fbpx

Desenvolver ou morrer no mundo VUCA!

Como agir com a incerteza? Como incentivar experimentos criados para provocar em vez de prever o futuro? E como projetar e instituir processos para dar sentido a informações aparentemente ambíguos?

Desde que iniciamos as postagens abordando o que denominamos de mundo VUCA, demos prioridade ao significado do termo e à explicação da sua origem. Resumidamente, VUCA é um acrônimo que, adaptado ao idioma português, significa a combinação de Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade. Ao ter as quatro condições reunidas, teremos a tempestade perfeita de desafios. As dificuldades que as organizações enfrentam em um mundo VUCA tornam-se claras quando identificamos as empresas que chegaram às manchetes e tiveram danos à reputação.

O mundo VUCA apresenta muitos desafios para o design organizacional, o qual deve dar respostas a questões cada vez mais complexas. Design esse que é criado (e alterado) em meio à dinâmica de mudanças conflitantes e suas exigências de recursos, quando a agilidade é cobrada e valorizada. Nesse ambiente, as organizações precisam ter como seu mantra: adaptar ou morrer! A história recente mostra que muitas organizações se adaptaram à volatilidade financeira ao reduzirem suas estruturas e cortarem custos. Porém, no aspecto competitivo, isso tirou a capacidade de responderem rapidamente ao crescimento, na medida em que novas oportunidades se sucederam.

Abordagens tradicionais de planejamento estratégico, análise, metas e tomada de decisões podem parecer fora de sintonia com o mundo VUCA, dinâmico e imprevisível. Se o planejamento estratégico pressupõe condições de quase certeza, uma questão-chave para as organizações é: como agir com a incerteza? Como incentivar experimentos criados para provocar ao invés de prever o futuro? E como projetar e instituir processos para dar sentido a dados ou informações aparentemente ambíguos (ou seja, que permitem várias linhas válidas de análise e interpretação)?

Amigos leitores, ao criar este espaço de discussão de um mundo em transformação dinâmica, com as condições que geraram o termo VUCA, minha expectativa foi a de apresentar o que de mais atual e objetivo está sendo adotado no ambiente empresarial para que as organizações sobrevivam e cresçam. Doravante, as postagens partem sempre do princípio de que o conceito VUCA está entendido e partilhado, passando o foco às questões: Como se posicionar? O que fazer? Estudos e casos serão a base de referência para tudo o que postaremos doravante.

Para começar, a postagem será mais longa que o normal. Quero citar um processo que está em curso na Siemens, marca mundial de referência (como curiosidade, ela instalou a primeira linha telegráfica no Brasil, em 1867, tendo se estabelecido no país em 1905). A eletrificação, a automação e a digitalização são os campos de crescimento da marca global Siemens AG, a maior da Europa, no longo prazo. A fim de aproveitar ao máximo o potencial de crescimento nesses campos, os negócios da empresa estão agrupados em oito divisões, ao que se agregam, e são administrados separadamente, serviços de saúde e de energia eólica.

Considerando este nosso mundo VUCA, a empresa implantou o programa Develop or Die in a World Driven by Volatility, Uncertainty, Complexity and Ambiguity (Desenvolver ou Morrer em um mundo guiado pela Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade). A unidade Siemens Westinghouse Power Generation Corporation contratou uma empresa de consultoria especializada para criar projeto piloto usando o método TRIZ, buscando avançar com um dos mais desafiadores problemas enfrentados pela próxima geração de grandes turbinas a gás.

TRIZ (acrônimo em russo para Teoriya Resheniya Izobretatel’skikh Zadach, ou seja, Teoria da Solução Inventiva de Problemas) é um processo de solução de problemas e ferramentas inventivas com base científica (em oposição à psicológica). A identificação e a análise das patentes mais inventivas produzem padrões consistentes, bem como linhas de evolução usadas em todas as áreas da ciência e tecnologia. Pelo processo TRIZ, esses princípios inventivos genéricos podem ser aplicados a todas as outras áreas do conhecimento, reduzindo enormemente o tempo para produzir ideias e invenções inovadoras. A empresa tem um problema, processo ou produto que parece ter uma contradição insolúvel em seu projeto ou operação? É provável que essa mesma contradição tenha sido enfrentada e resolvida antes por pessoas de outras indústrias ou tecnologias.

