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Os desafios do empreendedorismo em 2017

Considerando que centenas de milhares de negócios fecham a cada ano, é frustrante não haver programas de desenvolvimento vocacional direcionados ao empreendedorismo. Afinal, abrir uma empresa é uma escolha tanto quanto decidir pela carreira médica ou administrativa.

Algumas coisas nunca mudam. Durante a última década, acompanhei milhares de pessoas que queriam ser donas da própria empresa. Aprendi que certos desafios aparecem em qualquer jornada empreendedora, independentemente da faixa etária ou do nível educacional dos sócios, setor de atuação ou maturidade do negócio.

Abrir uma franquia ou desenvolver a própria marca. Captar financiamento com investidores, bancos ou utilizar suas reservas financeiras. Pedir demissão para abrir um negócio ou trabalhar tempo parcial enquanto a empresa amadurece. Esses dilemas estão ligados ao desenvolvimento de empreendedores de tal forma que seu estudo deveria ser obrigatório no currículo do ensino infantil ao superior.

Considerando que centenas de milhares de negócios fecham a cada ano, é frustrante não haver programas de desenvolvimento vocacional direcionados ao empreendedorismo. Afinal, abrir uma empresa é uma escolha profissional tanto quanto decidir pela carreira médica ou administrativa. Se feita de modo amador, a escolha pode se tornar frustrante e dolorosa.

Assim como alguém se prepara para se tornar um advogado, o ensino de empreendedorismo deve se profissionalizar para lidar com mudanças do mercado de trabalho, as tecnológicas e os zigue-zagues da economia. Esse, por sua vez, sendo o maior dos desafios quando pensamos em empreendedorismo hoje.

Em 2017, o crescimento da economia brasileira será próximo a zero. Isso coloca ainda mais desafios à frente de quem planeja o negócio próprio. Com uma economia fraca, a riqueza gerada pelo País cresce pouco. Empreendedores que entram no mercado acabam brigando pelo mesmo “bolo” de dinheiro. Mais empresas concorrem por um número de clientes que não aumenta.

Em uma economia que cresce, é mais fácil capturar uma fatia do mercado. Na retração, o trabalho de quem escolhe empreender é mais difícil.

Não basta conhecer a dinâmica do mercado em que se planeja atuar. É necessário analisar com detalhes como se comportam os subsetores. Como muitos escolhem abrir negócios em áreas que conhecem apenas como clientes, o risco desse empreendimento é ainda maior em uma economia estagnada.

Outro fator que influencia os desafios de empreender é o tecnológico. Com o aumento e a consolidação do uso de softwares para criar e gerenciar negócios, existe a falsa sensação de que empreender ficou fácil. Que fique claro, um site não é uma empresa. Uma ideia não é uma empresa. Uma vontade não é uma empresa. Uma empresa é fluxo de caixa positivo. E isso leva tempo.

Alguns programas de aceleração e incubação de empresas mostram que é preciso cerca de 10, 12 ou 18 meses até que os mínimos processos estejam estruturados e um negócio tenha clareza sobre sua razão de existir. Profissionais que planejam empreender devem ter dinheiro suficiente para manter suas empresas e vida pessoal durante esse período.

Caso você queira empreender e não tenha recursos, avalie adiar o investimento no negócio até que sua situação financeira esteja mais segura. Aproveite para estudar o mercado, planejar e ampliar sua rede de relacionamentos para acessar recursos que não possui.

Profissionais que buscam montar negócios onde é necessário estruturar uma equipe de 4 ou 5 pessoas, também encontram desafios no próximo ano.

Demissões dos últimos trimestres têm atingido profissionais com alto nível educacional e grande experiência. Isso significa que existem mais pessoas bem preparadas procurando ativamente por emprego. Por um lado, quem está contratando pode negociar salários mais adequados à uma empresa nascente. Por outro, a seleção se torna mais complexa, pois há mais candidatos.

Como currículos não são suficientes para apoiar a decisão de contratação, os processos seletivos ganham ainda mais importância. Ao contratar alguém muito qualificado, corre-se o risco de perder essa pessoa mais cedo do que o esperado, pois sua busca por emprego irá continuar até que ela encontre uma vaga que considere “justa” e adequada à sua experiência e formação educacional.

Empreendedorismo como conhecemos hoje é um campo novo. Embora a troca de dinheiro por mercadorias exista há séculos, foi apenas na década de 1980 que o empreendedorismo ganhou o status de um campo acadêmico. Por ser novo, é um campo formado por áreas que já existiam, como marketing, recursos humanos, operações, finanças, direito, entre outros.

Dessa forma, é natural que o empreendedorismo incorpore desafios dessas outras áreas. Logo, quando consideramos o momento atual do Brasil, a criação de um negócio precisa ser apoiada por programas de ensino ainda mais estruturados.

Benjamin Bloom, um dos mais importantes psicólogos educacionais, coloca a “criação” de algo como um dos mais sofisticados desafios intelectuais. Isso é verdade também quando falamos de negócios: criar uma empresa é algo sofisticado. Seguindo as melhores práticas da área de ensino de negócios, comece identificando, analisando e comparando negócios parecidos com o que você quer criar. Os desafios continuarão existindo, mas serão superados de modo mais fácil.

Thiago de Carvalho é Mestre em Educação e Ensino de Negócios pela New York University, professor do Insper e da Fundação Getúlio Vargas, Associado Acadêmico no Brasil da Higher Education Academy – agência oficial de capacitação e certificação de docentes do Reino Unido e Country Manager da Clinton Education, onde é pesquisador-líder da metodologia QEMP. Possui experiência nas multinacionais Directv, Telefónica e Santander, onde dirigiu e treinou diretamente equipes de 2 a 350 pessoas. Somada à experiência executiva, empreendeu no ramo varejista de moda, e-commerce e EdTech. Entre reconhecimentos do mercado, foi eleito pela Universität St. Gallen, Suíça, como um dos 100 agentes de mudança empreendedora no mundo. No Insper, foi reconhecido como alumnus destaque. Como mentor, recebeu o prêmio de melhor Plano de Negócios Escrito na edição latino-americana da competição promovida pela University of Texas at Austin. Em Nova Iorque, seu projeto no Startup Weekend Education ganhou o primeiro lugar na divisão impacto social.
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