moldando nossas atitudes com mais clareza e empatia.
Em última análise, Valorie nos convoca a abandonar a métrica de sucesso puramente baseada na vitória e no ego, evitando gerar “campeões fragilizados”, pois é possível formar campeões na vida, em todas as esferas, sem comprometer o espírito humano. O ponto de partida é definir o sucesso de forma abrangente, alinhando ações com objetivos e praticando uma autoavaliação constante.
Todos somos, de alguma forma, gestores e líderes com a responsabilidade de cultivar campeões para o contexto em que vivemos. O verdadeiro significado do sucesso está em construir um ambiente no qual todos ganham – não apenas no placar, mas na construção de uma sociedade mais humana, resiliente e plena.
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Até nossa próxima postagem!
Mario Divo
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