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Nós, idiotas!

Mesmo o melhor de nós será bobo em alguns momentos. Não devemos ser tão duros com nós mesmos, preferindo, ao invés de se martirizar e perder tranquilidade, praticar o humor, o rir de si próprio.

Os filmes nos acostumam mal. E nem falo daqueles românticos que nos incutem ideais amorosos inacessíveis ou os de ação cujo protagonista detém um corpo inatingível. Falo daqueles em que os personagens se colocam em situações embaraçosas ou são perdedores natos: mesmo aqui, a mediocridade exposta na tela ainda é plastificada, estando extremamente distante do que realmente sentimos ao estarmos em um contexto vergonhoso.

Isto acontece porque o tipo de embaraço dos filmes não é o mesmo da vida real. Geralmente, as burrices filmadas tem um padrão. Analisemos, por exemplo, “Um tombo indevido”. Neste caso, há um sentido interno: temos a união de um sapato escorregadio e uma falta de atenção, resultando em uma queda. As pessoas riem do tombo, não diretamente de quem tombou. Pode ocorrer com qualquer um em qualquer lugar. É genérico e, pois, válido de atingir uma grande audiência. Por isso vale a pena estar no filme.

Agora, as idiotices reais são outra coisa: elas são íntimas, pessoais e, sobretudo, contextuais. Se retiradas da ocasião onde ocorreram, tornam-se tão sem sentido e pouco glamourosas que seria suicídio financeiro realizar um filme composto delas. Ninguém entenderia. É exatamente sobre isto que é a burrice real: não é rir ou falar alto, mas sim simplesmente não entender o que o contexto e seus componentes pedem. Em um momento de alegria, gritar e rir podem ser as melhores formas de expressão, envolvendo os outros e não gerando julgamentos. No entanto, em um velório, isto seria extremamente mal visto. O genial de lá é o patético daqui.

Eis um exemplo pessoal: certa garota entra na sala enquanto eu converso com meus amigos sobre algum tema político. Ela veio ali para conversar com uma amiga sobre assuntos pessoais, mas eu, egocêntrico, tenho toda a convicção de que sua motivação foi travar relações comigo. Então, eu a chamo para a roda de conversa de meus amigos e pergunto sua opinião sobre o tema. Ela dá alguma resposta seca e desinteressada, saindo da roda e indo conversar com a amiga inicial. Sinto-me bobo. Eu fui um idiota.

Naquele contexto, não cabia desviá-la de seu caminho simplesmente para introduzi-la em alguma discussão inútil. Somente gastei seu tempo, além de me colocar como um pedante babaca. Em outra ocasião, com aquela guria realmente interessada em me ouvir, talvez uma conversa interessante pudesse ter sido iniciada. Neste caso, ela poderia, inclusive, ter me achado um rapaz legal e voltado a se relacionar comigo. Bastaria eu ter entendido a situação. Mas não o fiz. Tenho convicção de que enredos parecidos já se desenrolaram em sua vida.

E como evitá-lo? De fato, não é fácil. Tornar-se minimamente íntimo daqueles que nos relacionamos, saber um pouco de linguagem corporal ou mesmo pensar antes de falar frases potencialmente idiotas são virtudes que podem nos auxiliar. No entanto, mesmo com o domínio dessas virtudes e outras mais, no fim os resultados podem não se compensar o esforço para adquiri-las. Continuaremos a ser babacas, vez ou outra. Os tentáculos da idiotice são demasiados vastos e fortes para serem vencidos por meras racionalizações. É assim, pois, as situações sociais são como grãos de poeira em um furacão: orbitam vários centros, transitam em numerosas vias e são influenciados por infinitos fatores. Faz-se necessário entender a finalidade do local onde se está, as intenções das pessoas envolvidas, as consequências de cada ação, a forma com que somos vistos e o que esperam de nós. E tudo isto, naturalmente, acontece de forma contínua e caótica, podendo mudar numerosas vezes em uma mesma interação. Difícil.

De fato, não só difícil: impossível. Humanamente impossível. Inserido nas limitações do ser humano, está a idiotice. Se for assim, tentar superá-la é entrar em uma luta, perdida, contra a própria natureza. Mais produtivo, creio, seja aceitar esta falha necessária: mesmo o melhor de nós será bobo em alguns momentos. Com isto em mente, não devemos ser tão duros com nós mesmos, preferindo, ao invés de se martirizar e perder tranquilidade, praticar o humor, o rir de si próprio.

Cumprimentou alguém pelo nome errado? Exponha! Dê risada e conte alguma história boba para justificar (quem sabe a pessoa te lembra um ex-cônjuge?). A situação certamente ficará mais leve e você pode lembrar-se dela como preenchida com alegria, ao invés de agonia. Ou quem sabe você, em uma aula, levantou a mão e, em voz alta, comentou uma besteira? Ria junto com as pessoas, reconheça a ignorância e a bola fora. Elas não levarão a sério se você não levar.

Talvez praticar a autocomédia possa fazer nossas idiotices mais parecidas com aquelas dos filmes: amenas. Elas podem deixar de parecerem tão ruins e vergonhosas, passando a ser insignificantes e, quem sabe, mesmo parte do nosso carisma. Talvez passemos de idiota da vida, vergonhoso e indiscreto, para um Alvy Singer (personagem de Woody Allen em ”Annie Hall”), um bobo carismático e amável.

Para qualquer um dos desfechos, vale dizer que, apesar de indeléveis para nós, nossos erros não nos definem: não somos burros, apenas cometemos burrices. E elas podem, no final, nos tornar seres mais queridos. Então, pegue leve consigo mesmo: não seja idiota ao ponto de se levar tão a sério. ^-^

A idiotice real pode ser prevenida com a sua leitura do ambiente e das pessoas. Contudo, muitas vezes, não depende de você. Não julgue tanto os idiotas, você provavelmente será um, algum dia.

Bruno Sales Author
Bruno Sales é Estudante esforçado, entusiasta intelectual e conversador. Estudante de Economia, escritor amador e apreciador de Filosofia e Matemática. Sonha publicar o livro que vem trabalhando faz anos; a médio prazo, adquirir independência financeira e reconhecimento intelectual; a longo prazo, mudar o mundo.
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