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Filosofia e melancolia

A depressão é marcada, além pela tristeza intensa e permanente, pelo total desinteresse e desmotivação, do mundo, das pessoas e nos estágios mais acentuados de si mesmo, levando aos pensamentos autodestrutivos.

Durante essa nova etapa que estou passando, de lidar com uma doença que me causa a necessidade de: primeiro, amenizar a dor para que no mínimo eu não tenha pensamentos autodestrutivos e segundo, reconstruir o meu interesse e motivação em relação ao ser humano e todos os seus comportamentos, eu me voltei à leitura. E a leitura me levou à filosofia.

Com isso, a relação da depressão com a filosofia me parece muito lógica, no sentindo que filosofia é exatamente a capacidade de se espantar com mundo. Ou seja, demonstrar intenso interesse em conhecer o funcionamento de tudo que nos cerca e o nosso próprio. Para mim, a relação que se estabelece com a depressão é que esse significado da filosofia é exatamente o oposto da depressão. Pois a depressão é marcada, além pela tristeza intensa e permanente, pelo total desinteresse e desmotivação, do mundo, das pessoas e nos estágios mais acentuados de si mesmo, levando aos pensamentos autodestrutivos e ao suicídio.

Essa definição de filosofia me faz recordar de uma passagem do livro “O Mundo de Sofia” onde a metáfora do coelho branco diz que os filósofos são aqueles que têm coragem e a ousadia de se aventurarem rumo ao limite da linguagem e da existência e para isso sobem até o topo dos pelos do coelho. Não posso deixar de perceber a ligação da filosofia com a universidade, tanto porque em seu objetivo primário a universidade é o lugar criado para conhecer e ultrapassar os limites da linguagem e da existência, como diz Jostein Gaarder em seu livro anteriormente citado.

Depois de estabilizar a medicação, dando-me forças para ter um dia sem dores paralisantes e com um interesse e motivação razoável, a filosofia, em seu sentido brevemente exposto nos parágrafos anteriores, me ajudou e ajuda muito a reconstruir o meu interesse pela vida. Com isso decidi me dedicar quase estritamente ao estudo acadêmico, fazendo com que isso seja parte do meu tratamento. Então a universidade se torna fundamental, não só por me fornecer o material pedagógico, mas também por ser um ambiente que proporciona experiências tão variadas, fazendo com que a vida se mostre em todas as suas facetas.

Por fim, recomendo a vocês dois livros que li e estou lendo durantes esses últimos dois meses. O primeiro é “Arthur e George”, do escritor Julian Barnes, cuja história recria, misturando ficção e realidade, a história do criador do Sherlock Homes. O que mais me prendeu à narrativa foram as características humanas desses dois personagens e como o autor as desentranha ao ponto de nos fazer questionar o porquê agem e pensam daquela maneira, fazendo-nos entender um pouco mais do próprio Sherlock Homes. O outro livro, “Uma Breve História sobre a Humanidade”, de Yuval Noah Harari, o professor de História da Universidade Hebraica de Jerusalém reconta a história da humanidade, separando-as em três revoluções, a cognitiva, a agrícola e a científica.

Esses dois livros me ajudaram a me interessar novamente sobre a humanidade e sua complexa existência. Ajudou-me a ver que o estudo acadêmico e a universidade podem me ajudar muito sendo parte do meu tratamento.

Beatriz Alves Ensinas é Estudante de Direito na PUC-SP, estagiando na área e em São Caetano do Sul, São Paulo. Depois de três anos contribuindo na coluna “De adolescente para adolescente”, iniciada por ela e depois tendo a parceria de Bruno Sales, a partir de agora ela é responsável pela coluna “De Universitário para Universitário”.
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