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A dor de decidir!

Haveria soluções para as angústias de decidir? Como lidar com nossa falta de diretrizes para aquilo que é realmente importante? Como lidar com tudo aquilo que não sabemos, nossa ignorância sobre o mundo, afinal?

Se você tem perto da minha idade, entre dezessete e dezenove, você com certeza enfrentou uma decisão complicada – talvez a primeira de sua vida. Se passou na faculdade desejada, estressou-se com a escolha do meio de transporte e, quiçá, até com a mudança de casa. Se não passou, descabelou-se com a opção entre ir para uma segunda opção ou frequentar o temido cursinho. Mesmo com a dor, foi obrigado a escolher. Se decidir não fazer nada, já decidiu por algo. Não tem jeito. E, se você acha que escapou da angústia após sua decisão, sinto muito: a possibilidade de ter tomado o caminho errado ainda te assombrará por anos. Eis o que é o ser humano. Neste artigo, vamos tentar aliviar este fardo, ao investigar as razões para as decisões serem tão dolorosas e os possíveis caminhos para diminuir tal sofrimento.

Assim, qual seria a primeira razão para nossos dilemas doerem tanto? Ora, esta é a falta de razão envolvida nas nossas ponderações. “Cumã?” Calma, explico. Quando queremos, por exemplo, escolher uma faculdade, é de bom senso levar em consideração o nome no mercado, a distância, o preço e nossa afinidade com o curso. NÃO é interessante, no entanto, colocar na balança como você vai se exibir no Facebook ou nas festas de família pelo nome da sua faculdade. Contudo, veja só, ambas as considerações – a interessante e a não – acabam surgindo na nossa mente antes de tomarmos uma resolução.

De maneira mais geral, tomar decisões acaba por ser um embate entre nosso lado racional – que pondera o longo prazo – e o imediatista – que foca somente nos prazeres mais efêmeros. Ou seja, duas partes – a rápida e a devagar – de você mesmo se digladiam. Surge parte da angústia: aquela de não saber o que é importante ter em mente na hora de decidir.

Outra parte dela advém da falta da informação relevante para se tomar a decisão. Somos, no mínimo, ignorantes sobre nossas possibilidades. Como ilustração, pense no número de profissões existentes: hoje, no mundo pós revolução industrial, há algo em torno de 500 mil empregos, passando dos conhecidos “médico” e “bombeiro” para os enigmáticos “assistente de vendas sênior” e “empacotador júnior”. Dado essa abundância, parece impossível ter a informação suficiente – isto é, uma boa noção da maioria das profissões – para achar a melhor carreira. Com isso, é inevitável o sentimento que estamos dando um chute no escuro, o que agrava imensamente a nossa confusão interna.

Pior ainda, é para se dizer que, mesmo que soubéssemos todos os meandros das nossas possíveis escolhas, uma parte ainda se mantém inacessível: nossa experiência com elas. Sim, sim: você pode saber tudo sobre a carreira do médico, mas ainda não sentiu o cheiro do sangue; pode ter conversado com mil amigos após o divórcio, mas ainda não teve que ficar em casa sozinho. A experiência do viver só se tem vivendo e, mesmo assim, ela é essencial para estarmos satisfeitos com nossas decisões. Eis a segunda parte: somos ignorantes sobre muitas informações.

A solidão só é sentida de dentro.

Haveria soluções para as duas angústias de decidir? Tentarei prover aqui algumas sugestões das mesmas. Primeiramente, como lidar com nossa falta de diretrizes para aquilo que é realmente importante? Neste sentido, a Psicologia Positiva pode auxiliar.

Psicologia Positiva é um ramo que foca não na resolução das mazelas e problemas da psique humana – este é o dever da psicologia comum, patológica – ela, ao contrário, quer descobrir os fundamentos da felicidade humana, isto é, aquilo que realmente importa ^-^ Apesar de ser relativamente nova, já produziu alguns resultados interessantes. Os mais significativos foram condensados em uma pesquisa que durou mais de setenta e cinco anos, feita pela Universidade de Harvard. O objetivo era acompanhar o desenvolvimento de pessoas desde a adolescência até a velhice, buscando ver o que realmente as deixava feliz e saudáveis.

Apesar das pessoas acompanhadas terem tido vidas extremamente diferentes (um até virou presidente dos Estados Unidos!), todas aquelas que se diziam felizes tinham um denominador comum: possuíam bons e seguros relacionamentos pessoais. Estes permitiam uma saúde, tanto física quanto mental, mais elevada e, além disso, um nível de satisfação enorme com a vida. Ou seja, ter uma boa família e amigos, bem como um envolvimento com sua comunidade, é essencial para nós.

Levar isto – uma verdade científica comprovada por um experimento – em consideração nas nossas decisões pode nos tirar um pouco do peso delas. Afinal, você sabe o que importa, a partir de agora.*

Mas, que coisa, ainda ficamos com a outra parte da angústia! Como lidar com tudo aquilo que não sabemos, nossa ignorância sobre o mundo, afinal?  Esta resposta, como tantas outras, já foi dada a dois mil anos atrás: na Grécia Antiga, em um local chamado “Oráculo de Delfos”, onde se faziam previsões sobre o futuro dos homens, havia uma inscrição “Conhece-te a ti mesmo”. Ou seja, se conhecer a imensidão do Universo e suas possibilidades é uma tarefa árdua, impossível, por que não se virar para dentro? Isto significa estar consciente de nossas qualidades, defeitos e memórias. Quer-se especializar em algo? Faça na sua própria vida. É precisamente isso o ocorrido com Marcel Proust, autor de “Em Busca do Tempo Perdido”.

Marcel possuía asma, de forma que não podia sair por aí explorando o mundo. Apesar disso, tinha o sonho de ser escritor. Então, teve que, como uma lavadeira a torcer a roupa para retirar sua água, retirar o máximo da pouca experiência de vida que teve: sua viagem a uma praia, as poucas festas que frequentou e, acima de tudo, suas memórias. Com base nisso, ou seja, suas infinitas impressões nessas poucas situações e a própria memória, criou o romance mais longo que já se tem notícia. Marcel virou especialista na própria mente, naquilo que sentia e julgava.

Seguindo seu exemplo, podemos, ao tomar uma decisão, olhar não para fora ou para o lado, mas para dentro, buscando nossas preferências e reações mais íntimas. Isso nos fará, mesmo com a ignorância sobre o mundo, mais tranquilos após nossas decisões.

Ou seja, em última análise, para curar as mazelas de não saber o que é importante e, acima disso, ser ignorante sobre as circunstâncias do mundo, as quais nos levam a angústia e ao arrependimento, é importantíssimo ter um bom conhecimento da Psicologia Positiva e, acima disso, de nós mesmos. Assim, a dor de decidir pode ser um pouco aliviada. Mas só um pouco, ahahah…

* Se quiser saber mais, seguem alguns links interessantes sobre Psicologia Positiva:


Link original: https://www.youtube.com/watch?v=8KkKuTCFvzI


Link original: https://www.youtube.com/watch?v=apbSsILLh28

Bruno Sales Author
Bruno Sales é Estudante esforçado, entusiasta intelectual e conversador. Estudante de Economia, escritor amador e apreciador de Filosofia e Matemática. Sonha publicar o livro que vem trabalhando faz anos; a médio prazo, adquirir independência financeira e reconhecimento intelectual; a longo prazo, mudar o mundo.
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