No caso da Siemens, como resultado dessa ação, 17 possíveis soluções foram identificadas e quatro delas foram selecionadas para validação experimental. Testes subsequentes na Siemens Berlin Test Facility resultaram na adoção empresarial de uma dessas ideias. A Siemens tem aplicado o processo TRIZ com bastante sucesso em outras frentes de desafios e, antes que alguém pergunte se o exemplo só cabe em grandes empresas ou associado a um processo específico como o TRIZ, eu afirmo que não. Esse é um exemplo para orientar o leitor, mas há um entendimento genérico e resumido do que cada um pode adaptar à sua realidade, que nasce de modelo mental sobre como enfrentar o mundo VUCA (apresentado à alta gestão da Siemens, em outubro passado, e inspirado em estudo bastante reconhecido (Prahalad, C. K.,  amp; Ramaswamy, V., 2003, The New Frontier of Experience Innovation).

Tente cada leitor profissional de Coaching ou Mentoria adaptar esta abordagem ao seu contexto (ou ao de seu cliente):

  • Volatilidade: tente identificar, e então melhor expressar, as condições de mercado que estão pouco claras, imprevisíveis e/ou em rápida evolução;
  • Incerteza: busque avaliar como está a aceitação do seu cliente aos recursos, produtos ou serviços implementados ou, se for o caso, como está a a aceitação do cliente ao próprio modelo de negócio;
  • Complexidade: procure fazer uma abordagem detalhada sobre a condição e o grau de complexidade que envolve o desenvolvimento do negócio (incluído quanto às equipes e tecnologias disponíveis), e;
  • Ambiguidade: vale dar foco no que são as direções pouco claras, sem adequada previsibilidade e com confusas (ou pouco explicáveis) relações de causa/efeito.

Finalizando, vou utilizar um comentário retirado do livro de Sharda Nandram e Puneet Bindlish (Managing VUCA Through Integrative Self-Management), publicado em 2017 pela Springer International Publishing, e do qual ainda voltaremos a tratar em futuras postagens. O livro tem 21 capítulos com participação de estudiosos de todo o mundo, cada qual dando sua interpretação de como avançar nos negócios e na vida pessoal em um mundo VUCA. Segundo os autores citados, todas as pessoas identificam (e, às vezes, experimentam) diversas culturas através de suas visões de mundo, gerando ou não empatia com temas tratados em vários níveis – individual, familiar, social, nacional e/ou global.

Muitos problemas, ainda que assustem ou gerem um alarme de atenção, são minimizados (ou ignorados), pois há uma busca pela verdade conveniente e a grande resistência contra qualquer mudança. As pessoas (e/ou principais lideranças das empresas) tentam proteger um estilo de vida ou negócio, querem confirmar suas visões, e passam a enfrentar fatos e situações de potencial danoso (para não dizer catastrófico). Em geral, isso pode ser atribuído à falta de flexibilidade mental e pouca agilidade diante de ameaças reais, que não são mais resolvidas por qualquer grupo específico isolado.

Os problemas são tais que, mesmo para lideranças experientes, elas não conseguem encontrar sozinhas as melhores soluções. São situações que requerem visão e tratamento holístico, independentemente de sua origem e extensão, sendo que para melhor conceituar o contexto nasceu a expressão VUCA. Se o sistema Ayurveda vê o combate a qualquer doença como dependente do tratamento da causa-raiz (e não de só dar remédio para o sintoma), a visão integrativa do mundo atual é pré-requisito para abordar de forma sustentável os problemas no mundo VUCA. O convite ao leitor é de refletir sobre como poderá levar essa proposta ao seu cliente, integrando de forma criativa as condições do seu mundo VUCA.

Mario Divo Author
Mario Divo possui mais de meio século de atividade profissional ininterrupta. Tem grande experiência em ambientes acadêmicos, empresariais e até mesmo na área pública, seja no Brasil ou no exterior, estando agora dedicado à gestão avançada de negócios e de pessoas. Tem Doutorado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) com foco em Gestão de Marcas Globais e tem Mestrado, também pela FGV, com foco nas Dimensões do Sucesso em Coaching (contexto brasileiro). Formação como Master Coach, Mentor e Adviser pelo Instituto Holos. Formação em Coach Executivo e de Negócios pela SBCoaching. Consultor credenciado no diagnóstico meet® (Modular Entreprise Evaluation Tool). Credenciado pela Spectrum Assessments para avaliações de perfil em inteligência emocional e axiologia de competências. Sócio-Diretor e CEO da MDM Assessoria em Negócios, desde 2001. Mentor e colaborador da plataforma Cloud Coaching, desde seu início. Ex-Presidente da Associação Brasileira de Marketing & Negócios, ex-Diretor da Associação Brasileira de Anunciantes e ex-Conselheiro da Câmara Brasileira do Livro. Primeiro brasileiro a ingressar no Global Hall of Fame da Aiesec International, entidade presente em 2400 instituições de ensino superior, voltada ao desenvolvimento de jovens lideranças em todo o mundo.
follow me
Neste artigo


Participe da Conversa