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As sete liberdades do Coachee

Mesmo que o profissional de Coaching tenha no fundo a melhor das intenções que é levar o indivíduo do ponto A ao ponto B, há de se lembrar que tal indivíduo merece ter suas liberdades respeitadas.

Olá!

Faz muitos anos que venho trabalhando em conceitos de adequação comportamental, sobretudo nas práticas que são relacionadas à alteração de comportamentos e quebra de modelos de crença, e acredite querido leitor: Já vi muita coisa estranha por ai.

O mundo do aconselhamento que engloba Coaching, Mentoring, Consultoria e demais práticas onde uma pessoa mais experiente auxilia uma menos experiente está coalhado de modelos e técnicas que são empregadas no dia a dia das sessões e com o tempo, até o melhor dos profissionais pode se sentir encurralado diante de um cliente que não anda ou que desafia as habilidades por simplesmente não entrar no processo.

As boas escolas de Coaching ensinam aos seus alunos tanto a melhor forma de atender a um cliente como também ensinam os sinais que devem ser observados para que você não atenda determinada pessoa. Acredito fortemente que Coaching não é Nutella® e, portanto, não pode agradar a todo mundo.

Voltando às coisas estranhas que já presenciei, eu me lembro de alguns Coaches que por cansaço, inabilidade ou inexperiência ficam frustrados na condução da sessão ou sessões. Uma das máximas de nosso ofício prega que diante de uma frustração a resposta tende a ser violenta.

Não, não conheço nenhum caso de agressão, mas sim de práticas que violam as liberdades do Coachee, mesmo que o profissional de Coaching tenha no fundo a melhor das intenções que é levar o indivíduo (que se encontra empacado) do ponto A para o ponto B. Pensando nisto, resolvi parafrasear um lindo trabalho desenvolvido pela colega Mariângela Freitas de Almeida e Souza que é Médica Veterinária e Psicóloga, onde ela definiu uma série de boas regras de tratamento utilizando o conceito das cinco liberdades do cavalo.

Antes que você pense em se revoltar, não estou comparando pessoas a cavalos e vice versa. Tomei a liberdade de usar o conceito da Doutora Mariângela pela beleza e suavidade como ela define que qualquer criatura que receba nossa ajuda para mudar seu comportamento, merece ter suas liberdades respeitadas.

Colocada esta ressalva, conheça as sete liberdades do Coachee segundo a filosofia do Método CARMA, clique aqui.

1 – Livre de desconforto.

Definir um ambiente seguro do ponto de vista físico e psicológico onde a pessoa a ser atendida esteja acolhida e protegida em sua fragilidade. Temperatura, água, comida, lenços e demais itens devem esta sempre à mão de forma que a pessoa sequer necessite solicitar. Iluminação e ruídos são fontes de desconforto. Quando criar um local de atendimento, não busque somente o mais bonito para colocar nas redes sociais. Busque algo onde a pessoa queira ficar por horas sem sentir-se aprisionada. Se suas sessões forem em locais públicos, evite locais de grande movimento. Dê preferência às boas livrarias, sempre haverá um lugar silencioso e confortável por perto. Esta liberdade inclui o direito de acesso ao corpo. O corpo do cliente (qualquer parte dele) somente poderá ser tocado com permissão explicita.

2 – Livre para mentir.

Nossos pequenos segredos fazem parte da nossa identidade e da forma como conhecemos o mundo. Pare e pense por um minuto: E se todos os seus segredos (feitos, falados e pensados) fossem repentinamente expostos? Muitas vezes, o Coachee demora algumas sessões para se sentir totalmente confortável a ponto de abrir seus sentimentos, histórias e verdades. Os bons profissionais de Coaching são capazes de reconhecer estes fatos através do processo de rapport, leitura de microsinais, mapeamento de olhos e demais técnicas de percepção subconsciente, logo, não é necessário forçar a verbalização do fato. Permita que, ainda que por pouco tempo, seu Coachee trabalhe com histórias recortadas, dados faltantes, de demais “lacunas da verdade” no tempo certo e com a confiança estabelecida ele tenderá a oferecer as informações faltantes. Esta permissão está inserida no comportamento máximo do Coach que é total suspensão de julgamento.

3 – Livre para decidir.

Eis aqui uma das violências mais cometidas por Coaches inexperientes ou inábeis. O processo de Coaching é antes de tudo uma prática auxiliar para a condução do cliente em uma determinada direção. Esta direção deve sempre ser decidida pelo cliente sem induções, direcionamentos ou sugestões. Um dos erros mais comuns é demonstrar ao Coachee os caminhos da escolha, utilizando uma linguagem indutiva do tipo:

“Você pode escolher mudar e ter sucesso, ou não mudar e ficar onde está”.

Neste caso, a indução é clara e sugere que ficar onde está é não ter sucesso. A decisão deve de todas as maneiras ser livre e para isto o profissional de Coaching deve usar ferramentas específicas como, por exemplo, o mapeamento do ecossistema social onde os impactos em toda a rede são avaliados ou mesmo, técnicas de PNL, como a usada para a definição de objetivos realistas onde o Coachee avalia o que ganha e o que perde com uma de suas decisões, sempre de maneira livre.

4 – Livre de carências.

O rapport excessivo ou o acolhimento incondicional geram um efeito complexo na relação entre o Coach e o Coachee. Pelo lado do cliente, em inúmeros casos ele está buscando ser ouvido na essência, ser acolhido em seus sentimentos, receber reforço positivo e ser aceito sem julgamentos. Tudo dentro da norma de conduta e da ética. Mas, esta relação pode acabar por criar uma dependência muito observada em consultórios de análise, onde o profissional acaba por tornar-se um ombro amigo do cliente. Pelo lado do profissional e novamente estou falando de profissionais despreparados, o fato de ajudar a pessoa a sentir-se melhor consigo mesma desencadeia uma sensação de dever cumprido no Coach que passa a repetir o papel do acolhimento alimentando um ciclo sem fim. Quanto mais eu apoio, de mais apoio a pessoa precisa. O profissional de Coaching deve antes de tudo preparar seu cliente para ser autônomo e livre da dependência de qualquer elemento externo, inclusive do próprio Coach.

5 – Livre de cobranças.

O ofício do Coaching requer que a cada sessão sejam realizadas tarefas de fixação de conceitos ou até mesmo de aprofundamento dos quesitos que foram abordados na sessão. Isto segue as normas do código de ética e das boas práticas. Contudo, a cobrança excessiva ou a responsabilização punitiva do cliente em caso de descumprimento da tarefa é considerada um ato de violência por colocar o cliente em uma posição defensiva. Preservar a liberdade do Coachee requer que todo o discurso sobre tarefas pendentes seja discutido no âmbito das consequências provocadas e à luz da terceira liberdade. O Coachee é livre para não realizar a tarefa, caso não perceba o valor que ela trará.

6 – Livre para mudar.

O plano de ir do ponto A ao ponto B pertence única e exclusivamente ao Coachee e assim sendo, ele poderá mudar o ponto B de lugar, tantas vezes quantas considerar necessária. Exercendo seu direito de não ser julgado em suas colocações, o Coachee poderá alterar suas expectativas e direcionamentos sempre que considerar válido, cabendo ao profissional de Coaching conduzir uma análise aprofundada de benefícios e malefícios que permitam ao seu cliente tomar a decisão com todas as informações disponíveis. O profissional de Coaching nunca deve penalizar o cliente por uma mudança de planos. A ferramenta de responsabilização pode ser utilizada no âmbito da consequência do ato, como por exemplo, retomar ações do início, investir mais tempo e assim por diante.

7 – Livre da exposição.

Coaching não é terapia de grupo. Muitos profissionais ao aplicarem técnicas de Group Coaching, em nome de promover uma maior integração com o grupo, vez por outra convidam participantes a compartilhar suas experiências com o grupo, gerando exposição constrangedora. Mesmo quando permitem que as pessoas somente se expressem “caso queiram” podem promover uma segregação daqueles que não o querem fazer. Em condições de trabalho de grupo, cabe a profissional de Coaching criar um ambiente que permita contribuições espontâneas, mas que de forma alguma, crie a obrigação social do compartilhamento. O corpo e a mente do Coachee são intocáveis e somente poderão ser acessados com permissão explícita.

Se você, meu leitor, é um profissional experiente, certamente irá encontrar situações onde estas liberdades foram preservadas e salvaram sua sessão e talvez, outras onde isto não aconteceu e as coisas ficaram fora do controle. Lembre-se sempre de que a relação Coach e Coachee é antes de tudo uma relação profissional e o cliente merece sentir-se livre, o tempo todo.

Boa sorte e bom trabalho!

Edson Carli Author
Edson Carli é especialista em comportamento humano, com extensa formação em diferentes áreas que abrangem ciências econômicas, marketing, finanças internacionais, antropologia e teologia. Com mais de quarenta anos de vida profissional, atuou como diretor executivo em grandes empresas do Brasil e do mundo, como IBM, KPMG e Grupo Cemex. Desde 2003 está à frente do Grupo Domo Participações onde comanda diferentes negócios nas áreas de consultoria, mídia e educação. Edson ainda atua como conselheiro na gestão de capital humano para diferentes fundos de investimentos em suas investidas. Autor de sete livros, sendo dois deles best sellers internacionais: “Autogestão de Carreira – Você no comando da sua vida”, “Coaching de Carreira – Criando o melhor profissional que se pode ser”, “CARMA – Career And Relationship Management”, “Nut’s Camp – Profissão, caminhos e outras escolhas”, “Inteligência comportamental – A nova fronteira da inteligência emocional”, “Gestão de mudanças aplicada a projetos” (principal literatura sobre o tema nos MBAs do Brasil) e “Shé-Su – Para não esquecer”. Atual CEO da Academia Brasileira de Inteligência comportamental e membro do conselho de administração do Grupo DOMOPAR. No mundo acadêmico coordenou programas de pós-graduação na Universidade Mackenzie, desenvolveu metodologias de behaviorismo junto ao MIT e atuou como professor convidado nas pós-graduações da PUC-RS, FGV, Descomplica e SENAC. Atual patrono do programa de desenvolvimento de carreiras da UNG.
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